Jovens longe das urnas

Para valer o direito de votar, resguardado pela Constituição Federal, jovens com 16 anos precisam realizar a inscrição eleitoral ou a transferência de domicílio até dia 7 de maio. Mais de 23 mil eleitores com idade mínima para votação são moradores do DF

   TATIANE ALVES
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  Redação Jornal da Comunidade

 

Apesar de somarem 12 milhões de jovens, apenas 2 milhões, para quem o voto é facultativo, requisitaram o título de eleitor até agora para votar nas próximas eleiçõesFoto: DivulgaçãoApesar de somarem 12 milhões de jovens, apenas 2 milhões, para quem o voto é facultativo, requisitaram o título de eleitor até agora para votar nas próximas eleições

De mãos dadas com a nova Constituição de 5 de outubro de 1988, o voto aos 16 anos foi direito garantido pelo brasileiro em 16 de outubro de 1987. Na época, a Comissão de Sistematização aprovou por 58 votos contra 22 e duas abstenções. Na primeira eleição após a aprovação do projeto, em 1989, três milhões e quinhentos mil jovens, entre 16 e 17 anos, compareceram maciçamente às urnas para escolher, por voto direto, depois de 27 anos, o novo presidente do Brasil. Na época, garantir o direito de voto para menores de 18 anos era considerado por muitos uma ação de incoerência. 
No entanto, após 15 anos da mudança eleitoral no país, a decisão ainda é discutida, tanto por parlamentares quanto pela população. Enquanto uns acham absurdo garantir voto a quem ainda não pode ser criminalmente responsabilizado, outros defendem a importância da integração do jovem brasileiro ao processo político.
Apesar do direito em escolher os representantes políticos, com duração de quatro anos de mandado, poder votar aos 16 anos é questão de honra para alguns e dispensável para outros. A idade é a mesma, mas a consciência política é dividida em distintos caminhos filosóficos. Jovens que ainda acreditam em mudanças na política com a participação direta nas urnas agregam uma fatia de um aglomerado que desacreditam nos governantes.

Eleitorado com idade mínima
Parte da juventude defende que o formato eleitoral representa uma democracia enfadonha, em um jogo de interesses. Porém, ainda existem adolescentes que demonstram preocupação com a política nacional e desejam se manifestar por meio do voto sobre os rumos do país. No entanto, os números apontam que os impasses na administração nacional contribuem para o desgosto em relação ao sistema de governo brasileiro.
Há cinco anos, o país possuía 3,6 milhões de eleitores entre 16 e 17 anos. Em 2008 o número chegou a 2,9 milhões, redução de 19%. Para Isadora Lindolfo de Oliveira, de 16 anos, a falta de perspectiva e mudanças são pontos que influenciam a adolescente em adiar a ida às urnas para 2018. “Não vejo perspectiva nenhuma de mudança, apenas interesse. “O cenário político do Brasil não dá nenhum motivo para eu exercer meu voto por agora. Mas acho importante para quem deseja votar antes da maioridade. “Porém, acredito que alguns fazem isso com consciência e outros não”, opina Isadora.
Gabriella Coimbra, de 17 anos, adquiriu o título eleitoral aos 16 anos e afirma que a oportunidade em participar do projeto Menor Aprendiz foi fundamental para a decisão. “Tirei o título antes dos 18 pelo interesse em ser menor aprendiz. Minha mãe falou que para conseguir a vaga eu precisava ter o título, caso contrário, a empresa não me contrataria”, explica a jovem.

Opinião facultativa
O prazo para retirar o título para as eleições ou transferência de domicílio vai até o dia 7 de maio. De acordo com o TRE/DF, a capital federal possui um total de 23.286 eleitores com idade mínima para votação. As zonas eleitorais que possuem mais eleitores nessa faixa etária são: Planaltina, Gama e Sobradinho. De acordo com o TRE, em 2010, o DF contava com 16 mil eleitores com idade de 16 anos. Atualmente são mais de 23 mil votantes com 16 anos.
Embora o número de adolescentes votantes no DF tenha aumentado nos últimos anos, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) aponta queda de jovens presentes nos locais de votação. Nos últimos 20 anos, o número de eleitores entre 16 e 17 anos decaiu de 3 milhões para 2 milhões. Apenas 424 mil jovens de 16 anos e 1,6 milhão de 17 anos estão com o título eleitoral nas mãos. Juntos, eles somam cerca de 2,3 milhões de adolescentes dispostos a votar.
Pelos números oficiais do TSE, 23,5 mil jovens, entre 16 e 24 anos, estão com o título nas mãos e em condições de participar nas próximas eleições. São 17% do total de 140 milhões de eleitores do Brasil.
Apesar de somarem 12 milhões de pessoas, cerca de 2 milhões de jovens, para quem o voto é facultativo, requisitaram o título para as eleições de 2014. A estatística representa 2% do eleitorado nacional.

