No Brasil, o século XX terminou em junho de 2013, por Adauto Damásio

 

Adauto Damásio

Uma das consequências práticas das manifestações populares de junho de 2013 foi o definitivo fim do ‘Fla-Flu’ promovido pelos dois partidos supostamente antagônicos, PT e PSDB. Mesmo que possamos interpretar tais manifestações como uma grande catarse coletiva sem bandeiras e reivindicações objetivas, sem coesões e consensos (e é assim que eu as interpreto), teve o mérito de deixar os donos do poder de Estado preocupados com o “status quo” vigente. Governo federal e suas oposições não foram poupados pelos manifestantes. Todos tremeram e temem o retorno dos mesmos às ruas.

De meu ponto de vista, foi uma catarse que apenas escancarou o divórcio histórico entre Estado e sociedade, seja esse Estado governado pelo PT ou pelo PSDB. Isso não é nenhuma novidade, vistas as reflexões de Raimundo Faoro que demonstrou como o Estado brasileiro nasceu e foi formado para ignorar a sociedade desde a chegada de D. João VI ao Brasil em 1808.

Mas quais os outros fatores que contribuíram para tais eventos e qual outra interpretação possível? Lanço aqui um ‘esqueleto’ de interpretação para os historiadores e cientistas sociais do futuro.

 

 

Minha tese é a de que a sociedade brasileira, ao contrário das experiências históricas dos Estados Unidos, da Europa, de países orientais como o Japão e mesmo de alguns países da América Latina, teve seu processo de formação realizado ao longo do século XX e hoje, mesmo sem a completude do processo, passou a ter características do que podemos chamar de sociedade. Nesse sentido, a catarse de junho de 2013 marca, de forma não contraditória, o final e o início de processos históricos contínuos.

Indivíduos esparsos e com muito pouca identidade cultural acumularam condições para iniciar uma luta e se tornarem cidadãos; descobriram que, para isso, precisam viver em sociedade no seu sentido amplo, no sentido atribuído pelos liberais, no sentido que permite o início da luta para que o Estado passe a representar a sociedade.

Já conhecemos de sobejo as características limitantes da nossa colonização para explicar as dificuldades de organização de uma sociedade, Estado e mercado equilibrados e desenvolvidos. No entanto, refletimos pouco sobre as grandes transformações pelas quais passou o Brasil ao longo do século XX.

Em nosso país, Estado e capital sempre estiveram em sintonia e organizados de forma a garantir seus interesses, porém aquilo que o liberalismo denominou “sociedade” nunca existiu de fato no Brasil, a não ser na interpretação elitista do conceito. Sociedade no Brasil sempre foi sinônimo de “união das elites”.

Até 1930, o Brasil foi um país fundamentalmente agroexportador. As mudanças de rumos da economia a partir da denominada Revolução de 1930 criaram as bases de um processo que se estendeu por todo o restante do século XX, com seu auge no final do mesmo século.

 

Leia a íntegra em No Brasil, o século XX terminou em junho de 2013

 

Adauto Damásio é Mestre em História – Unicamp.

 
Fonte: Blog do Noblat

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