O PASSADO REMOTO, O PASSADO PRESENTE E O TEMPO PRESENTE DE AUGUSTO CARVALHO

O escândalo deflagrado com a operação “caixa de Pandora” pegou o secretário de Saúde e deputado federal Augusto de Carvalho de calça curta? Augusto tem dito que sim, pois afirma que não sabia do esquema de corrupção e que nem tinha como saber. Invoca, como álibi, o histórico de sua longa vida política. Diz que sempre foi honesto e que, de fato, sempre defendeu a moralidade e a ética. Alguns parecem querer acreditar na conversa do deputado Augusto Carvalho.
Eu não acredito em uma palavra do que ele disse até agora. Obviamente, sou suspeito para falar sobre a atuação de Augusto Carvalho. A minha pré-disposição para não acreditar nele pode decorrer do pífio desempenho que ele teve durante o tempo em que foi o gestor da Secretaria de Saúde. É fato notório que a gestão Augusto Carvalho foi lastimável, uma das piores páginas já escritas na história da secretaria de Saúde do Distrito Federal. Testemunhei o choro e a lástima de várias pessoas doentes que não conseguiam tratamento médico ou remédio. Presenciei pessoas aos prantos pela morte de seus parentes e amigos. Muitos dos dramas que testemunhei poderiam ter sido evitados, se a gestão 2009 da SES/DF tivesse sido competente. Quantas promessas foram feitas pelos gestores da SES/DF e que não foram cumpridas? Acho, pessoalmente, um absurdo indescritível alguém precisar ir ao Poder Judiciário em busca de uma liminar para garantir internação em leito de UTI ou tratamento de quimioterapia. É o cúmulo do desrespeito a dignidade humana. Não podemos nos tornar indiferente ao fato.
Ele tinha condições de realizar transformações estruturais no sistema de saúde do DF, mas não o fez, por isso não acredito em Augusto Carvalho. Atribuir as falhas de gestão somente à incompetência sempre me pareceu um grande equívoco. Me recuso a acreditar que alguém que ocupa vaga no parlamento seja simplesmente burro e não tenha a mínima noção de administração. Sempre me pareceu que existia algo mais. O caos me parecia proposital, os erros não aparentavam ser somente erros. Mas suspeitas, sem prova, caem no vazio. A dor e sofrimento das pessoas que procuravam os serviços da Defensoria poderiam estar afetando o meu juízo crítico, o fazendo mais severo do que deveria, de fato, ser.
Em novembro, a abertura da “caixa de Pandora”, revelou acusações contra Augusto Carvalho, que, segundo Durval Barbosa, teria um esquema de cobrança de propina nos contratos da Secretaria de Saúde do DF. Segundo Durval, o operador do esquema seria Fernando Antunes, fiel escudeiro de Carvalho. Negritei e sublinhei a palavra “acusações”, pois acusações não significam certeza de nada, uma acusação pode ser falsa e leviana, pode restar incomprovada por falta de provas e pode até terminar sendo confirmada. O desfecho da acusação será dado pelo tempo. Um juízo jurídico, agora, seria açodado.
Passado alguns dias, gravações – com e sem autorização judicial, pouco importa – foram divulgadas em que outras pessoas (envolvidas em esquema de corrupção) mencionavam Augusto Carvalho como sendo um voraz corrupto. Reitero, os comentários nada provam, apenas levantam suspeitas que ainda devem ser checadas. As conversas não se prestam, ainda, para embasar um julgamento jurídico. Mas o que se faz necessário, agora, é um juízo de convicção íntima, pois as eleições se avizinham e precisamos saber se ele merece ou não a nossa confiança, o nosso voto.
O meu voto ele não terá. Um, por ter acompanhado o péssimo trabalho na SES/DF e a falta de humildade em pedir para sair. Dois, não sou eleitor no DF, mas em Patos de Minas, cidade que adotei como minha, lugar que a simples lembrança me alegra. Obs.: É a cidade natal de Augusto Carvalho. Três, a ideologia comunista-neoliberal do PPS me parece estranha e incoerente.
O que me move agora, no entanto, é saber se as acusações de Durval e outros merecem crédito, mesmo que indiciário, contra Augusto Carvalho. Seguindo os conselhos do próprio Augusto Carvalho, analisarei alguns episódios da vida pretérita do parlamentar.
O Deputado Augusto, em pronunciamento proferido da tribuna da Câmara dos Deputados, disse que estava sendo injustamente acusado por um chantagista profissional, que participou de esquema no atual e no anterior governo do DF. Disse que o próprio passado o defenderia. Pois bem, vejamos o passado e o cotejemos com o presente.
Aqui começa a minha estranheza. Durval Barbosa não é flor que se cheire. Não é um inocente no mar de lama, mas personagem central do mundo da corrupção no Distrito Federal. Me pergunto, como alguém com o histórico denuncista de Augusto Carvalho aceitou integrar um governo que já abrigava Durval Barbosa? Augusto e Durval eram secretários do mesmo governo, estavam a serviço do mesmo governador. Em 11.01.1994 Augusto denunciou da tribuna da Câmara contratações irregulares da CODEPLAN, presidida por Durval Barbosa. O deputado, que hoje se diz acusado por um chantagista profissional, aceitou, por livre e espontânea vontade, integrar o mesmo governo do chantagista Barbosa.
Augusto Carvalho, em legislaturas passadas, acusou os gestores da saúde pública no DF de perpetrarem fraudes. Jofran Frejat e Geraldo Maciel foram secretários de saúde no governo Roriz. Estavam acomodados no governo Arruda. Augusto, aliás, era uma das estrelas da gestão atual. Mesmo já os tendo acusado, aceitou integrar o mesmo governo. Vejamos algumas oportunidades em que Augusto atacou os gestores anteriores da saúde:

