Grampos acirram guerra de poderes na Câmara Legislativa

 

Myke Sena

Francisco Dutra
francisco.dutra@jornaldebrasilia.com.br

Ao se defender das denúncias da deputada Liliane Roriz, que se apoia em gravações, a presidente da Câmara Legislativa, deputada Celina Leão foi além da tentativa de desqualificação das acusações. Celina disse ontem que Liliane está agindo a mando do Palácio do Buriti com o objetivo de desqualificar a CPI da Saúde para blindar a família do governador Rodrigo Rollemberg. O chefe do Executivo e a esposa, Márcia Rollemberg, foram citados pela presidente do Sindsaúde, Marli Rodrigues, que apresentou um fluxograma nesse sentido à CPI da Saúde.

Logo depois de detonado o escândalo, Rollemberg declarou que a CPI não teria credibilidade para continuar com qualquer investigação. “É uma retaliação do Buriti. Nós estamos com uma CPI que envolve a família do governador. O governador mal sequer esperou a gente apresentar os documentos e já se antecipa e fala que a CPI não tem credibilidade para falar absolutamente nada”, afirmou Celina.

Com suas gravações, Liliane denunciou o suposto esquema de propina na Câmara ao Ministério Público do DF. A denúncia está amparada em grampos feitas pela própria deputadar em conversas com Celina e o ex-diretor-geral da Câmara, Valério Neves. Os áudios, todos editados, levantam a suspeita de corrupção envolvendo a Mesa, com participação do deputado Cristiano Araújo (PSD). Esse grupo teria remanejado R$ 30 milhões em recursos parlamentares para uma empresa de UTI.

Segundo a presidente da Câmara, por trás das denúncias também existe um movimento de “vingança” contra a cúpula do Legislativo. “É muito importante frisar que a excelentíssima deputada está passando por um processo de quebra de decoro parlamentar. Nessa ação ela está sendo investigada pela Mesa da Casa. A responsabilidade de investigar a deputada Liliane é da Mesa”, comentou Celina.

Liliane também responde a um processo no Tribunal de Justiça do DF, cujo resultado pode inviabilizar o futuro político do clã Roriz. Classificando Liliane como uma “mentirosa contumaz”, Celina disse que a emenda objeto da denúncia seria da própria Liliane. ”Se ela tinha a percepção de uma suposta ilegalidade, por que ela propôs a emenda. A emenda é dela. Segundo, por que ela votou a emenda. Terceiro, por que ela pagou a emenda?”, questionou.

Comissão ampliará o seu alcance

“Muito grave” foi a avaliação do presidente da CPI da Saúde, deputado Wellington Luiz (PMDB) sobre a fala do governador. “Houve uma precipitação por parte dele. E aí sim parece que é uma coisa planejada. Olha só, não existe coincidência em local e crime. Não vou me ater à isso. Quero crer que foi uma infelicidade. O representante do Poder Executivo se portar dessa forma é lamentável”, afirmou.

Mesmo com o turbilhão do novo escândalo, a CPI seguiu com os trabalhos ontem. Os parlamentares decidiram investigar as novas denúncias. Como primeiro passo, a comissão determinou a convação de Valério Neves, mas ainda não definiu a data para isso.

A comissão também decidiu convocar o ex-ouvidor da vice-governadoria Valdecir Medeiros, o ex-técnico da Secretaria de Planejamento, Edvaldo da Silva e o ex-gerente de Cessões e Requisições da secretaria, Christian Popov. Os três são alvos de investigação pela Polícia Civil, em outro inquérito sobre em suposto esquema de propina.

A pedido do deputado Wasny de Roure (PT), a comissão fará a quebra de sigilo de fiscal e bancário de um grupo de empresas e sócios-adminstradores com contratos na Saúde. A lista inclui: Intesicare, Hospital Santa Maria, Intesicare, Home Hospital Ortopédico e Medicina Especializada, Fundação Universitária de Cardiologia, Hospital São Francisco, Oxtal – Medicina Interna e Terapia Intensiva, Sebastião Maluf, Paulo Henrique Badinhani Mota, Fumihiko Yuge.

Rollemberg nega acusação

O governo Rollemberg negou e repudiou as acusações feitas pela presidente da Câmara. O Buriti negou qualquer tipo de influência ou participação nas gravações feitas entre deputados. A posição do Executivo foi transmitida por nota oficial divulgada para a imprensa.

Durante a oitiva na CPI, o ex-secretário de Saúde Fábio Gondim classificou a fala do governador desqualificando a comissão como infeliz. “Ele não fez a colocação correta e justa. Acredito que disse isso por conta de tantos problemas que ele tem passado. Mas adiante vai refletir melhor”, ponderou Gondim.

