A ILUSÃO DOS PALANQUES

Deu no Correio Braziliense

A ilusão dos palanques

De Marcos Coimbra, sociólogo e presidente do Instituto Vox Populi:

Volta à tona, neste início de ano político, uma noção que andou nos perseguindo ao longo do ano passado. Nem bem terminou o carnaval, o noticiário se concentra, de novo, na discussão dos “palanques” dos candidatos a presidente nas eleições deste ano.

Esse talvez seja um dos temas que mais separam os jornalistas dos profissionais de pesquisa na avaliação do processo eleitoral no Brasil.

Entre os primeiros, muitos tendem a ficar como que galvanizados por eles. Não conseguem escrever uma linha sem os mencionar. Os segundos, de maneira geral, acham que não mudam nada nas eleições.

Supostamente, bons palanques se traduziriam em votos. Ou seja: quando um candidato a presidente tem muita gente no seu palanque, suas chances de vencer aumentariam. Como na frase: “Voto em fulano porque beltrano está em seu palanque”.

Jornalistas costumam conversar com políticos, enquanto os pesquisadores são treinados para ouvir os eleitores. Talvez venha daí a diferença que há na percepção de uns e outros sobre a relevância dos palanques. Quem ouve os políticos os valoriza. Quem escuta o povo, o inverso.

Políticos defendem a importância dos palanques porque assim se tornam necessários. Não seriam eles, os maiores interessados, que diriam que seu impacto nas eleições é imperceptível. Seus amigos jornalistas, de tanto ouvi-los, acabam por compartilhar a opinião que têm.

Quem procura entender o que pensam os eleitores fica com outra impressão. Nas pesquisas, toda vez que se pergunta às pessoas que critérios usam para escolher um candidato, aparecem muitos, mas só de vez em quando a resposta “os políticos que o apoiam”. Estar ou não acompanhado por “lideranças” é, para a grande maioria dos eleitores, algo secundário.

Seria mesmo extraordinário se o oposto fosse verdade. Se os eleitores, como regra, não confiam e não acreditam nos políticos, por qual razão se impressionariam ao vê-los no palanque de alguém?

E será que nasceram ontem e não sabem que eles mudam de palanque ao sabor das conveniências e da posição dos concorrentes nas pesquisas? Que quem está com o PT hoje pode ter estado com os tucanos ontem? E vice-versa?

Nas cinco eleições presidenciais que fizemos desde a redemocratização, os palanques não tiveram papel apreciável em nenhuma. Quem ganhou, não precisou deles. Em pelo menos um caso, só atrapalharam.

Foi com Collor. Sua subida nas pesquisas nada teve a ver com palanques, sendo muito mais explicada por sua ausência. Os eleitores queriam alguém desvinculado da “política tradicional”, atributo que Collor perdeu quando, em função do favoritismo que alcançou, passou a ser procurado por quase todo o establishment político. Seus integrantes é que queriam subir no palanque do candidato.

Nas duas eleições que disputou, Fernando Henrique não precisou deles. Quem tinha um míssil como o Plano Real podia, aliás, ignorar quase tudo que há de convencional em uma campanha. Ele foi apenas gentil quando subiu em alguns, por ser um homem bem educado e para não frustrar seus correligionários, que davam tudo para sair nas fotos com ele.

E Lula? Seus palanques, em 2002, eram limitados quase que somente a seus velhos companheiros de PT e dos partidos tradicionalmente aliados, com um ou outro acréscimo. Se dependesse deles, Lula continuaria candidato até hoje, sem nunca ter chegado à Presidência.

Em 2006, a reeleição passou longe de qualquer palanque. Como tudo na vida tem uma primeira vez, pode ser que, finalmente, os palanques desempenhem algum papel nas eleições de 2010. Parece pouco provável, no entanto, se prestarmos atenção na opinião dos eleitores.

Quem quiser comprar gato por lebre e achar que faz um grande negócio montando palanques, apenas joga dinheiro fora.

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