NÃO FOTOGRAFEI TANCREDO NO HOSPITAL PORQUE O FOTÓGRAFO DEU A MAIOR TREMEDEIRA

Em sua página no Facebook, o jornalista Renato Riella contou uma história repleta de detalhes que chamou a atenção de muita gente, inclusive do médico e ex-secretário de Saúde do DF, Rafael Barbosa, que comentou sobre os bastidores do dia em que Tancredo Neves deu entrada no Hospital de Base. Confira:

Vocês vão ler uma história muito louca sobre a internação de Tancredo Neves, que nunca lembrei de contar.

Síntese: não obtive a única foto dele no Hospital de Base porque o fotógrafo deu uma estranha tremedeira e não conseguiu sair do lugar.

Só dá para acreditar porque tenho testemunhas de alto nível.

Mais ou menos às 21h30 do dia 14 de março, dez horas antes da posse do presidente Tancredo Neves no Palácio do Planalto, tomei um susto.

Estava na redação do Correio, correndo para fechar a edição festiva, quando ligou a repórter Rosa (ela depois se transformou na famosa repórter Maria Rosa Costa, Prêmio Esso pelo Estadão, etc).

Rosinha falou: “Uma vizinha minha, enfermeira do Hospital de Base, ligou agora dando uma notícia inacreditável. Tancredo está entrando no HBB, muito mal. Está sendo colocado numa cadeira de rodas e vai ser internado”.

Meu Deus! O mundo vai desabar!

Nem pestanejei. Muito bem vestido, de paletó e tudo, passei no Departamento Fotográfico, ao lado da redação. Peguei o único fotógrafo presente e saí voando.

Na passagem, o editor de Política, que era Armando Rollemberg (irmão do Rodrigo), não acreditou. Enquanto a gente corria para pegar um carro, Armandinho gritou pra mim: “Não fode, Renato Riella, isto é um trote!”

Fomos. Em cinco minutos entramos no hospital. Quem estava comigo era o fotógrafo Joaquim Firmino, o conhecido Faquir, bastante envelhecido, que por isso permanecia de plantão à noite para cobrir coquetel ou visitas à redação.

Ele ficou incrivelmente nervoso ou emocionado quando soube o tema da pauta. Mas achei que era só um susto.
Joaquim Firmino estava vestido de paletó e gravata, levando no bolso uma câmera pequena.

Na chegada, observei a situação no hall do hospital, ainda calma. Uma atendente me disse que Tancredo tinha acabado de subir para o segundo andar, na cadeira de rodas.

De repente, passaram por mim dois futuros ministros: João Sayad, Planejamento, e Pedro Simon, Agricultura.

Fiz discreto sinal para o fotógrafo Faquir e colamos neles. Na entrada do elevador, cumprimentei os dois com firmeza, com medo de ser reconhecido – mas colou. Acho que nos viram como assessores ou seguranças…

Quando saltamos do elevador, segurei Faquir pela manga e deixei os dois ministros entrarem na única porta aberta. Dei alguns passos e ouvi vozes. Tive a nítida sensação de que Tancredo ainda estava no local, enquanto os médicos tomavam providências para a internação.

Aí orientei o fotógrafo: “Você entra naquela porta agora, faz uma ou duas fotos e sai. Eu entro logo atrás e lhe dou cobertura, enquanto você foge. Se mande logo para a redação”.

De repente, Faquir começou a passar mal. Tremia bastante. Mal conseguia segurar a pequena câmera. E não saía do lugar.

Este sofrimento durou alguns segundos. Foi quando saiu da porta aberta um médico jovem, com máscara cirúrgica tapando a boca, que nos viu e tomou o maior susto: percebeu a máquina na mão do Faquir.

Olhou pra mim e disse firme: “Vocês precisam sair daqui agora!”

Falei mais firme ainda: “Sou Renato Riella, chefe de redação do Correio. Não vou lhe causar problema. Mas me diga: Tancredo está mal, ele vai ser internado? Só saio se souber disso”.

