Ministério da Educação tem contrato questionado junto ao TCU

Pregão que escolheu empresa para organizar conferência no DF estaria repleto de irregularidades

Ludmila Rocha
ludmila.rocha@jornaldebrasilia.com.br

A Conferência Nacional de Educação (Conae) 2014 terminou no último domingo, depois de uma série de problemas. Além das reclamações dos participantes sobre a falta de organização, o  Sindicato das Empresas de Promoção, Organização, Produção e Montagem de Feiras, Congressos e Eventos (Sindeventos-DF) fez um pedido de Medida Cautelar ao Tribunal de Contas da União (TCU), solicitando a inibição do contrato firmado com a empresa escolhida para promover o evento, em virtude de irregularidades no   pregão eletrônico.

O Conae reuniu gestores educacionais do Brasil e do exterior para discutir propostas para o setor. O Aditamento à Representação, encaminhado ao  TCU em 1º setembro, visava “exigir a comprovação da exequibilidade dos preços apresentados nas propostas das empresas vencedoras do pregão e a possibilidade de jogo de planilhas”.

Segundo o documento, na proposta da Una Marketing de Eventos Ltda, “muitos são os preços abaixo do valor de mercado. Apesar disso, não houve por parte do pregoeiro e sua equipe quaisquer diligências para que a empresa comprovasse os preços ofertados”.

Mesmo após a representação,  o Portal da Transparência informa que o MEC fechou contrato com a Una.

Preço

Em agosto último, publicação do JBr. mencionou o baixo valor oferecido pela empresa para acomodação de dez pessoas, com café da manhã, almoço e jantar (R$ 450), preço que, segundo especialistas, seria impraticável. Na mesma planilha, o valor da diária de um designer gráfico era de R$ 60, muito abaixo do cobrado pelos serviços de uma copeira, R$ 100.

Um empresário, que preferiu não se identificar, foi um dos  prejudicados com o processo. De acordo com ele, a empresa escolhida não possuía o capital mínimo exigido para participar da licitação.  “O pregão pedia 10% do capital social  do valor da contratação. Muitas  empresas que não atendiam esse requisito deixaram de participar”, diz.

Segundo o empresário, mesmo sabendo que a Una não atendia a essa exigência, o MEC  fez uma manobra para poder encaixá-la no pregão.  “Eles permitiram que ela adquirisse apenas um lote, pois, para aquele lote, ela tinha capital suficiente. Se houvesse essa possibilidade descrita no edital,   muitas outras empresas teriam participado”, alega.  “Para piorar, quando eles chamaram a empresa, sabiam que ela não tinha experiência em grandes eventos, era uma tragédia anunciada”, completa.

De acordo com o empresário, a prova de que a empresa não possuía capacidade financeira é o fato de o MEC ter antecipado dinheiro:  R$ 2,3 milhões,   10% do valor do contrato anual.

“Para se ter uma ideia, só com esse evento a empresa faturou mais do que em todo o ano passado”, assegura.

Participantes relatam transtornos

Na última quinta-feira, o JBr. mostrou que participantes   da Conferência Nacional de Educação (Conae) passaram horas com a bagagem na rua por falta de hospedagem. Isso porque a organização do evento não teria feito as reservas.

O gestor educacional Jeferson dos Santos, 40, da delegação do Maranhão, denuncia que os problemas   começaram cedo. “Chegamos ao aeroporto às 7h30 e esperamos quase uma hora pelo ônibus que nos levaria até o hotel. Não bastasse o atraso, só fomos informados sobre o hotel no qual ficaríamos hospedados às 14h30”, conta.

Segundo Santos, também faltavam informações e o sinal da internet, dentro do Centro de Convenções, estava ruim. O pior para Jeferson, no entanto, foi a cobrança de uma entrada, assim que a delegação chegou ao hotel.  “Queriam que deixássemos R$ 100 ou um sinal no cartão. Achei um absurdo, já que o MEC garantiu que arcaria com todas as despesas referentes a passagens e hospedagens”, afirma.

