ELEIÇÕES 2010: INSTABILIDADES

Do Correio Braziliense: “Política é como nuvem. Você olha, ela está de um jeito. Olha de novo, ela já mudou”. A festejada comparação de Tancredo Neves entre política e nuvens se aplica como nunca ao caso do Distrito Federal. Desde o início do escândalo político em novembro, tornou-se impossível prever com precisão como será a sucessão de poder na capital da República. Os cenários políticos se desmancham a cada novo desdobramento da crise. A despeito das incertezas sobre as próximas repercussões da Caixa de Pandora, o calendário eleitoral impõe a partidos e candidatos definições para as eleições de outubro. Uma fotografia do quadro atual revelará as duas forças que hoje se colocam para a disputa. Uma delas capitaneada pelo ex-governador Joaquim Roriz (PSC) e a outra representada pelo PT. É cedo, no entanto, para apostar numa polarização entre os dois grupos.

A consolidação desse quadro depende ainda do grau de associação entre Roriz e os escândalos de corrupção que derrubaram José Roberto Arruda e Paulo Octávio. A instabilidade, no entanto, não é problema só de Roriz. Escolhido como candidato do PT ao Palácio do Buriti, Agnelo Queiroz tornou-se alvo de desgaste nas últimas semanas. Primeiro vieram as críticas porque ele teve acesso antecipado aos vídeos de Durval Barbosa, depois as acusações de patrimônio incompatível com a renda e mais recentemente o início da Operação Shaolin, que investiga irregularidades em convênios com ONGs, na época em que Agnelo era ministro do Esporte. A depender da repercussão dos ataques, lideranças do partido já pensam na hipótese de substituir Agnelo por Arlete Sampaio, que se desencompatibilizou na semana passada do cargo de secretária executiva do Ministério do Desenvolvimento Social para concorrer em outubro.

Cada brecha aberta pelo PT aumenta o cacife do PDT, que pode inclusive liderar os partidos de esquerda em torno do nome do senador Cristovam Buarque. Ele é ainda muito lembrado pelos brasilienses como um ícone de oposição a Roriz e tem sido incentivado por seus eleitores a entrar na briga pelo mandato de governador. Começou a se movimentar ensaiando aliança com PRB, PSB, PV, PPS, PcdoB e até o PMDB, enxergado nas composições como partido curinga. Por enquanto, Cristovam afirma que uma de suas metas é se juntar ao PT para o embate de outubro. “Estamos conversando para fazer uma chapa que reúna todos os partidos interessados em uma grande mudança. Queremos que o PT participe dessa aliança e, nesse caso, é natural que indique o cabeça de chapa porque é o maior partido do grupo”, reconhece Cristovam. E faz a ressalva: “Mas o PT teria que ceder as três outras vagas (de vice-governador e as duas para senador) e, assim, me sentiria à vontade para concorrer à reeleição”.

Enquanto Roriz e PT preveem duelo em outubro, o DEM, despedaçado com as consequências da Caixa de Pandora, tenta se levantar do tombo e reconquistar espaço na arena política antes do início da campanha. Na semana passada, o novo diretório regional foi formado e está agora sob o comando do senador Adelmir Santana. “Apesar das recentes e das baixas no partido, o Democratas ainda tem um patrimônio eleitoral representativo e vamos lutar pelo nosso espaço”, diz Adelmir. Ex-secretário de Transportes no governo Arruda, o deputado federal Alberto Fraga concorre com a distrital Eliana Pedrosa à indicação para disputar o Buriti em outubro.

Entre os partidos que ascenderam com a queda do DEM está o PR, fortalecido com a condução de Wilson Lima ao Governo do DF. Mas a legenda ainda avalia como usará a influência granjeada no contexto da crise. Uma das lideranças do PR, o deputado federal Jofran Frejat adiantou apoio a Roriz, podendo inclusive tornar-se vice na chapa do ex-governador. Mas esse não é um movimento do partido, que vai aguardar o desfecho das eleições indiretas, marcadas para o próximo dia 17. Pelo menos nessa etapa da sucessão, Wilson Lima é candidatíssimo.

Quem também pisou no freio para ver no que vai dar é o senador Gim Argello (PTB). Tem evitado falar abertamente sobre sua eventual participação no debate político para as eleições de outubro. Antes da crise, no entanto, dava como certa sua candidatura ao governo. Ele ganhou força nos últimos dois anos depois que se aproximou da ex-ministra da Casa Civil Dilma Rousseff. Mas seu direcionamento no DF ainda é uma incógnita. “Converso com todo mundo, da ponta direita à ponta esquerda, mas ainda não é o momento de discutir as eleições de outubro, estou analisando o quadro”, despista Gim, que assumiu o Senado na vaga aberta pela renúncia de Joaquim Roriz, em 2007.

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