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    PF inocenta padre Moacir de acusações da Operação Lava Jato

    Após mais de um ano de investigação, a Polícia Federal inocentou o padre Moacir Anastácio de Carvalho, da Paróquia São Pedro, em Taguatinga, de participação em esquema de corrupção apurado pela Operação Lava Jato. Ligado ao ex-senador Gim Argello (ex-PTB-DF), o religioso era investigado por ter recebido, em 2014, doações que somavam R$ 650 mil das construtoras OAS (R$ 350 mil) e Andrade Gutierrez (R$ 300 mil). Ambas são citadas na Lava Jato e pagavam propina a políticos em troca de benefícios.

    As duas transferências teriam sido feitas, respectivamente, a pedido de Gim Argello e do ex-governador Agnelo Queiroz (PT). Segundo a PF, no entanto, não foi comprovado o oferecimento de contrapartidas pelo padre em troca do dinheiro. Ainda em 2014, a paróquia também recebeu doação de R$ 300 mil da Via Engenharia, envolvida na Lava Jato desde a deflagração da Operação Panatenaico, em maio deste ano.

     

    A recomendação que beneficia o religioso está presente no relatório final do inquérito aberto para esclarecer o caso, encaminhado à Justiça no fim de junho e assinado pelo delegado Ivan Ziolkowksi. O documento detalha as etapas da investigação que levaram à conclusão do Polícia Federal sobre a inocência do padre Moacir. A apuração começou em abril do ano passado, com a deflagração da 28ª fase da Operação Lava Jato, que culminou na prisão de Gim Argello.Frequentador da Paróquia São Pedro havia pelo menos 15 anos, o político pediu a Léo Pinheiro, ex-presidente da OAS, que fizesse uma doação à igreja para a realização da festa de Pentecostes, organizada pelo padre Moacir. A PF apurava se a contribuição era, na verdade, um mecanismo de lavagem de dinheiro orquestrado pelo ex-parlamentar.

    Em depoimento aos investigadores, o pároco reconheceu a doação feita pela OAS e a intervenção de Gim Argello no caso. Também confirmou as contribuições da Andrade Gutierrez e da Via Engenharia, e a atuação de Agnelo Queiroz na obtenção dos recursos. Segundo o padre, os dois políticos eram frequentadores da paróquia e prometeram conseguir doações para a festa de Pentecostes daquele ano. No entanto, negou ter oferecido quaisquer benefícios a Gim e Agnelo.

    Segundo a transcrição do depoimento, padre Moacir afirmou “que não prometeu votos ou fazer campanha seja pra Gim Argello ou para qualquer outro político em razão daquelas doações; que nega ter apresentado Gim Argello nos eventos da igreja e ter pedido votos para ele”.

    O religioso disse ainda que o dinheiro foi utilizado na realização da festa de Pentecostes de 2014 e nas obras de terraplenagem do estacionamento do Centro de Evangelização Renascido em Pentecostes, em Ceilândia, e apresentou notas fiscais referentes aos serviços. Os investigadores então buscaram comprovar a destinação dos recursos e a regularidade dos pagamentos.

    Obras
    A Polícia Federal acionou a empresa Feijãozinho Escavações e Terraplanagem Ltda, responsável pela obra no centro de evangelização. Segundo o relatório, a companhia ofereceu “extensa documentação comprovando a execução dos serviços contratados”. Laudos periciais feitos pela PF também comprovaram que não houve superfaturamento na terraplanagem do estacionamento e que foram praticados os preços de mercado.

    Ainda de acordo com a corporação, ficou comprovada a prestação de serviços pela empresa BGR Som e Luz durante a festa de Pentecostes de 2014. “Depreende-se, portanto, que não foram encontrados indícios que os recursos recebidos da OAS pela paróquia São Pedro tivessem destinação estranha à execução da obra examinada e na organização de eventos religiosos. Neste passo conclui-se que os valores recebidos foram usados conforme alegado”, afirma o relatório.

    O documento conclui: “Por fim, não restou comprovada qualquer espécie de contrapartida proporcionada pelo padre Moacir Anastácio de Carvalho, seja de cunho financeiro direto, vantagens genéricas ou benefícios eleitorais entre os fiéis em prol de Jorge Afonso Argello ou outro”.

    Ao Metrópoles, a defesa do pároco afirmou que ele não comentaria pessoalmente o relatório. No entanto, por meio do advogado Wellington Medeiros, o religioso disse que acredita na Justiça e que prestou todas as informações necessárias à investigação. “Agora, ele está focado em reconstruir a imagem, que foi danificada. Graças a Deus ficou provado que ele não tem envolvimento com nada disso”, afirmou o advogado à reportagem.

    Mudanças
    Após a divulgação das acusações, no ano passado, a festa de Pentecostes comandada pelo padre Moacir passou por algumas mudanças. Antes, a celebração era marcada pela presença de políticos, mencionados frequentemente diante do público. Alguns até discursavam. Na edição deste ano, o evento contou com a presença de poucos políticos.

    Também na edição deste ano, o pároco atacou a gestão de Rodrigo Rollemberg à frente do Palácio do Buriti. “Já tem dois anos que não consigo pregar um prego na igreja graças a esse governo que está aí”, disparou durante a Missa da Cura, último ato da celebração. Apesar das polêmicas, a festa ainda atraiu 1,5 milhão de pessoas, segundo os organizadores.

    Aliados
    Ao contrário do padre Moacir, os dois políticos que intercederam pela paróquia do religioso junto a empreiteiras ainda estão enfrentando acusações na Justiça. Em outubro do ano passado, o ex-senador Gim Argello foi o primeiro político do DF condenado no âmbito da Operação Lava Jato. A sentença, de 19 anos de prisão, diz respeito aos crimes de corrupção passiva, lavagem de dinheiro e obstrução da Justiça.

    De acordo com as investigações, o ex-parlamentar, enquanto presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Petrobras no Senado, cobrava propina de empresas para que não fossem convocadas a depor na Casa.

    Já o ex-governador Agnelo Queiroz é um dos alvos da Operação Panatenaico, deflagrada em maio deste ano e que apura o pagamento de propinas a figuras do alto escalão do GDF em contratos de obras públicas na capital, principalmente na construção do Estádio Nacional de Brasília Mané Garrincha. O processo tramita na Justiça Federal de Brasília.

    Agnelo chegou a ser preso no âmbito da operação, mas foi liberado após uma semana. A investigação também atinge o ex-governador José Roberto Arruda e o ex-vice-governador Tadeu Filippelli, além do dono da Via Engenharia, o empresário Fernando Márcio Queiroz.

     

    Fonte: Metrópoles

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