INFELICIDADE GERAL, O MAL-ESTAR NA SOCIEDADE

A sociedade vive em mal-estar, conforme atestou Sigmund Freud em 1929. A reclamação constante, a fuga nas drogas lícitas e ilícitas, as incivilidades, a rebeldia sem causa e os atos antissociais, se mais ou menos acentuados, dão a medida do estado em que se encontra o corpo social.

O Brasil está doente. A maioria dos dirigentes, como pedras de dominó, vai caindo por cima do outro, desmoralizando a governança e a atividade política; parte dos empresários, que antes explicavam sua riqueza pelo empreendedorismo, é flagrada em conluio com os governantes, praticando corrupção, desvio de recursos públicos e lavagem de dinheiro; parcela da população perde os freios morais, agindo como desembestados.

Como o marido que é flagrado traindo a esposa e se faz de doido, correndo com um pau de vassoura na mão, a sociedade finge não acreditar no que está vendo.

– Que horror! -, reclama o usuário de drogas ao assistir pela televisão o tiroteio entre organizações criminosas na Favela da Rocinha, chamada de comunidade pelos politicamente corretos para alterar a realidade pelas palavras, quando não se fez nada pela ação.

O fingimento, a desfaçatez e a hipocrisia dominam o cenário obscuro da realidade brasileira. Parecemos prostitutas que se proclamam virgens e casam na igreja de véu e grinalda.

As autoridades sabiam que o traficante “Nem” tinha dado a ordem para seus comandados invadirem a Rocinha, mas permitiram a invasão e o confronto para desviar a atenção do País do terremoto de corrupção que atingiu o Rio de Janeiro em escala muito maior que o do México. Quem não viu os soldados da Polícia Militar olhando tranquilamente para os bandidos armados, os quais, sabendo do acordo, deram as costas para a PM e subiram o morro assobiando?

“Ninguém rouba neste País, tudo não passa de uma conspiração de policiais, delegados, promotores e juízes para desmoralizar a classe política e viabilizar um golpe militar”, dizem os enganadores da boa-fé alheia.

Enquanto isso, apartamentos abarrotados de notas de R$ 100 esperam as próximas eleições para que os mesmos de sempre comprem as consciências do eleitorado. E quem se vende ainda tem a petulância de falar mal de quem o comprou.

O mal-estar reside em não poder fazer tudo que der na “telha”, como se dizia em tempos de antanho: o homem não poder agarrar a mulher “gostosa” sem o consentimento dela, o feio não se achar bonito, o pobre querer ser rico e este mais rico ainda, o desentoado querer brilhar nos palcos e o perna de pau desejar ser um Pelé, entre outros sentimentos que denotam inveja, egoísmo e cobiça. O resultado é a infelicidade geral, traduzida em drogas e violência.

 

Miguel Lucena é Delegado de Polícia Civil do DF, jornalista e poeta.

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