Um relatório da agência do governo de combate à lavagem de dinheiro revelou em 2015, que Lula, Palocci, Pimentel e Berenice, entre outros petistas, movimentaram quase meio bilhão de reais em transações com indício de irregularidades
Naquele ano, analistas do Conselho de Controle de Atividades Financeiras, mais conhecido pela sigla Coaf, terminaram o trabalho mais difícil que já fizeram.
O Coaf, subordinado oficialmente ao Ministério da Fazenda, é a agência do governo responsável por combater a lavagem de dinheiro no Brasil. Reúne, analisa e compartilha com o Ministério Público e a Polícia Federal informações sobre operações financeiras com suspeita de irregularidades.
Naquela sexta-feira, dia 23 de outubro de 2015, os analistas do Coaf entregaram à chefia o Relatório de Inteligência Financeira 18.340. Em 32 páginas, eles apresentaram o que lhes foi pedido: todas as transações bancárias, com indícios de irregularidades, envolvendo, entre outros, os quatro principais chefes petistas sob investigação da PF, do Ministério Público e do Congresso.

Eis o quarteto que estrelava o relatório: Luiz Inácio Lula da Silva, ex-presidente da República, líder máximo do PT e atualmente solto graças aos amigos que colocou no STF e dizendo ser candidato ao Planalto; Antonio Palocci, ministro da Casa Civil no primeiro mandato de Dilma Rousseff, operador da campanha presidencial de 2010 e hoje lobista; Erenice Guerra, ministra da Casa Civil no segundo mandato de Lula, amiga de Dilma e hoje lobista; e, por fim, Fernando Pimentel, ministro na primeira gestão Dilma, também operador da campanha presidencial de 2010, ex-governador de Minas Gerais.
O Relatório 18.340, ao qual a revista ÉPOCA teve acesso, foi enviado à CPI do BNDES. As informações contidas nele ajudaram, também, investigadores da Receita, da PF e do MP a avançar nas apurações dos esquemas multimilionários descobertos nas três operações que sacudiram o Brasil: Lava Jato, Acrônimo e Zelotes.
Dois meses após o início da Lava Jato, nos dias 29 de maio e 6 de junho de 2014, o ex-presidente Lula, então com 69 anos de idade, aplicou um total de R$ 6,2 milhões num plano de previdência privada da Brasilprev, do Banco do Brasil. Por se tratar de um investimento de mais de R$ 1 milhão no mercado segurador, logo acendeu um sinal de alerta no Coaf.
A maior parte desse dinheiro investido tem como origem a empresa L.I.L.S. Palestras Eventos e Publicações, controlada pelo ex-presidente. A L.I.L.S., utilizada para receber pagamentos das palestras de Lula no Brasil e no exterior, também entrou na mira do órgão de inteligência financeira.
Entre 1º de abril de 2011 e 31 de maio de 2015, a empresa de palestras de Lula movimentou R$ 52,3 milhões. Recebeu R$ 27 milhões e transferiu R$ 25,3 milhões. Entre os maiores clientes do ex-presidente está a Construtora Norberto Odebrecht, que bancou boa parte das viagens e palestras dele no exterior, em países onde a empreiteira possui obras financiadas com recursos do BNDES. Como revelou ÉPOCA, contratos e notas fiscais confidenciais mostram que a Odebrecht pagou R$ 4 milhões ao ex-presidente entre contratações de eventos e despesas adicionais das viagens. Era a maior patrocinadora de Lula.
A movimentação financeira do ex-presidente enviou outro alerta. Os agentes de inteligência financeira detectaram e relacionaram como digna de nota uma transferência de valores aparentemente menor, mas que chamou a atenção pelo destinatário.
De acordo com o Relatório 18.340, a empresa de palestras de Lula repassou R$ 48 mil à empresa Coskin Assessoria e Consultoria Empresarial, de capital social de míseros R$ 2 mil. A consultoria pertence a Fernando Bittar, que no papel era dono de um sítio em Atibaia, interior de São Paulo, atribuído a Lula – propriedade sempre negada pelo ex-presidente.
Trata-se da primeira prova material de uma relação financeira a unir Lula ao dono do sítio. Bittar era sócio de um dos filhos de Lula, que dividia escritório com um amigo do ex-presidente: o pecuarista José Carlos Bumlai, acusado de cobrar propina de empresas em nome do petista.
Da conta da L.I.L.S. no Banco do Brasil, estão registradas, ainda, transferências para o bolso do próprio Lula, no valor de R$ 1,5 milhão, e para seus filhos. A que mais recebeu dinheiro foi Lurian Cordeiro Lula da Silva: R$ 365 mil. Em seguida, está Luiz Cláudio Lula da Silva, dono da empresa LFT Marketing Esportivo, com R$ 209 mil – ele é investigado na Operação Zelotes por ter recebido R$ 2,4 milhões da quadrilha que comprava medidas provisórias no governo Dilma. A Flexbr Tecnologia, de Marcos Claudio Lula da Silva, enteado do ex-presidente e vereador de São Bernardo do Campo, na Grande São Paulo, recebeu R$ 88 mil. Sandro Luiz Lula da Silva, outro filho do líder petista, embolsou R$ 60 mil.
Tanto as entradas quanto as saídas de dinheiro na L.I.L.S. foram apontadas pelo Coaf como suspeitas. De acordo com o relatório, houve “movimentação de recursos incompatível com o patrimônio, a atividade econômica ou a ocupação profissional e a capacidade financeira do cliente”. O cliente, nesse caso, é Luiz Inácio Lula da Silva. Apesar de ter movimentado R$ 52,3 milhões em créditos e débitos, o ex-presidente tem uma renda mensal de R$ 3.753,36, de acordo com o órgão de inteligência do Ministério da Fazenda.
Segundo fontes na Lava Jato, as transações financeiras da L.I.L.S. e do Instituto Lula, registrados no nome do ex-presidente, estavam sendo investigadas na operação.
Essas investigações, aparentemente díspares entre si, tinham muito em comum. Envolviam políticos da aliança que governava o país e grandes empresários. No caso da CPI do BNDES, os parlamentares investigaram as suspeitas de que os líderes petistas tenham se locupletado com as operações de financiamento do banco, sobretudo as que beneficiaram o cartel de empreiteiras do petrolão.
Mas em 2021, decisões absurdas do STF e STJ, acabou com o trabalho da Lava Jato, e livrou muitos políticos corruptos da cadeia e de processos. A influência de notórios corruptos de colarinho branco no Judiciário brasileiro é uma vergonha!
Com as últimas decisões, ser corrupto no Brasil vale a pena: Rouba, paga advogados com o dinheiro do roubo e ainda não fica na cadeia porque colocou amigos para julgar seus próprios processos.
E o poderoso Senado Federal assiste pacificamente ao desmonte do combate à corrupção e o crescimento da insegurança jurídica no Brasil.
É necessário renovar em 2022, o Senado Federal.