Em 2011, a deputada Celina Leão acusou o coronel Leão de fazer operação abafa para livrar Agnelo do impeachment

A deputada Celina Leão, em 2011 e ainda no PSD,  entregou em novembro daquele ano à Polícia Federal e ao Ministério Público Federal,  vídeos  que lançaram mais uma suspeita sobre o então governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz (PT). O petista foi alvo de um pedido de impeachment por envolvimento em escândalos de corrupção – uma das denúncias foi feita pelo lobista Daniel Tavares – que afirmou ter depositado 5 000 reais na conta de Agnelo a título de propina.

O pedido de impeachment foi arquivado rapidamente, mas a oposição prometeu insistir nele. As imagens reveladas por Celina Leão, à época líder da oposição a Agnelo, são provenientes do circuito interno da Câmara Legislativa do DF e mostravam o então chefe da Casa Militar do governador, o tenente-coronel Rogério da Silva Leão, entrando no gabinete do deputado petista Chico Vigilante.

Minutos depois, este mesmo deputado vai ao plenário mostrar um vídeo em que o lobista Daniel Tavares muda a versão que até então apresentava sobre a propina paga ao governador. Diz que os 5 000 reais pagos a Agnelo eram nada mais que um empréstimo. Daniel passou de acusador a aliado do governador. Para Celina Leão não restavam dúvidas: o auxiliar de Agnelo Queiroz teria levado ao deputado o vídeo que em seguida seria apresentado em plenário, como uma mal ajambrada prova de inocência do governador.

“Esse governo começa a cometer crimes para acobertar outros crimes”, afirmou a parlamentar. A deputada se dizia convicta de que o depoimento em vídeo de Daniel Tavares foi comprado e que integrantes do governo estavam envolvidos nisso. Para completar, Chico Vigilante cometeu um sugestivo “engano”. Antes de passar o vídeo, no dia 8 de novembro, Vigilante disse que o material tinha chegado até ele por um destinatário oculto, na tarde do dia anterior, uma segunda-feira. No vídeo de Daniel Tavares, no entanto, é possível ver uma reportagem publicada em um portal da internet às 19 horas de segunda-feira. Ou seja, o vídeo teria sido entregue antes mesmo de ser gravado.

A reportagem do site de VEJA assistiu a íntegra das imagens gravadas pelo circuito interno da Câmara Legislativa e constatou que ninguém entrou no gabinete de Chico Vigilante depois das 19 horas de segunda-feira. Na manhã seguinte, nenhuma movimentação atípica até que, por volta das 15h, aparece o tenente-coronel Silva Leão. Ele entra na sala sozinho, com uma sacola nas mãos, e sai depois de um rápido encontro com o deputado. Minutos depois, como se sabe, Vigilante vai ao plenário.

Proximidade – O coronel Leão é sobrinho de Arquicelso Bites Leão, petista que fora nomeado para a subsecretaria do Entorno no governo Agnelo.

Arquicelso, por sua vez, é padrinho de nascimento de Daniel Tavares, que vive na mesma cidade onde Arquicelso fez carreira política no PT e chegou a ser vereador: a goiana Valparaíso, na divisa com o Distrito Federal. Seria ele a ponte com o lobista.

Como se não bastasse, há o depoimento de outra parte ligada ao governador: João Dias, o policial militar cujas acusações derrubaram o ministro do Esporte, Orlando Silva, aponta o coronel como o elo entre o governo e a tentativa de cooptação de Daniel. Dias fala até em valores: 250 000 reais. “Coronel Leão, o Daniel continua cobrando o que, segundo ele, o senhor prometeu”, escreveu João Dias em seu blog, em uma mensagem posteriormente apagada.

Reação – O deputado Chico Vigilante negou que o coronel Leão fosse a fonte do vídeo. Mas admitiu a incongruência a respeito da data e do horário em que recebeu as imagens: “Eu posso ter me enganado. Isso é natural”, diz ele. O deputado, que se recusou a informar a origem das imagens, negou ter recebido qualquer material durante o encontro que teve com o chefe da Casa Militar. “O vídeo é autêntico. Chegou às minhas mãos e não foi o coronel Leão quem trouxe”, garantiu o petista.

Já o coronel admitiu ter visitado o deputado, mas diz que tratava de temas republicanos. Nada de vídeos: “De forma alguma. Isso não faz o menor sentido”, garantiu ele ao site de VEJA. Embora admita a relação pessoal de seu tio com Daniel Tavares, Leão diz nunca ter visto o acusador de Agnelo.

Em nota, o governo do Distrito Federal disse que a presença do coronel na Câmara Legislativa se deu porque ele discutia a reestruturação da Casa Militar. A visita foi, de acordo com a nota, “absolutamente rotineira”. O texto ainda atacava a deputada Celina Leão: “Tenta-se, mais uma vez, estabelecer uma farsa, uma versão contaminada por uma luta política desleal. A responsável pela divulgação de mais esta farsa criminosa vai ter que responder judicialmente por tais acusações”.

É mais uma história que envolve conhecido personagem do governo de Agnelo Queiroz, que não deixou saudades mas muitas dúvidas e perguntas ainda sem respostas.

 

 

 

Fonte: Donny Silva/Com informações de VEJA

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