 

Voz dos jovens nas ruas do país

 

 

Gabriella tirou o título de eleitor para ocupar uma vaga no mercado de trabalhoFoto: Gabriel AzevedoGabriella tirou o título de eleitor para ocupar uma vaga no mercado de trabalho

Considerado uma poderosa ferramenta constitucional o voto também é garantido aos menores de 18 anos, garantidos pela Constituição de 1988. Apesar de ser um direito facultativo, a votação é a forma legal de realizar mudanças ou confirmar a permanência da liderança do governo brasileiro. Marcado por manifestações, o ano de 2013 deixou uma cicatriz na representatividade política. Diversos meios de comunicações se referiram a esse despertar e interesse dos jovens como: “o gigante acordou”. 
A população foi às ruas reivindicar por melhorias e pelo fim da corrupção. O Brasil pode, dessa forma, perceber o poder que tem em mãos. Em 2014, os mais de 140 milhões de brasileiros que vão às urnas pela primeira vez vão ter a capacidade e poder de eliminar muitas das insatisfações gritadas nas ruas pelo país.
Pesquisas do Ibope e do DataFolha, realizadas após as manifestações de junho, confirmam que 65% dos que participaram dos protestos acreditam no poder do voto para melhorar a qualidade da política brasileira. E 82% afirmam que não votariam em candidato corrupto.
A jovem Gabriella Coimbra, de 17 anos, tirou o título de eleitor para ocupar uma vaga no mercado de trabalho. Porém ela diz que é importante participar ativamente das eleições. “Para mim é significativo contribuir para um mundo melhor com a minha “pequena, grande decisão”, acredita.
Votar sem responsabilidade e consciência favorece a compra e venda de votos. Por isso é necessário que os jovens que vão às urnas pela primeira vez se informem para que não se deixe levar por falsas propagandas eleitoreiras.
Para Gabriella Coimbra, o voto consciente antes da maioridade é relativo. “Muitos de nós, desde muito cedo, temos acesso a vários tipos de informações que incluem nossos direitos e deveres. E se dentro do ambiente escolar e familiar nos for cobrado atitudes e decisões nas pequenas coisas desde cedo, provavelmente, quando completarmos a idade de exercer a democracia por meio do voto, teremos maturidade para decidir o que é melhor em algumas coisas. Mas claro que isso também vai depender do nosso desempenho diante das situações de responsabilidades que escolhemos enfrentar no nosso dia a dia. Acredito que, nós jovens, podemos sim votar conscientemente, mesmo sendo menor de 18 anos. Vejo em muitos maiores de 18 anos, uma falta de responsabilidade maior do que os menores de idade”, desabafa Gabriella.

 

Estímulo aos jovens de todo o Brasil

Isadora de 16 anos adiou a votação para este ano. Ela só votará em 2018, quando o voto se tornará obrigatório para elaFoto: Catarina CalladoIsadora de 16 anos adiou a votação para este ano. Ela só votará em 2018, quando o voto se tornará obrigatório para ela

O voto é um direito de participação política e social do adolescente que merece ser estimulado e fortalecido. Porém a cada eleição, a cada escândalo, a decepção aumenta o distanciamento dos jovens em relação à política, o que é um péssimo sinal para o futuro do país. 
A faixa etária de 16 a 18 anos, para quem o voto é facultativo, representa cerca de 12 milhões de pessoas, com peso suficiente para decidir eleições e ajudar a mudar a cara da política brasileira. Apesar de terem conquistado esse direito a partir da Constituição de 1988, a maioria dos que participaram das manifestações, sequer requisitaram o título.
Eles estão deixando de votar, mas seguem com protestos. Não é que eles não queiram participar. É que, provavelmente, o sistema não está suficientemente aberto para mobilizá-los.

Fonte: Jornal da Comunidade

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