O estudante de pedagogia  Valmir Santos,  27, confirma as reclamações: “Não existe evento perfeito, mas a recepção das delegações   foi   desorganizada. Fomos alocados em um hotel muito ruim. Nós nos sentamos no hall  do Cicb e ficamos lá das 7h até o fim da tarde em protesto. Depois disso,   nos colocaram em um muito bom, mas   em Águas Claras, distante do evento”.

Desenvolvimento da educação
No site oficial, a Conferência Nacional de Educação (Conae) é descrita como um espaço democrático aberto pelo poder público e articulado com a sociedade para que todos possam participar do desenvolvimento da educação nacional. O tema foi O PNE na Articulação do Sistema Nacional de Educação: Participação Popular, Cooperação Federativa e Regime de Colaboração.
Sobrou para o participante
A secretária de Políticas Sociais  Cícera Vieira Costa, da delegação do Ceará, acredita que é impossível promover um evento deste porte sem problemas de execução, mas confirma a desorganização na abertura. “O Ministério da Educação coloca a culpa na empresa contratada para realizar a conferência, e ela, por sua vez, no Ministério. Fica um jogo de empurra”, reclama.
Depois de ouvir esta e outras reclamações, a reportagem tentou contato telefônico com representantes da Una, mas não obteve retorno.  O Ministério da Educação (MEC), por sua vez, disse que a representação sobre o Pregão Eletrônico  21/ 2014, apresentada ao TCU, foi devidamente respondida pelo ministério e, após a análise, arquivada pelo Tribunal, conforme Acórdão  895/2014 – Plenário. “O Ministério da Educação não tem conhecimento de qualquer aditamento à mencionada representação”, afirma.
Sobre a Conae, a pasta informou que “todas as atividades planejadas foram realizadas com sucesso. Em um evento de tal dimensão é esperado que ocorram problemas pontuais, os quais foram prontamente solucionados pela coordenação do evento”.
Embora ainda apure o caso, o  Tribunal de Contas da União informou que o pedido de medida cautelar  foi indeferido em virtude da ausência de pressupostos para sua concessão. “O sindicato impetrou recurso contra a decisão, ainda pendente de julgamento pelo TCU”, declarou.
Tribunal segue apurando denúncia
O Tribunal de Contas da União informou entender não estar “explícita no edital a necessidade de comprovação de patrimônio com base  no valor total de contratação, bem como não consta no edital cláusula a fim de assegurar que somente seriam adjudicados lotes a uma mesma empresa”, explica.
O TCU  confirma, porém, que determinou a realização de diligência junto ao Ministério da Educação para que, no prazo de 15 dias, informe sobre os serviços executados e os fundamentos para pagamento antecipado de R$ 1,9 milhão, em 15 de outubro, para locação do espaço onde seria realizada a conferência”.
Segundo o órgão, a solicitação de informações foi baseada nas leis 8.666/1993, 4.320/1964 e  no Decreto 93.872/1986, dispositivos que vedam a antecipação de pagamento sem a correspondente contraprestação de serviços.
“O processo não está encerrado. A análise das informações enviadas pelo MEC ocorrerá em processo de monitoramento, ainda não autuado”, frisa.
Saiba mais
O empresário ouvido pelo JBr. afirma que o Tribunal de Contas da União (TCU) demorou a se pronunciar sobre o caso, mas depois   notificou o MEC a explicar o motivo da antecipação do dinheiro. O prazo é de  15 dias.
A Conae começou na última sexta-feira e acabou no domingo. O evento foi promovido no Centro Internacional  de Convenções do Brasil (Cicb), Setor de Clubes Sul, e reuniu mais de quatro mil gestores  do Brasil e do exterior.
Mais informações sobre a conferência podem ser encontradas no site   conae2014.mec.gov.br.

Fonte:  Jornal de Brasília

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