Milhares de manifestantes ganham as ruas de mais de 100 cidades para exigir respeito aos direitos sociais e contra a corrupção. No DF mais de 35 mil foram até o Congresso Nacional
LEA QUEIROZ
cqueiroz@jornalcoletivo.com.br Redação Jornal da Comunidade
Mais de um milhão de pessoas saíram às ruas em mais de 100 cidades brasileiras, na quinta-feira (20), em novo dia de protestos pelo país. No Distrito Federal, a estimativa é de que 35 mil manifestantes tomaram as imediações do Congresso Nacional e da Praça dos Três Poderes, onde estão concentrados os prédios que abrigam o alto escalão do Executivo, Legislativo e Judiciário federal.
Brasília foi um dos locais em que se registraram momentos de tensão. Após tentativas de invadir o Congresso, os manifestantes acabaram se dirigindo ao Palácio do Itamaraty, sede do Ministério das Relações Exteriores, que fica ao lado, e lá quebraram vidraças e causaram transtornos. O saldo divulgado foi de 31 pessoas feridas, três delas em estado grave. Houve também focos de incêndio.
Os protestos em Brasília tiveram início na sexta-feira, 14, véspera da abertura da Copa das Confederações. Cerca de 400 manifestantes atearam fogo em pneus e bloquearam as vias que passam em frente ao Estádio Nacional Mané Garrincha, que foi reconstruído ao custo de R$ 1 bilhão, quase o dobro do orçamento previsto inicialmente para a obra.
O segundo protesto aconteceu no dia da abertura da Copa das Confederações e reuniu cerca de 1.200 pessoas em frente ao Estádio Nacional. O movimento foi reprimido pela Polícia Militar e houve confronto com diversos manifestantes sendo atingidos por balas de borracha disparadas pela polícia. Na segunda-feira (17) mais 10 mil pessoas se mobilizaram em frente ao Congresso Nacional e boa parte delas ocupou a marquise do prédio. A manifestação durou cerca de seis horas.
As motivações do movimento, que em Brasília começaram por causa dos altos gastos com a Copa das Confederações e do Mundo, ampliaram e os manifestantes reivindicam, entre outras ações, tarifa zero no transporte público do DF, a retirada da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) nº 37, que limita os poderes de investigação criminal do Ministério Público, e pedem também a saída do presidente do Senado Federal, Renan Calheiros, acusado de corrupção, e do deputado Marco Feliciano, presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara, acusado de homofobia.Os manifestantes criticam ainda a presidente Dilma Rousseff e o governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz. Entre as reclamações está o alto gasto com os eventos esportivos em detrimento da atenção a áreas fundamentais como saúde e educação. Os primeiros manifestos foram motivados, em São Paulo e no Rio de Janeiro, pelo aumento de R$ 0,20 nas passagens de ônibus.
O movimento que tomou conta do país é tido como suprapartidário e horizontal, ou seja, sem o comando de lideranças fixas ou pré definidas. Outra marca do evento é a intensa mobilização feita com o uso da internet por meio das redes sociais. A população troca informações numa dinâmica muito veloz e projetam as ações do mundo virtual para o real, saindo às ruas em pontos de concentração e percursos negociados pelas redes.
Assumindo a cidadania
Para o cientista político e professor adjunto na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), Geraldo Tadeu Monteiro, a população está descontente economicamente e politicamente, o que acaba unindo os anseios num mesmo contexto.
O professor considera que os protestos atuais correspondem a um “movimento espontâneo” e essa é sua marca principal. “As pessoas chegam com cartolinas compradas na papelaria com seus pilots e fazem seus cartazes na hora. Não há um grupo orgânico por trás disso, não há um movimento organizado, há uma espontânea vontade de assumir a sua cidadania. Nós estamos indo para a rua e mostrando a nossa cara. A principal marca é a espontaneidade inclusive essa alegria que a gente vê na participação desses jovens. Algo muito emocionante”, comentou em entrevista à Globo News.
Com relação a não aceitação de bandeiras partidárias, o professor comparou com o fenômeno ocorrido em outros movimentos similares na Espanha, Portugal, Turquia e Grécia. “É essa rejeição a um sistema político onde os partidos formam aquilo que os manifestantes chamam de ditadura partidocrática, ou seja, os partidos se sucedem no poder e a situação das pessoas não melhora. A ideia é de se reapropriar da democracia. Não são movimentos antidemocráticos. São por uma democracia ampliada com participação real que vá para além do voto”, analisou.
O pesquisador destaca a importância da cautela nas atitudes das polícias e acredita que qualquer intervenção pode provocar um grande dano.
Novos protestos
Sábado (22)
Acorda Brasília – 9h30
Marcha das Vadias – 14h
Marcha do Vinagre – 17h
Concentração no Museu da República e Rodoviária do Plano Piloto
Segunda-feira (24)
Taguatinga – 14h
Concentração no Taguacenter, seguindo para a Praça do Relógio.
Quinta-feira (26)
Não à PEC 037 – 16 h
Brasília contra a Corrupção – 16h
Concentração no Museu da República e Rodoviária do Plano Piloto