Virais nas redes sociais propagam auto exploração, consumismo, narcisismo e produtividade tóxica, principalmente entre mulheres da geração Z
Como os virais do TikTok podem te influenciar? Pesquisa realizada por Bruna Moreira, publicitária pelo Centro Universitário de Brasília (CEUB), revela efeitos tóxicos dos vídeos que promovem tendências de consumo entre jovens mulheres na plataforma digital. A partir das hashtags #thatgirl, #cleangirl e #vanillagirl, o estudo aponta que esses conteúdos promovem valores neoliberais e podem criar uma sensação de validação inalcançável, incentivando o consumo excessivo na tentativa de se encaixar no conceito de vida “perfeita”.
A mostra, de origem qualitativa, aplicou o método da Análise de Conteúdo a oito vídeos com as hashtags dos conceitos de consumo, estando fortemente alinhados aos princípios neoliberais, como auto exploração, consumismo, narcisismo e empreendedorismo pessoal. “Essas tendências virais intensificam o comportamento de consumir como forma de expressar identidade e buscar validação social”, afirma Bruna.
Como usuária da rede social, a publicitária afirma que a motivação para realizar a pesquisa partiu da auto-observação. Segundo ela, desde o início da sua graduação, já pensava em estudar as raízes do consumo performático, mas tinha dúvidas sobre como esse tema seria relevante dentro da publicidade. “Percebi que a temática está muito em alta, especialmente entre influenciadoras que seguem padrões padronizados como ‘That Girl’, ‘Clean Girl’ e outros. Até que comecei a questionar o impacto dessas tendências em nós, mulheres da geração Z.”
Efeitos dos virais
De acordo com o estudo do curso de Publicidade e Propaganda do CEUB, os conteúdos de tendências virais no TikTok transmitem um discurso que se apoia nos ideais do neoliberalismo, sendo extremamente problemáticos e prejudiciais para a população. A análise aponta ainda que o objetivo é sempre fazer as pessoas comprarem mais, sobretudo a geração Z, em especial as mulheres, que enxergam o consumo como forma de expressar identidade e pertencimento.
Os resultados também revelam que as jovens mulheres que consomem esse tipo de conteúdo têm uma disposição significativamente alta a comprar os produtos associados a tendências para incorporar alguma estética ou estilo de vida. “O fenômeno é potencializado pela aura de autenticidade e sucesso pessoal que é atribuída aos vídeos, estimulando um desejo de pertencimento que se traduz em práticas consumistas”, aponta a publicitária.
A pesquisadora alerta que as redes sociais nunca refletem a vida real, sendo aspiracional e inatingível, o que pode causar problemas financeiros, de saúde mental, de identidade e gerar impacto de gênero e geração. Para a graduada no CEUB, a relação entre comunicação, publicidade e ciências políticas e sociais demonstra como essas tendências no TikTok moldam os hábitos de consumo das mulheres da geração Z: ““Eu quis mostrar que podemos e devemos ser publicitários mais conscientes e levar em consideração o impacto que o nosso trabalho tem na vida das pessoas.”
A principal contribuição do estudo, de acordo com a pesquisadora, é a demonstração de que as tendências virais nas redes sociais não são tão inocentes quanto parecem. “Essas trends vêm e passam tão rápido que parecem inofensivas, mas o conceito de escolha sobre ser afetado por elas não existe”, explica. “Por trás desse conteúdo, existe uma cultura de consumo deturpada e não saudável que precisa ser discutida”, arremata a autora.