CAIXA DE PANDORA – DIÁLOGOS COMPLICAM BANDARRA E GUERNER

Diálogos complicam situação de Leonardo Bandarra e Deborah Guerner

Trechos da denúncia contra os promotores revelam detalhes sobre suposto suborno ao ex-governador Arruda e sugerem participação ativa do ex-procurador-geral de Justiça do DF no crime

 

Ana Maria Campos/Correio Braziliense

Vídeos revelaram que Bandarra visitava com frequência  a casa da colega (g1.com.br/Reprodução de Vídeo )  
Vídeos revelaram que Bandarra visitava com frequência a casa da colega

A promotora de Justiça Deborah Guerner produziu contra si um arsenal de evidências que complicam a vida dela e colocam o ex-procurador-geral de Justiça do DF Leonardo Bandarra no centro da denúncia de extorsão ao ex-governador José Roberto Arruda. Gravações produzidas pelas câmeras da casa da promotora, apreendidas pelo Ministério Público Federal, mostram diálogos de Deborah com o marido, Jorge Guerner, em julho do ano passado, falando sobre como abordar Arruda. São conversas truncadas pela linguagem oral informal, que sugerem a participação fundamental de Bandarra no convencimento do então governador sobre a ameaça real de Deborah. De acordo com ação penal proposta pelo procurador regional da República Ronaldo Albo, a promotora cobrou R$ 2 milhões de Arruda pelo silêncio e pela omissão.

Nos diálogos que constam da denúncia e do processo administrativo disciplinar contra os dois promotores no Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP)— ao qual o Correio teve acesso — Deborah fala de fitas e comenta sobre estar descontrolada, disposta a “explodir” e encaminhá-las a algum jornal. As conversas da dupla ocorreram quatro meses antes da deflagração da Operação Caixa de Pandora. Deborah e Jorge citam Bandarra várias vezes, a quem se referem como Léo, e avaliam que ele deveria procurar Arruda, como se tivesse ficado sabendo que Deborah tinha a gravação em que ele aparece recebendo dinheiro de Durval Barbosa. Bandarra deveria simular dificuldades em controlá-la.

No suposto intuito de colocar o plano em prática, Deborah telefonou para Rodrigo Arantes, secretário particular de Arruda, e pediu para falar com o então governador. “É referente a uma reunião que houve entre os secretários dele e o procurador-geral, na segunda-feira. O meu procurador-geral, na segunda-feira”, explicou Deborah. Arruda retornou em seguida e a promotora pediu para agendar encontro em local reservado. A reunião ocorreu na residência oficial de Águas Claras.

Em depoimentos, Arruda disse que nesta ocasião sofreu extorsão de Deborah Guerner, a quem teria recebido depois de insistentes pedidos do então vice-governador Paulo Octávio e de Durval. Ele garantiu que não pagou. “Fui achacado pela Dra. Debora. Ponto. Disso não há dúvida”, sustentou Arruda. O ex-governador revelou que tratou do assunto com Bandarra, mas o isentou de participação na extorsão. “Relações minhas com Dr. Bandarra sempre foram absolutamente corretas”, afirmou. Esse é um dos principais argumentos da defesa de Bandarra.

Em vários trechos das conversas, Deborah se refere a Paulo Octávio como intermediador do encontro. Num dos diálogos, Jorge Guerner pergunta se “Léo aceitou a ideia” do vice-governador. Deborah responde: “Aceitou assim: achou uma, uma ‘10´’! Ele falou que aí eu fico também com o Paulo na mão!”. A promotora comentou com o marido que Paulo Octávio “já viu a fita”, numa indicação de que, àquela altura, o vice-governador conhecia as imagens que meses depois derrubaram Arruda. Deborah mantém uma antiga relação de amizade com Paulo Octávio. Os dois se conheceram quando ela ainda não era promotora e ele frequentava a casa dela aos domingos, segundo depoimento de uma empregada de Deborah. O Correio tentou contato com o ex-vice-governador, mas não o localizou ontem. Ele está em viagem fora do Brasil. Paulo Octávio sempre negou qualquer relação com o episódio.

Dinheiro
Num dos diálogos, Deborah comenta que perguntou a Bandarra se deveria levar dinheiro a ele. Em viagem marcada ao Rio de Janeiro, o ex-chefe do MP teria respondido, segundo ela, que não era necessário naquele momento. Os dois promotores também aparecem conversando por meio de rádio Nextel. Os contatos indicam conversas cifradas. Num dos trechos, gravados em julho, Deborah pergunta a Bandarra: “Você falou com o corregedor, né? Então o corregedor vai tá (sic) a par, né?”. Ele responde: “Exatamente, exatamente”. E Deborah afirma: “O Ricardo, né? Nosso colega lá, que num, num faz os processos, acabou de ligar”. O diálogo foi travado minutos depois da ligação de Arruda à promotora. Segundo depoimentos de Durval, “Ricardo” era o codinome utilizado para identificar o então governador. Detalhe: o Ministério Público do DF não tem corregedor. Desde janeiro de 2009, a procuradora Lenir de Azevedo é a corregedora-geral da instituição.

A defesa de Deborah Guerner sustenta que a promotora sofre de insanidade mental. Procurado ontem pelo Correio, o advogado dela, Pedro Paulo Guerra de Medeiros, disse que estava numa reunião. A advogada de Bandarra, Gabriela Benfica, afirma que não existe prova direta contra ele. Todas as referências a Bandarra seriam de terceiros e as avaliações levam em conta presunções. “Há um pré-julgamento e Dr. Bandarra nunca pôde se defender”, afirma a advogada.

 

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