4.10.1996 – Afirmou na Câmara Federal que existiam irregularidades na construção do Hospital do Paranoá;
13.8.1996 – Pediu que o MS suspendesse o repasse de verbas para hospitais particulares;
18.12.1992 – Novamente denunciava repasses do DF para o setor de saúde privado;
3.12.1991 – Acusações de irreegularidades na construção de hospital na vila Paranoá;
23.08.1991 – Faz na Câmara criticas ao Jofran Frejat.

Outra pessoa que já sofreu ataques pesados de Augusto Carvalho foi Fábio Simão, um dos principais alvos da operação “caixa de Pandora”. Em 09.11.1993, fazendo referência à Fábio Simão, disse que “a CPI do orçamento continua a revelar para a sociedade brasileira os caminhos sinuosos percorridos por todos os tipos de mau caráter empenhados em dilapidar o patrimônio público. (…)”. Falou que Fábio Simão e empresários especializados em fraudar licitações estão envolvidos no escândalo desvendado pela CPI do Orçamento. Mesmo assim, aceitou ir e permanecer em um governo em que Fábio Simão era (e é) um dos personagens mais importantes, tendo sido alçado a condição de secretário pessoal do governador Arruda.

Em 17.09.1992 criticou da tribuna parlamentar o Secretário de Segurança Pública João Brochado, mas não teve a mesma postura diante dos atos de barbárie cometidos pela PMDF ao insular cavalos contra estudantes que manifestavam contra a corrupção no governo que fez parte. Medidas diferentes, diametralmente opostas, para casos análogos.
Em 01.09.1992 discursou manifestando repúdio à defesa apresentada por Fernando Collor de Mello quando das acusações de corrupção da época. Não manifestou, contudo, o mesmo nojo com a desculpa do panetone apresentada por Arruda e Giffone.
Em 24.07.1992 defendeu o afastamento de Collor do cargo de Presidente da República, mas não adotou a mesma postura com Arruda. Collor, foi absolvido por falta de provas, em uma lamentável decisão do STF, Arruda foi filmado. Collor tentou explicar a origem de recursos com a operação Uruguai, um empréstimo tomado no exterior para financiar campanha. Paulo Octávio tinha estreito relacionamento com a operação Uruguai. Arruda disse que o dinheiro era para compra de panetones e depois caixa de pré-campanha eleitoral. Paulo Octávio é o vice de Arruda. Não se viu, ainda, Augusto Carvalho defendendo o afastamento de Arruda, pelo contrário, o PPS, partido ao qual é filiado e um dos expoentes, se mantém na defesa do governador Arruda. Alírio Neto, deputado distrital pelo PPS, é considerado da tropa de choque arrudista. Augusto, silente. Ricardo Pires será candidato a distrital pelo PPS, continua chefiando o PROCON/DF. Augusto, silente. Em 28.9.1992 disse que a única forma de se estabelecer a moral e a ética no País seria com o impeachment de Collor, mas não pediu em público o mesmo quanto ao Arruda.
