O modo de agir, com raras exceções, indica a que classe pertence o delinqüente.
O ladrão de classe alta tem gostos refinados, frequenta bons restaurantes, domina mais de um idioma e circula pelas rodas do poder.
Age à sorrelfa, subtrai de uma forma que as vítimas só vão sentir mais adiante, nas filas do Sistema de Saúde e das matrículas nas portas de escolas públicas.
O ladrão de classe baixa – ou nenhuma classe – ataca à luz do dia, invade casas, toma celular de trabalhador em ponto de ônibus e mata por nervosismo e maldade.
O outro, do andar de cima, faz a maldade de forma indireta, matando os que morrem por falta de equipamentos e remédios nas unidades de saúde.
Os crimes praticados por gente sofisticada são complexos, de difícil investigação e demandam tempo e dinheiro.
Como a Polícia tem pouco tempo e dinheiro, vai fazendo o que pode, embora nos últimos tempos muitos do andar de cima estão vendo que o crime às vezes não compensa.
A reclamação política de que as cadeias estão cheias de pobres não procede, porque as cadeias estão na verdade repletas de ladrões, latrocidas, estupradores e assassinos que são pegos porque agem à luz do dia e não seria lógico nem razoável deixá-los agir à vontade, oprimindo a multidão que quer trabalhar, estudar e viver, só porque são bandidos menos sofisticados.
Miguel Lucena – Delegado da PCDF e jornalista