ELEIÇÕES 2010: DISTRITAIS FICARAM MAIS RICOS

Do Correio Braziliense: A declaração de bens dos deputados distritais é um indicador de que a profissão é lucrativa e abre portas para o sucesso financeiro. Dos 24 deputados, 19 aumentaram o patrimônio nos últimos quatro anos. Em alguns casos, a evolução foi fantástica. Há quem tenha melhorado em mais de 2.000%. E casos de distritais que conseguiram agregar mais de R$ 1 milhão aos seus rendimentos. Quase metade (11 políticos) de quem tem um assento na Câmara Legislativa é milionário. Em 2006, na eleição interior, apenas quatro tinham esse status.

No ato do registro de candidatura, os políticos são obrigados a declarar o que têm e quanto vale o patrimônio informado. Em 2006, o petista Cabo Patrício informou ao Tribunal Regional Eleitoral (TRE) ter R$ 6 mil. Desde que se tornou distrital, com salário de R$ 12,4 mil, ele melhorou seus rendimentos e agora declarou à Justiça Eleitoral patrimônio avaliado em R$ 137,3 mil, uma evolução do ponto de vista percentual espetacular de 2.189%.

Em valores brutos, no entanto, o caso de Cabo Patrício perde para outros colegas. Em 2006, Paulo Roriz (DEM) declarou ser dono de R$ 1,7 milhão. Quatro anos depois, ao declarar o patrimônio no Diário da Câmara, o distrital revelou ter mais que dobrado a quantia. Atualmente, dispõe de R$ 3,9 milhões. A colega de partido, Eliana Pedrosa, também deu um salto. Entre os distritais, é a mais rica. Declarou no Imposto de Renda de 2010 ter R$ 7,1 milhão, melhoria de 136% em relação a 2006, quando era dona de R$ 3 milhões. Antes de ser deputada, ela controlava as empresas de vigilância e segurança, hoje em nome de familiares. O afastamento não prejudicou as finanças da parlamentar, que só lucrou no período.

Em 2006, Alírio Neto (PPS), que era delegado de polícia e se aposentou em meio ao mandato, declarou à Justiça Eleitoral ter R$ 188,5 mil. Quatro anos mais tarde, seu patrimônio aumentou em 569%, passando a R$ 1,262 milhão. Para o distrital, trata-se de uma distorção da legislação brasileira que não permite atualização no valor de imóveis, a chamada atualização de ganho de capital. Ele exemplifica que em 1992 comprou uma casa no Guará, por R$ 70 mil, mas, com a valorização da área, conseguiu vendê-la por cerca de R$ 400 mil. Outro imóvel no qual investiu foi um lote no Taquari, comprado por R$ 72 mil, em 48 parcelas. Anos depois, a área estava avaliada em R$ 280 mil. “Nunca comprei nenhum desses imóveis enquanto era deputado. Tenho culpa se toda a cidade se valorizou? Como delegado de polícia digo mais: o problema não está no que a pessoa declara, mas naquilo que é omitido da declaração”, diz.

José Antônio Reguffe (PDT) compartilha da opinião de Alírio. Em 2006, a declaração do pedetista à Justiça Eleitoral registrava um patrimônio de R$ 775 mil. Em 2010, ele informou ser dono de R$ 1,8 milhão — o acréscimo, neste caso, é de 140%. O distrital enviou ao Correio, no entanto, comprovante de seu Imposto de Renda indicando que, quando ingressou no mandato, já tinha R$ 1.055 milhão. O que conquistou durante os últimos três anos foi resultado de investimento na Bolsa de Valores e na poupança. “Tudo foi ganho de forma honesta, está declarado no Imposto de Renda e publicado no Diário da Câmara. A população não deve se preocupar com o honesto que declara tudo no Imposto de Renda. Deve se preocupar com o corrupto que não declara”.

Campeão
O campeão de evolução patrimonial em termos percentuais, o petista Cabo Patrício, admite que a condição de deputado o ajudou a melhorar de vida. “Naquela época, tinha apenas um Palio velho, que tenho até hoje. Mas, depois de três anos e seis meses com um bom salário, é possível aumentar o patrimônio, sim. O que declarei não pode nem ser considerado um valor alto”, defende. Ele não tem imóveis e vive com a mãe. Como foi policial militar durante mais de 10 anos antes de ser expulso da corporação, as filhas têm direito à pensão e o deputado não precisa custear as despesas da família. No período de seu mandato, ele afirma ter comprado uma pick up Fiat Strada e a carta de crédito de um imóvel na Caixa Econômica Federal. “Já investi mais de R$ 70 mil nas prestações, mas, infelizmente, ainda não fui contemplado”, lamenta.

O deputado Raimundo Ribeiro (PSDB) está entre os quatro que mais faturaram neste quatro anos. Seus bens declarados subiram de R$ 123.820,00 para R$ 601.088,05, um aumento de 385%. A razão, segundo ele, é a especulação imobiliária. “O bem que tenho, uma casa na região do Grande Colorado, é o mesmo. Só que a valorização na área aumentou muito neste período, especialmente em razão da regularização das terras”, explica. Ele ressalta que, para exercer o cargo, abriu mão do salário que recebia, como advogado da União, mais rentável do que o atual.

Outro que integra o ranking da evolução patrimonial é o deputado Dr. Charles. Seu patrimônio, em 2006, estava calculado em R$ 145.591,00. Agora, chega a R$ 419.495,66, o que significa aumento de 188,13%. Segundo a assessoria do deputado, antes de se eleger, ele possuía uma chácara, um sítio, um lote em uma colônia agrícola e cotas em uma chopperia. Após assumir o cargo, parcelou dois veículos: um Fiat Gol e um Fiat Punto. Neste período, Dr. Charles também adquiriu o hábito de fazer uma poupança pessoal. O Correio tentou ouvir os distritais Paulo Roriz e Eliana Pedrosa, mas não conseguiu fazer contato com os deputados.

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