A escalada de violência contra a mulher no DF

A Secretaria de Segurança Pública do DF (SSP-DF) anunciou que foram registrados 120 estupros entre o 1º o 59º dia de 2014 no Distrito Federal. A informação mais chocante: as vítimas têm medo ou vergonha de denunciar os agressores e por isso as estatísticas oficiais estarão sempre defasadas.

As respostas fáceis que são oferecidas para explicar ao fenômeno da violência contra a mulher no Brasil não contemplam o óbvio: as mulheres vítimas de violência costumam tolerar seus agressores – por medo ou vergonha. É a triste realidade de muitas mulheres do Distrito Federal.

As conquistas femininas mais importantes – do mercado de trabalho, da autonomia financeira, e da capacidade de sustentar a família – são solapadas pela dependência emocional e psicológica que incontáveis mulheres desenvolvem por seus parceiros.

O quadro terrível de abusos cometidos mulher no Distrito Federal não mudará enquanto a sociedade civil não sinalizar, claramente, que está ao lado das vítimas da violência e o governo local demonstrar que é capaz de proteger as denunciantes.

O recente estudo divulgado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), em 27 de março, revela que mais da metade dos 3.810 entrevistados culpabilizam mulheres por casos de estupro, em razão da vestimenta e da forma de se comportar.

É claro que existe uma cultura anti-estupro no Brasil. Os casos de estupradores “justiçados” nos rincões do País são significativos. E todos sabemos que abusadores precisam ser mantidos em celas separadas nas prisões para que suas vidas sejam preservadas.

A sociologia apressada desfila acusações nos jornais contra abstrações como “sociedade patriarcal” e “cultura machista”, ignorando olimpicamente fatos que dizem o oposto como, por exemplo, o fato de que os brasileiros elegeram uma mulher para presidir o País.

O fenômeno da violência contra a mulher pode ser mais bem entendido em sua dimensão cotidiana, um ângulo geralmente ignorado por quem está interessado em slogans fáceis.

A mulher comum está sozinha – a comunidade acha que “em briga entre marido e mulher, ninguém mete a colher”. E quando decide retomar o controle da própria vida e denunciar seu agressor, que pode ser o marido ou o filho, enfrenta um martírio de situações vexatórias.

A culpa não é da vítima, todos sabemos. Mas nem sempre as instituições e comunidades são rápidas, eficientes e generosas no acolhimento da vítima. E isso raramente é lembrado.

Segundo as estatísticas, Ceilândia é a região administrativa campeã em ocorrências de violência contra a mulher. Em Ceilândia a presença do Estado é mínima ou, melhor, ineficiente no sentido de prover segurança, saúde e estrutura básica para as famílias que lá vivem.

Não por acaso, Ceilândia é uma das regiões que apresenta maior escassez de vagas de creches no Distrito Federal, segundo dados do próprio Governo do Distrito Federal. As mulheres de Ceilândia têm seus planos de autonomia sabotados pela ineficiência do Estado.

A falta de creches nas regiões administrativas onde as mulheres acima de 24 são a maioria – Brazlândia, Ceilândia, Cruzeiro, Gama, Guará, Núcleo Bandeirante – representa uma outra forma de violência contra a mulher do Distrito Federal.

Os jornais estão recheados de frases de autoridades “perplexas” com dados da pesquisa do Ipea. Para além das frases de efeito, o que se espera agora é que as autoridades transformem perplexidade em ação e coloquem para funcionar a estrutura de apoio às vítimas.

Não é hora de terceirizar a culpa e jogar com abstrações como “patriarcalismo”. Os governos e comunidades precisam estender a mão para as mulheres que buscam cuidar de suas famílias, assumir seu lugar no mercado de trabalho e oferecer um ninho de amor aos seus filhos.