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    Onda de protestos pede mudança

    Milhares de manifestantes ganham as ruas de mais de 100 cidades para exigir respeito aos direitos sociais e contra a corrupção. No DF mais de 35 mil foram até o Congresso Nacional

        LEA QUEIROZ
    cqueiroz@jornalcoletivo.com.br
      Redação Jornal da Comunidade

    Na quinta-feira manifestantes foram às ruas de Brasília reivindicar melhorias na saúde, educação, segurança, entre outrasFoto: Gabriel AzevedoNa quinta-feira manifestantes foram às ruas de Brasília reivindicar melhorias na saúde, educação, segurança, entre outras

    Mais de um milhão de pessoas saíram às ruas em mais de 100 cidades brasileiras, na quinta-feira (20), em novo dia de protestos pelo país. No Distrito Federal, a estimativa é de que 35 mil manifestantes tomaram as imediações do Congresso Nacional e da Praça dos Três Poderes, onde estão concentrados os prédios que abrigam o alto escalão do Executivo, Legislativo e Judiciário federal.
    Brasília foi um dos locais em que se registraram momentos de tensão. Após tentativas de invadir o Congresso, os manifestantes acabaram se dirigindo ao Palácio do Itamaraty, sede do Ministério das Relações Exteriores, que fica ao lado, e lá quebraram vidraças e causaram transtornos. O saldo divulgado foi de 31 pessoas feridas, três delas em estado grave. Houve também focos de incêndio.
    Os protestos em Brasília tiveram início na sexta-feira, 14, véspera da abertura da Copa das Confederações. Cerca de 400 manifestantes atearam fogo em pneus e bloquearam as vias que passam em frente ao Estádio Nacional Mané Garrincha, que foi reconstruído ao custo de R$ 1 bilhão, quase o dobro do orçamento previsto inicialmente para a obra.
    O segundo protesto aconteceu no dia da abertura da Copa das Confederações e reuniu cerca de 1.200 pessoas em frente ao Estádio Nacional. O movimento foi reprimido pela Polícia Militar e houve confronto com diversos manifestantes sendo atingidos por balas de borracha disparadas pela polícia. Na segunda-feira (17) mais 10 mil pessoas se mobilizaram em frente ao Congresso Nacional e boa parte delas ocupou a marquise do prédio. A manifestação durou cerca de seis horas.
    As motivações do movimento, que em Brasília começaram por causa dos altos gastos com a Copa das Confederações e do Mundo, ampliaram e os manifestantes reivindicam, entre outras ações, tarifa zero no transporte público do DF, a retirada da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) nº 37, que limita os poderes de investigação criminal do Ministério Público, e pedem também a saída do presidente do Senado Federal, Renan Calheiros, acusado de corrupção, e do deputado Marco Feliciano, presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara, acusado de homofobia.Os manifestantes criticam ainda a presidente Dilma Rousseff e o governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz. Entre as reclamações está o alto gasto com os eventos esportivos em detrimento da atenção a áreas fundamentais como saúde e educação. Os primeiros manifestos foram motivados, em São Paulo e no Rio de Janeiro, pelo aumento de R$ 0,20 nas passagens de ônibus.
    O movimento que tomou conta do país é tido como suprapartidário e horizontal, ou seja, sem o comando de lideranças fixas ou pré definidas. Outra marca do evento é a intensa mobilização feita com o uso da internet por meio das redes sociais. A população troca informações numa dinâmica muito veloz e projetam as ações do mundo virtual para o real, saindo às ruas em pontos de concentração e percursos negociados pelas redes.

    Assumindo a cidadania
    Para o cientista político e professor adjunto na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), Geraldo Tadeu Monteiro, a população está descontente economicamente e politicamente, o que acaba unindo os anseios num mesmo contexto.
    O professor considera que os protestos atuais correspondem a um “movimento espontâneo” e essa é sua marca principal. “As pessoas chegam com cartolinas compradas na papelaria com seus pilots e fazem seus cartazes na hora. Não há um grupo orgânico por trás disso, não há um movimento organizado, há uma espontânea vontade de assumir a sua cidadania. Nós estamos indo para a rua e mostrando a nossa cara. A principal marca é a espontaneidade inclusive essa alegria que a gente vê na participação desses jovens. Algo muito emocionante”, comentou em entrevista à Globo News.
    Com relação a não aceitação de bandeiras partidárias, o professor comparou com o fenômeno ocorrido em outros movimentos similares na Espanha, Portugal, Turquia e Grécia. “É essa rejeição a um sistema político onde os partidos formam aquilo que os manifestantes chamam de ditadura partidocrática, ou seja, os partidos se sucedem no poder e a situação das pessoas não melhora. A ideia é de se reapropriar da democracia. Não são movimentos antidemocráticos. São por uma democracia ampliada com participação real que vá para além do voto”, analisou.
    O pesquisador destaca a importância da cautela nas atitudes das polícias e acredita que qualquer intervenção pode provocar um grande dano.

     

    Novos protestos
    Sábado (22)
    Acorda Brasília – 9h30
    Marcha das Vadias – 14h
    Marcha do Vinagre – 17h
    Concentração no Museu da República e Rodoviária do Plano Piloto

    Segunda-feira (24)
    Taguatinga – 14h
    Concentração no Taguacenter, seguindo para a Praça do Relógio.

    Quinta-feira (26)
    Não à PEC 037 – 16 h
    Brasília contra a Corrupção – 16h
    Concentração no Museu da República e Rodoviária do Plano Piloto

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