A política em Alagoas costuma ser repleta de histórias surreais, dignas de roteiros de Hollywood, com ingredientes picantes, tais como sexo, dinheiro, traições, articulações, tráfego de influência e muito poder
Em mais um capítulo, o poder político alagoano revela nos bastidores que Luiz Romero Farias, irmão do empresário Paulo César Farias (mais conhecido como PC Farias, assassinado em junho de 1996 ao lado da namorada) está cotado para ser o próximo presidente do Hospital Veredas em Maceió.
Luiz Romero Farias é médico e rico empresário em Maceió, dono da concessionária Fiat na cidade, a Blumare. Ex-ministro da Saúde no governo Collor, ele assumiu a Secretaria de Saúde de Maceió em abril deste ano sob aplausos do prefeito da cidade, JHC (PL), aliado do deputado federal Arthur Lira (PP-AL).
Romero Farias é sócio de Marcelo José Martins Santos Silva, mais conhecido em Maceió como “Cabeção” e “Marcelinho”, preso na Operação Tarturana, deflagrada em dezembro de 2007, suspeito de ser operador de Arthur Lira, quando este era deputado estadual.
Em fevereiro de 2008, a Polícia Federal (PF) informou que o empresário Marcelo José Martins Santos Filho era apontado como um dos cabeças da organização criminosa que desviava dinheiro da Assembleia Legislativa de Alagoas. Considerado pela PF como um dos homens mais ricos do estado de Alagoas, Marcelinho era dono de pelo menos três concessionárias de automóveis, postos de combustível e de uma factoring. Ele foi preso pela PF em 2007 e posteriormente indiciado por ser o responsável por transformar o dinheiro público desviado em bens através da compra de carros de luxo e imóveis para os parlamentares, escondendo a origem fraudulenta dos recursos.
Gravações feitas pela PF revelaram que o empresário Marcelo José Martins Santos Filho, o Marcelinho, sócio de várias concessionárias em Maceió, falou com o então deputado estadual Nelito Gomes de Barros (PMN) sobre possível acerto com Albuquerque para a compra de três Ford Fusion -que, segundo a investigação, seriam pagos com dinheiro da Assembléia. À época, cada unidade do carro custava em torno de R$ 80 mil. Marcelinho, segundo a PF, estava no topo da organização criminosa -junto com os deputados da Mesa Diretora.
O Fusion de Barros estava entre os carros e caminhonetes de luxo apreendidos por determinação da Justiça Federal e que estavam amontoados no pátio da Polícia Federal em Maceió.
Em setembro de 2008, a Polícia Federal indiciou 110 pessoas em Alagoas, na Operação Taturana, e pediu o confisco dos bens dos suspeitos no desvio de cerca de R$ 300 milhões dos cofres da Assembleia Legislativa do estado. Entre os indiciados, 15 deputados estaduais, 11 ex-deputados e dois prefeitos e empresários que lavavam os recursos desviados. Marcelinho apareceu nas investigações da PF como o principal operador dos recursos desviados.
Também foram indiciados 30 funcionários da Assembleia Legislativa, assessores, servidores “laranjas”, funcionários “fantasmas”, seis bancários, três secretários municipais e até o conselheiro do Tribunal de Contas de Alagoas, Cícero Amélio.
Na fundamentação da decisão judicial do primeiro processo que condenou réus do caso “Taturana” , os magistrados consideraram “as condutas como graves, não apenas pelo modus operandi, mas também pelo cargo ocupado pelos réus”.
Na ocasião, ao citar trechos do livro “Vidas Secas” do romancista alagoano Graciliano Ramos, os magistrados expuseram que “Governo, coisa distante e perfeita, não podia errar” e que atos como estes, “o governo não devia consentir”.
O padrinho da indicação do empresário Luiz Romero Farias para a Secretaria de Saúde de Maceió é o deputado Alfredo Gaspar. Entretanto, quem o convenceu a assumir a pasta foi o deputado Arthur Lira, que deseja muito ver o amigo no comando do Hospital Veredas em Maceió.
O prefeito de Maceió, João Henrique Caldas (PL), o JHC, sonha derrubar o MDB e os Calheiros em 2026, e acha que o ingresso de Farias é importante chave para conseguir êxito na disputa ao governo do estado. Mas não está sendo tarefa fácil.
O fato é que JHC parece ter cedido ao encanto da sereia e corre o sério risco de perder até mesmo a reeleição no próximo ano, quanto mais uma disputa ao governo de Alagoas em 26.
Na política, às vezes é preciso olhar atentamente no espelho e no retrovisor para dar o próximo passo. E no caso de Maceió, é preciso prestar atenção nos movimentos dos amigos dos amigos que estão no poder.