Neste domingo, o Jornal de Brasília publicou longa entrevista com o deputado distrital Benedito Domingos (PP). Confira:
À espera da absolvição l Benedito Domingos diz que vai provar inocência e afirma sofrer linchamento da imprensa
Giovanni Carrigan Especial para o Jornal de Brasília
Às vésperas de completar 77 anos, o deputado distrital Benedito Domingos é um homem machucado, mas confiante. As denúncias de que participaria de um suposto esquema para fraudar licitações em administrações regionais o deixaram decepcionado, mas não foram suficientes para abalar seu ânimo. Provar a inocência a seus colegas na Câmara Legislativa será mais um desafio em sua carreia política de 40 anos, que tem como pontos altos a participação ativa na eleição de Tancredo Neves e a presença na Mesa Diretora da Câmara dos Deputados durante a presidência de Luiz Eduardo Magalhães, época em que conquistou seus dois mandatos de deputado federal. Secretário do GDF em duas oportunidades, vice-go- vernador de 1999 a 2002 e duas vezes administrador de Taguatinga, o distrital fala sobre como como tem sido sofrido o processo de se defender de acusações que ele classifica como “descabidas”.
DENÚNCIAS
Eu sou inocente. O processo não diz respeito a mim, mas a 23 Administrações Regionais.
Alguém denunciou ter havido um suposto acordo para beneficiar as empresas que ganharam as licita- ções. Como entre estas empresas está a do meu filho, vincularam meu nome como se eu tivesse feito alguma pressão política, o que não é verdadeiro. E para atestar isso há um fato das próprias investigações: de 66 pessoas ouvidas, nenhuma disse ter recebido qualquer pressão ou ligação minha para beneficiar meu filho.
Neste caso todo, respondo apenas pela administração de Tagua- tinga. Falaram que eu tinha desviado R$ 1 milhão, que participei de uma quadrilha. Mas a verdade é a seguinte: como Vicente Pires estava ligado a Taguatinga e recebeu uma verba de R$ 15 mil, este serviço foi feito por Taguatinga. Além disso, eu gastei R$ 49.950 com a ornamentação da Praça do Relógio.
PROCESSO ILÓGICO
Esse processo tenta vincular a minha família, como se eu tivesse usado algum prestígio político junto ao governador. Uma coisa sem sentido. Primeiro, pelos valores.
Cada administração recebeu en- tre R$ 15 mil e R$ 50 mil. Depois, há outros fatos. Foi tudo tão ilógico que chegaram a pegar uma foto, numa busca e apreensão, de um almoço aqui em casa em que estava presente o ex-governador Arruda, com as- sessores e secretários, dizendo que ele veio aqui para combinar a liberação deste dinheiro. É algo completamente descabido.
Eu posso responder por Taguatinga e ainda provo que minha gestão foi correta, pois tenho certidão do TCDF (Tribunal de Contas do DF)
atestando que nada irregular houve nos anos de 2007 e 2008.
VERBA
O governador é soberano em seus atos. Ele fez um decreto, des- centralizou esta verba de R$ 1 mi- lhão para as administrações, o secretário de Governo (José Humberto Pires) deu a notícia aos administradores e eu, na hora, disse o seguinte: “Zé, Ta- guatinga agradece, mas não vai receber este dinheiro porque nós já temos orçamento, já pedi des- contingenciamento e já tomei pro- vidência para fazer a licitação da decoração de Taguatinga”. A cidade não se beneficiou desta verba.
LICITAÇÃO
Somando tudo o que a empresa do meu filho ganhou, dá um total de R$ 619 mil, nas 17 administrações em que ele ganhou a concorrência e fez o serviço. Em Taguatinga, ele teve pre- juízo. Mas ele queria fazer algo bonito para a cidade em que nas- ceu e vive. A firma dele tem 18 anos atuando no ramo, fazendo serviços para o governo e a ini- ciativa privada, atendendo empre- sas como Extra, Carrefour, Pátio Brasil, Caesb, BRB, Correios. Ele é um profissional desta área.
E as pessoas esquecem que a carga tributária é de 30% no mí- nimo. Se você descontar os im- postos que foram pagos, os valores são mais insignificantes. Numa concorrência de R$ 15 mil, você tira R$ 4 mil, R$ 5 mil de impostos. Ficam R$ 10 mil, R$ 9 mil.