Em 09.06.1994, Augusto foi à tribuna da Câmara recomendar ao candidato à presidência, Fernando Henrique Cardoso, para que não aceitasse doações de campanha de empresas como a Delta Engenharia e Via Engeharia, pois eram acusadas de praticar irregularidades contra o erário público. No portal da empresa Paulo Octávio, integrante do império empresárial do vice-governador do governo que Augusto foi integrar consta a informação da união de forças da Via Engenharia e da Paulo Octávio. Augusto Carvalho, paladino da moralidade, aliou-se a um governo bastante próximo da Via Engenharia, empresa que denunciara no passado. Não pode agora dizer que foi ludibriado.
Em 18.04.1994 defendia a instalação de CPI na CLDF para apurar denúncias de corrupção contra Roriz. Hoje o PPS não mostra a mesma sanha investigatória. O governo que Augusto Carvalho integrou na condição de estrela de primeira grandeza, aliás, ajudou a enterrar uma CPI para investigar a saúde, pasta que gerenciava. Vale a máxima, quem não deve não teme. Em 21.1.1994 defendeu na tribuna parlamentar a criação do movimento VAMOS PASSAR BRASÍLIA A LIMPO, mas não manifestou o mesmo apoio ao movimento BRASÍLIA LIMPA, lançado pela OAB para investigar o governo do qual participou de forma entusiasmada.
Em 11.01.1994 denunciou algo parecido com o esquema do mensalão envolvendo o presidente da CODEPLAN e Roriz, mas queda-se imóvel em relação ao mensalão do DEM.
Em 04.9.1991 criticou a utilização de contrato de gestão para gerenciamento de hospitais públicos, mas implantou o sistema que combateu no Hospital de Santa Maria, com a problemática Real Sociedade Espanhola, investigada por corrupção na Bahia.
Diante da vida pretérita de Augusto Carvalho, a adoção de atitudes diamentralmente opostas em relação a fatos similares, senão idênticos, confere certa credibilidade em relação as acusações de Durval Barbosa contra Augusto Carvalho, máxime quando estamos diante do fato de que um dos pressupostos da delação premiada é a veracidade das informações repassadas aos órgãos de investigação.Caso se comprove que Durval mentiu em relação a qualquer dado, por menor que seja a mentira, ele pode perder todos os benefícios que almeja com a delação.
Não podemos, diante da atuação política de Augusto Carvalho no passado remoto, das escolhas dos companheiros do passado recente e da omissão de hoje, simplesmente desacreditar em Durval Barbosa. Augusto Carvalho precisa se explicar melhor e precisa atuar de forma enérgica contra o governo Arruda, exigindo, inclusive, que o seu partido, o PPS, se engaje no projeto de afastamento de Arruda. Se o PPS continuar na tropa de choque arrudista, se continuar andando com os corruptos, as acusações ganharão credibilidade, senão jurídica, pelo menos no seio social.
Até lá, penso eu, Augusto Carvalho não merece a nossa confiança, não merece o nosso voto. Poderá sair do governo com a marca da incompetência (por causa de sua má gestão) ou com a marca da incompetência e da corrupção. Cabe a ele a escolha.

Dr. Andre de Moura
Sugiro a leitura dos seguintes textos:
Augusto Carvalho: diga-me com quem andas e eu te direi quem tu és do jornalista Fábio Pannunzio.
Quem te viu, quem te vê do jornalista João Bosco Rabello.
Agora é um motorista. Ou dois da jornalista Paola Lima.
O embuste dos Kits do jornalista Leandro Fortes.

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