Diretor entrega notas de pagamentos de R$ 8,8 mi a suposto operador

Dinheiro seria propina para manutenção de contratos na Petrobras, diz defesa.
Pagamento foi feito a empresário que teria ligações com diretoria da estatal.
Fernando Castro*
Do G1 PR
propinaPetrobras

 

 

 

 

 

 

 

Cópia de uma das notas apresentadas pelo dirigente da Galvão Engenharia como comprovante de pagamento de propina ao esquema de corrupção que atuava na Petrobras (Foto: Reprodução)
A defesa de Erton Medeiros Fonseca, diretor da Galvão Engenharia preso pela Operação Lava Jato, enviou à Polícia Federal (PF) nesta segunda-feira (24) comprovantes de pagamentos de R$ 8.863.000 referentes a uma suposta propina repassada pela construtora ao esquema de corrupção que atuava na Petrobras.
Segundo os advogados de Fonseca, os pagamentos foram feitos ao empresário Shinko Nakandakari – apontado pelo dirigente da Galvão Engenharia como operador da Diretoria de Serviços da Petrobras, à época comandada por Renato Duque –, para evitar que a empreiteira fosse prejudicada em contratos que mantinha com a estatal do petróleo.
O documento anexado ao processo da Lava Jato pela defesa de Fonseca mostra que a Galvão Engenharia efetuou 20 transferências para a LFSN Consultoria, nas contas de Luis Fernando Sendai Nakandakari e Juliana Sendai Nakandakari, sócios da empresa. Os repasses foram feitos entre 8 de janeiro de 2010 e 25 de junho de 2014.
À frente da defesa do diretor da Galvão Engenharia, o advogado Pedro Henrique Xavier disse ao G1 na última terça (18) que seu cliente admitiu aos delegados federais ter pago suborno para executar contratos com a petroleira. Na ocasião, Xavier não havia revelado para qual diretoria da Petrobras a propina era paga.

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No documento enviado nesta segunda-feira à Polícia Federal, os advogados voltam a ressaltar que Fonseca pagou propina sob a “efetiva ameaça de retaliação das contratações que a Galvão Engenharia S/A tinha com a Petrobras”.
Ainda de acordo com o criminalista, seu cliente afirmou durante depoimento à PF que o ex-deputado José Janene (PR), antigo líder da bancada do PP, afirmou que a Galvão Engenharia seria prejudicada em contratos firmados com a estatal caso não pagasse o suborno. Janene era um dos réus do processo do mensalão do PT no Supremo Tribunal Federal, porém, não chegou a ser condenado porque morreu em 2010, antes de o julgamento ser realizado.
Em nota enviada ao G1, a assessoria do Partido Progressista disse que o partido “não tem conhecimento oficial do teor dos depoimentos, mas está à disposição das autoridades para colaborar com as investigações.”
‘Grupo A’
Em outra petição encaminhada nesta segunda-feira à Polícia Federal, a defesa de Erton Fonseca reafirmou que a Galvão Engenharia não participou de “qualquer conluio, cartel ou combinação envolvendo procedimentos licitatórios da Petrobrás”.
De acordo com os advogados, a empreiteira chegou a integrar o chamado “grupo A”, que reunia empresas bem avaliadas em um ranking elaborado pela própria Petrobras para classificar suas fornecedoras de serviços de engenharia. Conforme o defensor, de uma hora para outra, a empresa deixou de receber, “sem motivo aparente”, cartas-convite de inúmeros processos licitatóriso para os quais estava apta e tecnicamente capacitada a enviar propostas”.
Entre 2006 e 2014, ressaltou a defesa, a Galvão Engenharia enviou mensagens e requerimentos à Petrobras solicitando sua inclusão nos processos licitatórios de obras da petroleira, já que “não havia razões técnicas para que fosse impedida de apresentar propostas”.
“Caso a Galvão Engenharia S/A integrasse qualquer esquema ou combinação nos processos licitatórios, não precisaria repetidamente requerer à Petrobrás que fosse convidada para participar dos certames mesmo estando tecnicamente habilitada para tanto, nem reforçar a todo tempo que possuía condições de realizar as obras em preço competitivo”, alega a defesa.
Acareação
A petição anexada nesta segunda-feira ao processo da Lava Jato destaca que o executivo da Galvão Engenharia aceita se submeter a uma acareação com o ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa e com o doleiro Alberto Youssef, ambos presos pela operação Lava Jato sob a acusação de integrarem a organização criminosa que tinha tentáculos na estatal. Os dois admitiram à Justiça que eram os operadores da suposta cota do PP no esquema de corrupção.
A defesa de Fonseca alega que o fato de o diretor da empreiteira se colocar à disposição da Justiça demonstra que ele foi “vítima” de crimes praticados pelos dirigentes da petroleira.
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Duque
Em depoimento prestado à PF, Renato Duque, que está preso preventivamente na Superintendência da PF em Curitiba, negou ter participado ou ter tido conhecimento de qualquer esquema de propina na Petrobras.
O ex-diretor também negou ter conhecimento de que Pedro Barusco, gerente da estatal subordinado a ele, tivesse recebido propina ou mesmo que mantivesse contas bancárias no exterior. Barusco assinou um acordo de delação premiada no qual se compromete a devolver cerca de US$ 100 milhões aos cofres públicos.
O G1 tentou contato com o advogado Alexandre Oliveira, que coordena a defesa de Renato Duque, mas ele não atendeu às ligações.
* Colaborou o G1, em Brasília

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