MENSALÃO DO PT – “Sem mensalão, Dilma não seria presidente da República”, diz relator da CPI

 

Wanderley Preite Sobrinho, do R7

Às vésperas do julgamento do mensalão, o deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR) fala sem muitas saudades das noites em claro que passou esmiuçando os 300 volumes de provas recolhidas pela CPI dos Correios, que em 2005 revelaria o maior escândalo político do governo do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Em entrevista ao R7, Serraglio, que foi o relator da comissão, revisita as 165 reuniões e 233 interrogatórios realizados para reafirmar que o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu era o “orquestrador” do esquema de pagamento de propina a parlamentares que votavam a favor dos projetos do governo.

O peemedebista vai além e diz que, sem o mensalão e a queda do “superministro” Dirceu, Lula não teria tomado as rédeas de seu governo, crescido em popularidade e emplacado Dilma Rousseff como sua sucessora em 2010.

— Quem mandava na época era o superministro. O Brasil vivia como se estivesse em um regime parlamentarista. O próprio Lula chamou o Dirceu de ‘capitão do time‘.

Ele desdenha de quem tenta provar que o escândalo não aconteceu e espera “coerência” da Justiça no dia 1º de agosto, quando deve começar o julgamento dos 38 réus do caso no STF (Supremo Tribunal Federal).

Leia, abaixo, a entrevista completa:

R7 – Em que momento o senhor percebeu que tinha nãos mãos um dos maiores escândalos da República?

Osmar Serraglio – Somente agora. Eu ficava mergulhado no assunto. Trabalhava a semana inteira por 11 meses. Só fui para a capital do meu Estado [Paraná] cinco vezes nesse período. Como antes ia todo fim de semana, eu poderia ter capitalizado politicamente. Mas, não. Eu ia todo fim de semana para a minha cidade, Umuarama, e mergulhava nas provas. Quando estava prestes a entregar o relatório parcial, o meu assistente, que colhia as provas e as organizava tudo para eu analisar, fez as malas e disse que ia embora para a Inglaterra! Eu acho que foi sabotagem… De repente tive de fazer o relatório parcial na raça, atravessando noites.

R7 – Ser o relator desse escândalo interferiu na sua carreira política?

Serraglio – Eu só ganhei mais votos. Tive de 30% a 40% [votos] a mais nas eleições seguintes. A sociedade reconheceu nosso esforço. Mas meu comportamento como parlamentar continuou o mesmo depois do mensalão.

R7 – O senhor se recorda de alguma manobra que quase tenha transformado a CPI em pizza?

Serraglio – Para tentar enfraquecer a CPI dos Correios, foi criada a CPI da Compra de Votos. Quando percebemos a manobra, apresentamos um relatório parcial [da CPI dos Correios] ao Ministério Público e ao Conselho de Ética. Aí não tinha mais como segurar.

R7 – O senhor acha que o presidente Lula deveria ter falado à CPI?

Serraglio – Acho que não. Não se pode extremar a CPI. Chamar um presidente compromete a comissão, ela perde a credibilidade.

R7 – O Lula sabia do mensalão? 

Serraglio – O Lula sabia. Nós relatamos que ele sabia, mas também relatei que ele pediu providências.

R7 – Mas, se o Lula sabia, e se é extremista chamar um presidente para depor, o que fazer com ele? 

Serraglio – Pede-se esclarecimento por escrito.

R7 – O senhor fez isso? 

Serraglio – Não pedimos por escrito. O momento não era adequado. Iríamos criar uma crise que comprometeria a CPI.

R7 – O senhor acredita na versão do ministro Gilmar Mendes, do STF, de que ele tenha sido coagido pelo ex-presidente Lula para adiar o julgamento do mensalão?

Serraglio – Eu não opino sobre isso.

R7 – Por que o José Dirceu virou símbolo do mensalão? 

Serraglio – Quando se lê os testemunhos, vê-se que qualquer coisa estava ligada a José Dirceu. O próprio Roberto Jefferson disse que conversou com ele por mais de dez meses sobre o mensalão. É preciso alguém orquestrando um esquema desse tamanho, e o Dirceu é sempre mencionado.

R7 – Dirceu está pedindo apoio aos movimentos sociais para defendê-lo das acusações quando o julgamento chegar. O que senhor acha disso? 

Serraglio – O José Dirceu está sendo incoerente. Ele quer a Justiça distante, mas a está provocando. O que eu espero é que o julgamento mostre ao Brasil o que serve para o País, e caixa dois em campanha, por exemplo, não serve.

R7 – Na época, o ministro Joaquim Barbosa, do STF, disse que a principal prova é a testemunhal. Quem foi a principal testemunha do mensalão?

Serraglio – Roberto Jefferson e Marcos Valério deram todas as pistas. O Roberto Jefferson revelou a existência do Marcos Valério, que facilitou o caminho ao dar a lista com todos os parlamentares envolvidos.

R7 – Na época, o presidente Lula estava nas mãos do Dirceu? 

Serraglio – Quem mandava na época era o superministro. O Brasil vivia como se estivesse em um regime parlamentarista. O próprio Lula chamou o Dirceu de ‘capitão do time‘. Ele monopolizava o governo. As coisas aconteciam no gabinete dele. Com sua queda no mensalão, Lula começou a agir. Ele, que estava em baixa com a opinião pública, subiu tanto que elegeu Dilma presidente. Eu não tenho dúvidas de que, sem o mensalão, Dilma não seria presidente da República.

R7 – O senhor acha que o caso do bicheiro Carlinhos Cachoeira tem a importância do mensalão? 

Serraglio – Não. Principalmente no campo político. O mensalão vasculhou mais de 30 milhões de telefonemas e indiciou 120 políticos importantes, inclusive o superministro José Dirceu.

R7 – O que o senhor espera do julgamento do mensalão pelo Supremo Tribunal Federal?

Serraglio – A CPI produziu provas consistentes. A Justiça tem de fazer jus a ela. Eu espero que ela não desperdice o trabalho do Parlamento. Não estou dizendo que o Supremo deva seguir minha recomendação de condenar os envolvidos, mas espero um julgamento coerente.

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