Acompanhado por advogados, Gondim prestou um longo depoimento. O ex-secretário disse não ter tido conhecimento de nenhum esquema de corrupção na pasta. Gondim só admitiu a existência de contratos com problemas técnicos, a exemplo da Intesicare. “Eu perdia o sono com ele”, desabafou. Apesar de problemas técnicos, segundo Gondim, o contrato não estaria sendo alvo de propinas ou de outros mal feitos criminosos.

Ao falar sobre o projeto de contratação de Organizações Sociais (OSs), o ex-secretário foi diplomático. Ressalvando que não “demoniza” o modelo, ressaltou que considerava muito perigosa a possibilidade da adoção de um serviço no qual o gestor público pudesse encotrar dificuldades para a condução dos trabalhos.

Quanto às gravações feitas pela presidente do Sindsaúde, Marli Rodrigues, o ex-secretário confessou sérias dificuldades de relacionamento com o ex-subsecretário de Administração Geral, Marcello Nóbrega, especialmente, quando transferiu atribuições dele para outras áreas da pasta. “Marcello ficou incomodado com o fato”, revelou.

De fato, disse Gondim, a pasta estaria implodindo por conta de conflitos entre Nóbrega, o ex-diretor do Fundo de Saúde, Ricardo Cardoso, e o ex-diretor de Infraestrutura e Logística, Marcos Júnior. Ao ser questionado, o ex-secretário disse que nunca tinha ouvido falar do organograma de uma suposta rede corrupção dentro da pasta, divulgado por Marli Rodrigues. A sindicalista atribui o documento a Marcos Júnior. O ex-subsecretário nega.

Na avaliação do presidente da CPI, Wellington Luiz, o depoimento de Gondim foi escorregadio. “Ele falou. Mas foi sempre muito evasivo”, resumiu.

Membros da mesa não querem sair

Apesar do impacto do escândalo, a Mesa Diretora e os deputados membros da CPI da Saúde citados nas denuncias de Liliane Roriz e Marli Rodrigues decidiram permanecer em suas posições políticas dentro da Casa. No entanto, outros parlamentares e instituições sociais questionam a continuídade deles após o escândalo.

“A Mesa Diretora deveria renunciar. É uma situação insustentável”, ponderou o deputado Chico Vigilante (PT). O próprio Partido dos Trabalhadores apoia o afastamento da cúpula do Legislativo.

Em nota conjunta, grupos da sociedade civil cobraram o afastamento de Celina e prosseguimento das ações contra Liliane Roriz. O Instituto de Fiscalização e Controle (IFC)/ Projeto Adote um Distrital, está entre instituições que endoçam o pleito.

Dentro da Câmara Legislativa, admite-se que a continuidade da Mesa depende da evolução das denúncias de Liliane. Se a história crescer, a mudança será inevitável. Caso as acusações se desidratem, a Mesa saíra fortalecida.

Versão oficial

Confira nota do Buriti em resposta as acusações da presidente da Câmara: “O governo de Brasilia repudia declarações públicas de que estaria envolvido, direta ou indiretamente, na gravação de fitas entre deputados distritais sobre destinações de recursos para a Saúde do Distrito Federal em 2015. O governo de Brasília reitera sua confiança no funcionamento das instituições públicas democráticas do Distrito Federal e confia nos órgãos competentes para apurar as denúncias”.

Saiba mais

Nos áudios, Celina fala com Liliane sobre um “projeto”. Segundo a denúncia de Liliane, esta expressão faria referência ao suposto esquema de corrupção. Já para Celina, o termo estaria relacionado a mobilização dos 24 deputados para ajudar a Saúde em 2015.

O corregedor da Casa, deputado Rafael Prudente (PMDB) declarou que investigará o caso tão logo receba um pedido formal da Câmara, de outro instituição ou mesmo de um cidadão. Por isso, evitou emitir qualquer juízo de valor sobre o escândalo.

Nas gravações, Celina fala que tem “analfabetos” trabalhando no gabinete. Enfatizando que as falas foram editas, Celina disse que tem pessoas humildades no gabinete. São apoiadores de campanha que teriam sintonia com o projeto político da parlamentar.

 

 

 

 

Fonte: Jornal de Brasília

1 COMENTÁRIO

  1. Quanta sujeira, quanto jogo sujo, quanto imoral é essas atitudes, vindo de uma Roriz? O que ele ganha com isso? Com certeza tem as mãos de Rollemberg e todo mundo em Brasília inteira sabe muito bem que esse viajante, que tem sido o pior governo de todos tempos, tem gosto muito mais apurado por produto bem mais forte que a maconha!!!

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