Entenda aqui as ligações que comprometeram Arruda no escândalo do BRB, segundo informações que foram amplamente divulgadas pelo Sindicato dos Bancários do DF, e “desconsideradas” pela Câmara Legislativa e pelo Ministério Público. Acompanhe: 0 governador José Roberto Arruda tem feito todo o possível, desde junho de 2007, para se desvencilhar das responsabilidades sobre a crise moral que atingiu a direção do BRB. Fingiu que não tinha nada com isso, e tentou jogar a culpa sobre a gestão passada, do ex-governador Roriz. Vejamos os fatos: Durante a Operação Aquarela, ocorrida na quinta-feira 14 de junho de 2007, em que foram presos Tarcísio Franklin de Moura, o ex-diretor de Recursos Administrativos e Tecnológicos, Ari Alves Moreira e o diretor do Cartão BRB, Rildo Ramalho Pinto, e mais 17 pessoas, a Polícia Civil do DF vasculhou e apreendeu documentos e computadores em cinco andares do Edifício Brasília, incluindo as salas da presidência e de vários diretores. No 8º andar da sede do BRB, os policiais encontraram duas malas na sala do gerente executivo da mesa de operações, César Guimarães. O gerente se recusou a abrir as malas, obrigando os policiais a arrebentá-las. Dentro havia 60 mil reais e 200 mil dólares. Das moedas americanas, um pacote com 120 mil era destinado a Guimarães e 80 mil estava em nome de Paulo Moraes Júnior, seu subordinado na mesa de operações. Os dois não apareceram no banco desde então. César Guimarães ocupava a mesma gerência na gestão de Tarcísio Franklin, quando chegou a integrar o Comitê de Investimentos da Regius, representando o banco. Foi mantido no posto pelo então diretor financeiro Valdery Frota de Albuquerque, nomeado por Arruda apesar das inúmeras denúncias de improbidade administrativa e gestão temerária que tramitam contra ele na Justiça Federal e no Tribunal de Contas da União — em razão de irregularidades que cometeu quando participou das direções da Caixa Econômica Federal e da Nossa Caixa paulista. Valdery assumiu no dia 24 de abril. Mesmo em tão pouco tempo, Guimarães já era seu homem de confiança. Talvez por causa de um outro elo familiar: Valdery é conhecido antigo de um irmão de César Guimarães, Alexandre Guimarães, que foi da Corretora Premius e é o atual presidente da Apimec-DF (Associação dos Analistas e Profissionais de Investimento do Mercado de Capitais). Alexandre esteve, na semana anterior a operação denominada Aquarela, na sala de Valdery, em reunião que durou mais de uma hora. É notório que Alexandre, que fez campanha aberta para Arruda, agia nos bastidores para nomear seu irmão César para a Diretoria Financeira da Regius (cujo posto só pode ser ocupado por funcionário do BRB). Sabe-se até que ele tinha um plano B: não sendo possível a indicação do irmão, ele próprio pretendia ser nomeado gerente de Investimentos da Regius (cargo que pode ser preenchido por alguém de fora do banco). Ou seja, o objetivo era colocar alguém da família em um posto estratégico do fundo de pensão. Valdery também é um velho conhecido de Tarcísio Franklin. Valdery foi vice-presidente da Asbace (Associação Nacional de Bancos), quando era presidente da Nossa Caixa de São Paulo, enquanto Tarcísio Franklin presidia a Associação. Fica a evidência de que Valdery, portanto, sabia da negociata dos contratos. Foi exatamente nessa época que o BRB, tendo Tarcísio Franklin na presidência das duas instituições, fez vários contratos sem licitação com a Asbace, sendo o principal no valor de R$ 108 milhões, para a aquisição de equipamentos de informática. O Sindicato dos Bancários e a deputada distrital Erika Kokay (PT) denunciaram esses contratos irregulares, inclusive ao Ministério Público. A MSA, prestadora de serviços de informática ao BRB, foi a principal doadora da campanha eleitoral de Arruda. Está registrado no TSE que ela doou R$ 400 mil no dia 11/09/2006. Um dos articuladores dessa arrecadação foi José Antônio Mendes Fernandes, atual diretor do BRB Cartão, indicado por Arruda. Mendes Fernandes foi diretor-presidente da Regius, nomeado no primeiro governo Roriz. E afastado mais tarde, por má gestão e denúncia de assédio. Além da diretoria do BRB Cartão, Mendes Fernandes foi ainda indicado por Arruda para o Conselho de Administração do BRB. Mendes Fernandes era também bastante próximo do major da Aeronáutica Fabrício Ribeiro dos Santos, preso junto com Tarcísio Franklin e Ari Alves Moreira. O major Fabrício foi considerado o principal dirigente da ONG Caminhar, que ocupava lugar de destaque no esquema de lavagem do dinheiro obtido com os contratos irregulares do BRB. O major Fabrício manifestava publicamente o seu orgulho por ter indicado Mendes Fernandes para o BRB Cartão. O major Fabrício também foi doador da campanha de Arruda. Está lá na prestação de contas da campanha do governador junto ao TSE: R$ 5.000,00 repassados no dia 31/07/2006. Arruda quis se eximir de responsabilidades pelas falcatruas no BRB. Esforço inútil, como se vê, diante das ligações entre os gestores antigos, os que ele nomeou para o banco e o esquema de arrecadação de sua campanha (veja abaixo trecho do Correio Braziliense de domingo 17). “Cançado disse que a terceirização dos serviços, nos moldes do que ocorre no BRB, existe também em outra instituição financeira oficial, a Nossa Caixa, banco do Estado de São Paulo”.Fica clara a ligação do mesmo tipo de procedimento entre a gestão da Nossa Caixa, da qual participaram com poder de decisão, os diretores do BRB, nomeados por insistência do governador Arruda, Valdery Frota de Albuquerque e Luiz Francisco Monteiro de Barros Neto. Como pode o governador Arruda fugir à sua responsabilidade, se o presidente que ele nomeou para o BRB foi preso com menos de dois meses de mandato? E se outros administradores que ele nomeou já mantinham ligação e conhecimento estreitos com Tarcísio Franklin e seus pares de falcatrua? Estas indagações foram feitas pelo Sindicato dos Bancários de Brasilia. O Ministério Público fez muito barulho, pediu o bloqueio de bens e dinheiro dos acusados (e conseguiu), mas anda muito quieto desde então, principalmente quando se chegou perto de Arruda. Estranho, muito estranho. E a Câmara Legislativa avisou que abriria a CPI do BRB, tendo recebido apoio explícito de Arruda. Porém, assessores (e ex diretores do BRB) avisaram que se a CPI do BRB fosse instalada, “cabeças poderiam rolar”, o que fez Arruda mudar de idéia e abafar o caso. No governo de Arruda, ninguém parece querer investigar coisa alguma. É realmente estranho, muito estranho! Não foi à toa que Arruda passou dois anos falando em vender o banco…