ONG ligada a políticos do PCdoB e do PSB desvia milhões de reais em Brasília
As Organizações Não-Governamentais (ONGs) ficaram conhecidas nos últimos tempos como um instrumento eficaz de roubar dinheiro público. Sem observar critérios elementares de boa gestão, o governo federal despejou, nos últimos cinco anos, 12 bilhões de reais nos cofres dessas entidades. Em vez de grandes resultados sociais, as ONGs vêm encabeçando uma infinidade de escândalos. Descobriu-se que muitas delas são entidades de mentirinha, cujos dirigentes, quase sempre subordinados a partidos políticos, simulavam serviços, montavam prestações de contas e dividiam os lucros entre si.
Luiz Carlos de Medeiros já ganhou muito dinheiro como ongueiro. Sua antiga ONG foi pilhada numa auditoria. Para continuar recebendo – e desviando – recursos públicos, ele simplesmente abriu uma nova
Luiz Carlos é um bem-sucedido ongueiro, embora quase nada apareça em seu nome. De origem humilde, mora hoje num apartamento de cobertura, dirige carros importados, promove festas requintadas, mas também é dono de uma ficha corrida na polícia. A ONG Novo Horizonte, por exemplo, está registrada em nome de Antônio Carlos de Medeiros, irmão dele. “Não tenho nada, nada a ver com a Novo Horizonte. Sou uma pessoa humilde”, diz Luiz Carlos. Luiz tem amigos influentes em sua área de atuação. Um deles é o comunista Agnelo Queiroz, ex-ministro do Esporte e atual diretor da Anvisa. O outro é Joe Valle(foto), secretário de Inclusão Social do Ministério da Ciência e Tecnologia. “Luizinho é bom, sério, vai além do que o ministério exige”, explica o ex-ministro. Em junho de 2006, três meses depois de Agnelo deixar o cargo, a ONG que Luiz diz que não é dele faturou um convênio de 1,6 milhão de reais com o Ministério do Esporte. Meses depois, Luiz atuou na campanha de Agnelo ao Senado.
Agnelo perdeu a eleição, mas a amizade com o ongueiro continuou – e os negócios também. Em 2007, o Ministério do Esporte fez uma auditoria no convênio com a Novo Horizonte e descobriu que os serviços não foram prestados. Uma das acusações graves que a testemunha faz trata do nível de intimidade entre o ongueiro e o ex-ministro. Michael Vieira afirma que um dos saques na conta da empresa fantasma T & Z, feito no dia 1º de outubro do ano passado, no valor de 150 000 reais, teve como destinatário o ex-ministro. Ele relata ter sacado o dinheiro do banco, acompanhado do irmão de Luiz Carlos e de um funcionário da ONG. “O dinheiro foi entregue para o Agnelo”, garante Michael. Agnelo diz que a informação é “absurda”. “Estão querendo me prejudicar”, afirma. Na semana passada, Michael prestou depoimento ao Ministério Público e entregou os documentos ao promotor Ricardo de Souza, que abriu procedimento para investigar o caso. Enquanto isso, Luiz Carlos, aquele que nada tem a ver com ONGs, segue a sua trajetória humilde. Além de planejar sua candidatura a deputado pelo PCdoB, ele assumiu o Instituto Universo, sua nova ONG, e já conseguiu assinar um convênio no valor de 638 000 reais com o Ministério do Esporte. A classe operária, ao que parece, encontrou nas ONGs o seu paraíso.