Por Kaumer Nascimento*
O PSDB (Partido da Social Democracia Brasileira), representante tradicional da centro-direita, esvaziou-se em sua representatividade política e derreteu nas últimas eleições municipais. O ano de 2025 se inicia com este sendo cotado para ser unido (políticos falam até em absorvido) a outros partidos.
Em 2014, quase elegeu Aécio Neves presidente da república em disputa contra Dilma Rousseff e, após o movimento de impeachment, o início da queda de representatividade se instalou.
Os tucanos sempre estiveram como grupo antagônico ao PT (Partido dos Trabalhadores), porém, perderam este espaço com o surgimento do bolsonarismo, fusão do DEM (Democratas) e PSL (Partido Social Liberal) em União Brasil e a consolidação da população mais à direita.
A possibilidade de fusão do PSDB com o PSD (Partido Social Democrático), abre em Goiás uma discussão significativa sobre os impactos que essa união política pode ter no cenário estadual. Com o ex-governador, Marconi Perillo, à frente do PSDB e o PSD integrado à base do governador, Ronaldo Caiado, a união de dois partidos que atualmente ocupam polos antagônicos no Estado representa um movimento que transcende a política partidária tradicional.
Contradições e desafios
Uma eventual fusão entre PSDB e PSD coloca em evidência a convivência de figuras que estão em confronto direto. Marconi Perillo, uma das principais lideranças do PSDB e ex-governador de Goiás, está em antagonismo com Ronaldo Caiado, atual governador e uma figura central no PSD. Essa união das siglas levanta hipóteses sobre o que aconteceria com essas lideranças tão diferentes em um momento de confluência.
A não entrada do ex-governador, Marconi Perillo, na nova legenda pode ampliar ainda mais o isolamento político que este vem apresentando na política goiana. Outro fator que adiciona complexidade à possível fusão é a posição do senador, Vanderlan Cardoso, presidente estadual do PSD em Goiás. Cardoso tem se mantido próximo ao atual governador desde o segundo turno das eleições para prefeito de Goiânia, consolidando sua influência na base governista.
A aproximação de Marconi Perillo e o PSDB, que têm histórico de oposição ao atual governo, pode gerar tensões e prejudicar essa parceria recém-instaurada dentro do PSD. Esse conflito interno pode minar a harmonia necessária para uma fusão bem-sucedida.
O PSD, em Goiás, possui, hoje, dois mandatos federais: um de senador e outro de deputado federal, enquanto o PSDB, nenhum. Estes mandatos também dão o tom de que a fusão tenha mais domínio dos atuais mandatários do PSD em relação aos políticos do PSDB, que no momento não possuem cargos federais.
Implicações eleitorais
A fusão pode gerar novos alinhamentos no tabuleiro eleitoral de Goiás. Para o PSD, incorporar o PSDB significaria ampliar sua base, mas, também, assumir o legado político e as críticas que acompanham Marconi Perillo. Para os tucanos, pode ser uma saída para a sobrevivência política em um cenário adverso, mas às custas de abrir mão de autonomia.
A união também pode ser interpretada como um reflexo das mudanças na dinâmica política brasileira, onde a busca por alianças pragmáticas supera, muitas vezes, a manutenção de princípios ideológicos claros. No entanto, a força dessa aliança dependerá da habilidade das lideranças em lidar com as contradições e em apresentar uma agenda que consiga unificar os interesses de seus integrantes.
Já para os eleitores, essa fusão pode ser interpretada de maneiras distintas. Uma parte pode ver com bons olhos a união como um movimento de superação de rivalidades em prol de um projeto mais amplo. No entanto, há o risco de alienar eleitores mais fiéis que não se identificam com a ideia de apoiar adversários históricos.
Mas, e o desgaste de Marconi Perillo, pode contaminar outro partido? Essa é uma situação que pode minar futuras ações e candidaturas que agora se ligam ao ex-governador. Criar possíveis danos à imagem do PSD, gerando desgastes que não haviam ligação a legenda.
O fato é que a absorção do PSDB pelo PSD, se concretizada, será um evento marcante na política, com implicações que vão desde as dinâmicas internas dos partidos até os desdobramentos eleitorais e ideológicos. Essa união reflete um cenário em que a prática política frequentemente deixa de lado antigas rivalidades para abraçar o pragmatismo. A grande questão será como os protagonistas dessa fusão conseguirão lidar com as inevitáveis contradições e se serão capazes de apresentar uma agenda que justifique, aos olhos do eleitor, a existência dessa nova configuração partidária.
*Kaumer Nascimento é especialista político e sócio-diretor da Santa Dica, empresa de consultoria e pesquisa localizada em Goiânia.