Leilão foi anulado por conta de questionamentos acerca da capacidade de entrega da empresa vencedora; ao somar custos de compra e logística de distribuição, valor de pacote de 5kg saia mais caro do que é cobrado atualmente
Nesta terça, 11, o governo federal anunciou a anulação do leilão para a compra de 263 mil toneladas de arroz, realizado na semana passada. A decisão do governo federal em importar ao todo 300 mil toneladas de arroz, foi dada sob a alegação de que a catástrofe climática no Rio Grande do Sul geraria desabastecimento e oscilações no preço. A anulação foi anunciada por conta de questionamentos acerca da capacidade de entrega do produto pela empresa vencedora. Contudo, a matemática pouco divulgada já indicava o rumo errado tomado.
No leilão realizado pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) na última quinta, 6, os lotes arrematados pela empresa estatal tiveram preço mínimo de R$ 4,989 por quilo e máximo de R$ 5 por quilo. No total, essa primeira compra de 263 mil toneladas de arroz custou aos cofres públicos R$ 1,3 bilhão. Mas, deve-se acrescer ao valor outros R$ 630 milhões referentes à equalização dos preços para a venda do produto, segundo informou o próprio governo, implicando num custo/kg de arroz importado da ordem de R$ 2,39.
“Somando-se o custo/Kg do arroz na fase leilão e as despesas com a venda dos grãos, chega-se ao número que realmente conta: R$7,37/Kg como custo final. Um pacote de R$ 5Kg de arroz acaba tendo um custo global de R$ 36,85, valor mais caro do que o pacote comercializado no mesmo período nas grandes redes de supermercados, ao custo de R$ 33, o arroz agulhinha tipo 1, produto nacional à disposição do consumidor”, alerta Carlos Fernandes, que atuou como secretário executivo de Segurança Alimentar, Nutricional e Abastecimento da cidade de São Paulo.
Para Fernandes, além do valor maior, “a importação de grãos onera as finanças públicas e inunda o mercado com arroz a preço irreal, impactando pesadamente a cadeia produtiva. Isso, sem deixar de citar a desmotivação do produtor rural em seguir seu plantio, o que pode trazer desarranjos em grande escala na cadeia, com possíveis consequências à mesa do brasileiro e ao fantasma da insegurança alimentar”, conclui.