O cara vacilou, mas acho que gostou do meu pacto e respondeu: “Estamos nos preparando para atender ele, que parece não estar nada bem. Vai ser internado daqui a pouco” (e passou a mão na parte baixa da barriga).

Depois disso, nos abraçou por trás e nos levou até o
elevador. Descemos! Pedi que Faquir, já recuperado, fosse fotografando o que acontecesse no térreo.

Da minha parte, vi uma servidora atrás de um guichê. Perguntei se ela tinha telefone (telefone fixo, pois não havia celular). Disse que sim. Entreguei a ela o dinheiro que tinha no bolso (equivalente a 100 ou 200 reais de hoje). E me instalei atrás do guichê do HBB, sem ser visto, preservado para trabalhar.

Antes das 22h, passei um flashe por telefone para o Correio. Minutos depois, o Brasil todo estava botando a informação no ar, recebida através da Agência de Notícias dos Diários Associados (ANDA).

Enquanto isso, Armando Rollemberg, Fernando Lemos e outros craques mudavam tudo no planejamento do jornal, esperando o novo fato.

Quando me instalei no guichê do HBB, não tinha ninguém visível ainda, mas a segurança já barrava algumas pessoas na imensa porta da Emergência.

De repente, chegou alucinado o jornalista gaúcho Antônio Brito, que seria o ministro da Comunicação do Tancredo. Com as próprias mãos, fechou as portas de vidro de correr e passou a gritar para quem estava fora: “Ninguém entra. Ninguém entra!”

Em pouquíssimo tempo, cerca de cem pessoas já estavam do lado de fora, fazendo o maior barulho, com o gaúcho Brito mostrando sua macheza.

Na verdade, dezenas e dezenas de jornalistas estavam nos bares brasilienses, às 22 horas, comemorando a cobertura histórica que fizeram durante o dia. Saíram da bebedeira para o HBB (alguns, é claro, vieram das redações).

Aí aconteceu uma coisa fantástica, cinematográfica. O então presidente da Federação dos Jornalistas (Fenaj), o famoso Audálio Dantas, chegou ao local nitidamente transtornado. E começou a gritar para que Antônio Brito abrisse as portas.

Sem resposta, meteu o sapato num dos vidros grandes, fazendo o maior barulho. E aí o hospital virou uma feira.

Entrou todo mundo, até camelô, até flanelinha. Parece que ninguém se cortou, pois a porta ruiu de cima até embaixo.

Do meu guichê privilegiado vi tudo isso. O Correio já tinha mandado outra equipe, mas permaneci no “meu telefone” até perto da meia noite, quando fui para a redação ajudar no fechamento da edição, escrevendo minha visão pessoal sobre o fato.

Para quem não sabe, depois da meia-noite levaram Tancredo por um túnel para outra ala do Hospital de Base, onde sua barriga foi aberta. Constatou-se grande tumor intestinal benigno, que resultou em infecção generalizada. Assim, no dia 21 de abril ele morreu, deixando seu vice, José Sarney, como presidente.

E eu fiquei com essa história curiosa para contar (a única coisa que não tenho certeza é se foi segundo ou terceiro andar…)

Nunca tive coragem de perguntar a Faquir a razão da tremedeira. (RENATO RIELLA)

 

Meu caro Riella, nesse 14 de Março de 1985, eu estava de Plantão no Hospital de Base, como Medico Residente no primeiro ano de Residência, estava jantando no refeitório quando Tancredo chegou ao Hospital e a partir daí aquilo virou uma grande confusão, acompanhei tudo. No outro dia de manhã assisti no auditório do hospital a primeira coletiva de imprensa com o Antonio Brito e toda equipe médica ( Dr Gustavo Arantes, Diretor do Hospital, Dr Pinheiro da Rocha, chefe da Equipe Cirúrgica, Dr Renault Ribeiro médico Clínico de Tancredo) e quis o destino, que anos depois me tornei Diretor do Hospital e na sala da Diretoria tinha um grande cofre e lá ficava a guarda do prontuário médico do Dr Tancredo, sempre que tinha um horário livre me dedicava a leitura desse prontuário.

Rafael Barbosa

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