FICHA LIMPA
Nunca usufruí do dinheiro pú- blico nem de favores. Meu filho é prova disso. Em 2000, ele pediu uma área na ADE (Área de Desenvolvimento Econômico)
de Águas Claras e foi dado a ele um lote de 260m2. Eu era vice-governador na época e nunca pedi aumento de área.
Os lotes que tenho no centro da cidade me foram entregues em agosto de 1961, pelo então presidente Jânio Quadros, quando vim da Cidade Livre (hoje Núcleo Bandeirante) para cá. O resto adquiri ao longo de anos de trabalho com minha empresa, que fechei por causa da política.
Meu patrimônio pessoal, em imóveis, de 2006 para cá, foi diminuindo. Vendi um posto e imóveis para custear despesas de campanha e não comprei nada.
2009 A 2010
Como posso estar sendo responsabilizado por 2009 e 2010? Eu estava na CLDF. Além disso, não houve ornamentação de Natal em 2009 e 2010, por causa da crise após as denúncias da Operação Caixa de Pandora e com a sucessão de governadores.
As administrações não fizeram ornamentações e eu não estava à frente de nenhuma delas.
DEFESA
Eu não tenho nenhuma preo- cupação com as investigações. Meus advogados fizeram uma de- fesa comprovando, com documentos, as inverdades contidas nas acusações, que não têm documentos. São baseadas em “ouvi dizer”, “ouvi falar”, acho”.
Nossa defesa é provada docu- mentalmente. Desmontamos a tese de que meu filho depositou dinheiro em minha conta após o suposto crédito de uma fatura, na qual são contados até os minutos.
Ele, de fato, fez um crédtio para minha conta. Mas as faturas dos R$ 49.950 de Taguatinga e a dos R$ 15 mil e pouco de Vicente Pires foram pagas em 19 de janeiro de 2009.
No dia 30 de março de 2009, ele precisava pagar um fornecedor. Eu dei a ele um cheque de R$ 42.055. Eles pegaram meu cheque e fizeram a TED (Transferência Eletrônica Disponível) para a empresa comprovando isso.
No dia 11 de maio, quando receberam outro serviço, me devol- veram os R$ 30 mil, por conta deste empréstimo que eu havia feito. Tudo
isso documentado. Então caem por terra as ilações de que eu tenha recebido propina dele.
A QUEM INTERESSA
Há um claro interesse político no meu caso. A gente vê hoje que denúncias de milhões de reais e de enriquecimento suspeito são aba- fadas e arquivadas. No meu caso, tentaram de todos os meios me prejudicar para não ser eleito, com denúncias na mídia às vésperas da eleição. Mas, mesmo assim, eu fui reeleito.
Isso só pode interessar aos su- plentes, os únicos a serem bene- ficiados caso eu seja afastado da CLDF, pois podem assumir um car-
go para o qual não tiveram votos. Eu estou investigando a de- núncia feita contra mim, fechando os polos e, se confirmada a suspeita que tenho, vou entregar tudo à Polícia Federal, pois se trata de
crime eleitoral.
TRÂMITE
O inquérito está pronto, foi levado ao corregedor (Wellington Luiz), que fez o relatório, aliás, muito correto. O corregedor não tem espaço maior para trabalhar, porque ele não pode desenvolver as investigações. Ele pode dizer apenas se arquiva ou abre o processo. Então deixou o mérito para que a própria comissão pudesse julgar, pois me considera um homem honesto.
CONFIANÇA
Eu confio nos deputados. Eles não vão ser guiados nem manipulados, senão pela verdade. Confio fielmente na capacidade de apuração de cada um deles. O que eu peço é imparcialidade e que se apure a verdade e aplique a Justiça.
Fala-se muito que, neste caso, haverá uma decisão política. A decisão é política, sim, mas não pode ser desonesta e tem de ser baseada em fatos verdadeiros, comprovados.
COMO ESTÁ
Eu não estou magoado, mas chateado por ver tanta calúnia. Não fui ouvido nem pela polícia, nem pela justiça, mas me colocaram no calvário e me crucifi- caram. Isso é vergonhoso.
Aliás, o trabalho de parte da imprensa neste caso tem sido vergonhoso. Parece que há gente a serviço de terceiros só para me prejudicar.