Chico Leite, a la Hamlet. É ou não é?

Sabe-se lá por quais interesses, deputado muda cartilha quando o assunto é cidadania, é direito, é respeito, é reconhecer que há uma Constituição que deve ser sempre obedecida

Uma pausa e um olhar sobre a Câmara Legislativa. Não para falar sobre o ringue em que se pretende transformar o plenário daquele Poder, onde um atarantado Chico Vigilante roda a baiana e distila impropérios contra as fidalgas figuras de mulheres da oposição. O tema aqui é outro Chico, o Leite, também petista como o seu homônimo e que, como o primeiro, muda de opinião ao sabor sabe-se lá de que interesses.

Procurador do mais alto quilate, respeitado por seus pares do Ministério Público e detentor de um arsenal de votos do eleitorado brasiliense de fazer inveja a muitos políticos, nem por isso o deputado Chico Leite deixa de ser confuso – ou agir como tal, deixando embaraçados seus seguidores.

A verdade é que o agora presidente da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara Legislativa está cultivando o hábito de mudar radicalmente de opinião em relação a alguns assuntos. Basta lembrar, a título de ilustração, que nos últimos dias Chico Leite posicionou-se favoravelmente à aprovação do PL 741, que proíbe o Poder Executivo de contratar empresas de parlamentares ou de seus parentes.

O deputado apresentou voto em separado ao parecer do relator Joe Valle (PSB), que rejeitou a matéria considerando-a inconstitucional. Pois bem. Em uma entrevista concedida em 28 de maio de 2007 ao programa Ação Pública, da Associação Nacional de Procuradores da República, Chico Leite manifestou-se de outra forma. Fiel na época aos seus princípios, o procurador condenava proibições que colocava em risco a cidadania.

Para que não se vista aqui o manto da dúvida, basta lembrar trechos da entrevista: Todo mundo tem a sua preferência ideológica, a sua preferência partidária, a sua opção de visão de mundo e os piores entre todos são aqueles que se escondem atrás de uma aparente neutralidade e imparcialidade; dizer que isso é fundamento para tirar a cidadania de membros do Ministério Público, para tirar o direito de candidatar-se de membros do Ministério Público é um fundamento absolutamente vazio. Seja porque, membros de outras instituições como a polícia, por exemplo, como as forças armadas, como as empresas públicas que de uma maneira geral negociam todas essas pessoas de alguma sorte poderiam por algum motivo ter essa cidadania cassada. De maneira que na minha avaliação, todos devem ter cidadania ativa e passiva e deixar que a população que é quem deve escolhê-lo os julgue. Essa é a melhor opção. Sob pena da gente criar uma categoria de cidadãos e cidadãs no Brasil que não tem cidadania.

Pelo que se observa, Chico Leite optou por uma nova cartilha quando o assunto é cidadania, é direito, é respeito, é reconhecer que há uma Constituição que deve ser seguida ao pé da letra.

O deputado apaga o próprio passado e nos faz transportar a um palco sombrio, onde Hamlet, o príncipe da Dinamarca criado por William Shakespeare, lamenta a sua tragédia: O pensamento assim nos acovarda, e assim é que se cobre a tez normal da decisão com o tom pálido e enfermo da melancolia; e desde que nos prendam tais cogitações, empresas de alto escopo e que bem alto planam desviam-se de rumo e cessam até mesmo de se chamar ação.

Chico mudou para Francisco? Ser ou não ser, eis a questão.


Fonte: Blog do José Seabra

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