Miguel Lucena*
O lobista chega no gabinete de um parlamentar federal e mostra suas credenciais de bom articulador, bem relacionado em todas as esferas, e pede uma vaga na assessoria para desenvolver os trabalhos articulatórios. Ao seu lado, uma jovem estonteante, exalando perfume importado, sorri para o representante do povo, um sujeito barbudo, tosco, de paletó amassado e gravata na boca do estômago, que encara as pessoas de baixo para cima, como se fosse dar uma cabeçada no interlocutor.
– Ainda não sei o que eu vou ganhar com isso – questiona o parlamentar, sem tirar os olhos da moça. – Quem é ela? – pergunta, sem dar a mínima para o serviço do lobista.
– É minha esposa, ótima acompanhante para eventos e já foi treinada para impressionar autoridades – desembargadores, ministros, empresários etc.
– Vamos fazer o seguinte – propôs o parlamentar: – Você fica no gabinete, faz essas coisas que você falou aí e ela me acompanha pelos cantos aonde eu for.
Negócio fechado. O marido lobista está feliz, ganhando seus R$ 12 mil, e a moça bonita acompanha o parlamentar tosco para todos os lugares, baladas, restaurantes e motéis. Desembargadores, ministros e empresários babam quando a veem, mas muitos não funcionam mais nem com Viagra.
*Miguel Lucena é Delegado de Polícia Civil do DF, jornalista e escritor.
