O presidente Michel Temer fez um pronunciamento na tarde desta quinta-feira (18/5) no qual anunciou que não pretende renunciar ao cargo de chefe de executivo do Brasil. A desistência de Temer foi muito cogitada desde a divulgação de parte da delação do empresário Joesley Batista, um dos donos do grupo JBS. “Não renunciarei. Sei o que fiz. Exijo apuração de todos os fatos”, afirmou o presidente.
“O meu governo viveu esta semana seu melhor e seu pior momento”, disse Temer, referindo-se a boas notícias recentes na área econômica, como a queda dos índices de desemprego. “Ontem, contudo, a revelação de conversa gravada clandestinamente trouxe de volta o fantasma da crise política”, criticou, antes de acrescentar:
“Não solicitei que isso (compra do silêncio de Eduardo Cunha) acontecesse e só tive conhecimento desse fato com as revelações. Não comprei o silêncio de ninguém porque não temo nenhuma delação. Não tenho nada a esconder”, afirmou. “No Supremo, demonstrarei minha inocência”, disse.
Com base nessas informações de Joesley Batista, o ministro Edson Fachin, responsável pela operação Lava-Jato no Supremo Tribunal Federal (STF), autorizou, no começo desta tarde, a abertura de inquérito contra Temer por obstrução da Justiça. No mesmo despacho, o ministro pediu a quebra de sigilo das delações.
O presidente começou o dia anunciando uma extensa agenda de compromissos “para mostrar normalidade”. No meio da manhã, toda a agenda foi cancelada e ele se reuniu no Palácio do Planalto com os ministros Eliseu Padilha (Casa Civil) e Moreira Franco (Secretaria-Geral da Presidência), com quem discutiu se faria um pronunciamento e qual seria o teor de sua manifestação. O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, também esteve com Temer.
Perda de apoio
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Mais cedo, a oposição afirmou que entrará com representação contra Temer na Procuradoria-Geral da República.
Diversas manifestações mostraram a perda de apoio do presidente tanto da classe política quanto de agentes do mercado. O primeiro partido a anunciar que deixaria o governo foi o PTN, que tem 13 deputados e o comando da Fundação Nacional da Saúde (Funasa). Em seguida, dois ministros do PSDB declararam a intenção de deixar as pastas: Aloysio Nunes (Relações Exteriores) e Bruno Araújo (Cidades).
O PSDB, cujo presidente, o senador Aécio Neves (MG), também foi envolvido diretamente na delação .
Deputados do PSDB protocolaram pedido de impeachment de Temer pouco depois das 15h. A ação foi articulada por João Gualberto (BA) com ao menos outros seis parlamentares. O partido ainda não rompeu oficialmente com o governo. Este já é o quarto pedido desde quarta-feira. Os partidos de oposição, como PSOL, PDT, PCdoB, PT, Rede e PSB devem submeter outro pedido à Câmara ainda hoje.
Além de Brasília, São Paulo também acordou em turbilhão com as notícias da delação envolvendo o presidente Temer. Nesta manhã, as negociações da Bolsa de Valores de São Paulo (BM&FBovespa) foram interrompidas pela primeira vez desde 2008, quando estourou a última crise financeira global. O circuit breaker, mecanismo que suspende o pregão quando a bolsa cai mais de 10%, foi acionado após 21 minutos de abertura e as negociações foram interrompidas por 30 minutos. O dólar futuro já é cotado acima de R$ 3,40.
Aécio
A denúncia do empresário da JBS agravou a crise política. Logo no início da manhã, a Polícia Federal deflagrou uma operação que mirava o senador Aécio Neves. O parlamentar também foi citado na delação pedindo propina de R$ 2 milhões. Ele foi afastado do cargo por decisão do Supremo Tribunal Federal (STF). Ele continua tendo acesso ao Congresso Nacional, contudo é proibido de exercer as funções como parlamentar.
A irmã do senador, Andrea Neves, foi presa, assim como o procurador Ângelo Goulart, do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Outros alvos da ação da Polícia Federal são o senador Zezé Perrella (PMDB-MG), o deputado Rocha Loures (PMDB-PR) e Altair Alves, que ficou conhecido como braço direito do ex-deputado Eduardo Cunha.
Um primo do presidente do PSDB também foi preso preventivamente pela PF nesta manhã. Frederico Pacheco de Medeiros, conhecido como Fred, teria sido filmado recebendo R$ 2 milhões a mando de Joesley Batista.
Veja, na íntegra, o pronunciamento de Temer
“Desde logo ressalto que só falo agora os fatos que se deram ontem, porque eu tentei conhecer, primeiramente, o conteúdo de gravações que me cita. As solicitei oficialmente ao Supremos Tribunal Federal, o acesso a esses documentos. Até o presente momento, não os consegui. Quero deixar muito claro dizendo que meu governo viveu nesta semana seu melhor e seu pior momento. Os indicadores de queda da inflação, os números de crescimento na economia e os dados da geração de emprego deram otimismo para dias melhores. As reformas avançavam no Congresso Nacional. Ontem, contudo, a revelação de conversa gravada clandestinamente trouxe de volta o fantasma de crise politica de proporção não dimensionada. Todo esforço de retirar o pais de sua maior recessão pode se tornar inútil. Não podemos jogar no lixo da história tanto trabalho em prol do país. Ouvi realmente o relato de um empresário que, por ter relações com ex-deputado, auxiliava a familia do ex-parlamentar. Não solicitei que isso acontecesse e só tive conhecimento nessa conversa do empresário. Ressalto que em nenhum momento autorizei que pagasse a quem quer que seja para ficar calado. Não comprei o silêncio de ninguém, porque não tenho nenhuma relação. Não preciso de cargo público nem de foro especial: nada tenho a esconder. Sempre honrei meu nome e nunca autorizei que utilizassem meu nome indevidamente e, por isso, quero registrar enfaticamente que a investigação pedida pelo STF será territória e surgirão todas as explicações. No Supremo, mostrarei que não tenho envolvimento com nenhum desses fatos. Não renunciarei e sei a correção dos meus atos. Exijo investigação plena e muito rápida, e esclarecimentos ao povo brasileiro. Essa situação de dúvida não pode persistir por muito tempo. Tanto esforço e dificuldade superadas que meu único compromisso é com o Brasil e é só este compromisso que me guiará”.