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    TER UM FILHO COM SÍNDROME DE DOWN NÃO É UM CASTIGO DE DEUS

    Escrito por Saber Melhor Ligado 30 Agosto 2013. Publicado em Blog

    Lendo um texto no Facebook, nos comentários, nos deparamos com o relato de algumas pessoas, pais de crianças com síndrome de Down, que ouviram de outras pessoas que a criança era um castigo de Deus. Vários relatos davam conta de tamanha idiotice. Também ouvimos tal absurdo, mas não achamos que fosse algo corriqueiro, achei que era uma ato de preconceito isolado e que as pessoas, em geral, não pensavam e muito menos falavam uma asneira tão grande. Na verdade, não ouvimos, apenas nos foi relatado que uma colega de trabalho havia soltado tal pérola quando soube que o nosso terceiro bebê tinha síndrome de Down. Nunca demos importância ao fato e continuamos não dando, mas, diante do relato de outros pais, resolvemos escrever sobre o assunto.

    Primeiro, Deus não castiga o homem e um filho nunca será um castigo. Todo e qualquer filho guarda particularidades e traz alegrias e tristezas próprias de sua condição humana. Infelicidades e castigos da vida não são castigo divino. As dificuldades que a vida nos apresenta devem ser encarados como momentos de reflexão e conversão.  Um filho com síndrome de Down ou com qualquer condição que o diferencie da chamada “normalidade” exige cuidados adicionais, só isso, nada mais do que isso. Cuidados adicionais que nos oportunizam dedicar mais, amar mais e de forma mais intensa.

    Nem mesmo eventos trágicos – o que, definitivamente, não é o caso da síndrome de Down – devem ser encarados na perspectiva do castigo divino. O Papa emérito, Bento XVI, ao realizar a oração do Ângelus, em 2010, logo depois do furação Xynthia provocar 53 mortes no sul da França, destacava que “Deus se manifesta das mais diversas maneiras na vida de cada um de nós”, disse o Papa, mas, “para poder reconhecer sua presença, no entanto, é necessário que nos acheguemos a Ele conscientes de nossa miséria e com profundo respeito”.

Retomando em seguida à passagem do Novo Testamento na qual Jesus fala sobre o assassinato de galileus no templo por ordem de Pôncio Pilatos e a tragédia da queda da torre de Siloé sobre viajantes, o Papa sublinhou que “em face à conclusão fácil de considerar tais eventos como uma punição divina, Jesus restitui a verdadeira imagem de Deus, que é bom e não pode desejar o mal”.

Advertindo contra a ideia de que tais infortúnios poderiam ter origem na própria conduta dos que sofrem, Jesus nos convida a “a fazer uma leitura diferente daqueles fatos, posicionando-os na perspectiva da conversão”.
De fato, o pontífice observou depois que “os infortúnios, os eventos trágicos, não devem despertar em nós sentimentos de culpa, mas sim representar ocasiões para refletir, para superar a ilusão de que é possível viver sem Deus, e para reforçar, com a ajuda do Senhor, nosso empenho em mudar nossas vidas”.

Todavia, destacou o Papa, a possibilidade da conversão “exige que aprendamos a interpretar os fatos da vida na perspectiva da fé, animados pelo temor a Deus”.

“Em face do sofrimento e do luto, a verdadeira sabedoria está em reconhecer a precariedade da existência e ler a história humana com os de Deus, o qual, desejando sempre o bem a seus filhos, por um desígnio inescrutável de seu amor, permite às vezes que estes sejam provados pela dor para que possam ser conduzidos a um bem maior”.

    Para os pais de crianças com síndrome de Down ou com qualquer outra espécie de dificuldade física ou intelectual, seus filhos nunca serão um fardo ou um castigo. É uma estupidez pensar assim e um ato de extremo preconceito e crueldade externar tal pensamento. As pessoas com deficiências não são inferiores em dignidade a nenhuma outra.

    Todos temos as nossas dificuldades, sejam natas ou adquiridas. Alguns nascem com alguma dificuldade decorrente de alterações genéticas ou por problemas de saúde e terão que aprender a conviver com as dificuldades, superar os obstáculos. Outros, adquirem traumas familiares (basta imaginar os filhos de lares desfeitos e imersos em brigas, o abandono afetivo etc) e tais traumas podem trazer muito mais dificuldades do que uma doença. Tais dificuldades, entretanto, nunca serão fruto de um castigo divino.

    Para os mais religiosos e familiarizados com a linguagem e com a história narrada na Bíblia, basta lembrar de Jó, definido por Deus como um homem sem culpa e reto (Jó 1:8), mas que passou por diversas e pesadas provações. Castigo? Não, Deus mesmo disse que se tratava de um homem sem culpa e, portanto, não havia motivos para castigá-lo.

    O próprio Cristo, Deus feito homem, exceto quanto ao pecado, passou por provações inúmeras e pesadas, sendo morto, violenta e indignamente no Madeiro. Ali também não havia castigo, pelo contrário, havia um ato de tremendo amor de Deus para com os homens.

    Na verdade, quando falamos em castigo, deveríamos falar em consequências dos nossos atos. Por exemplo, um homem que se entrega ao vício do cigarro. Fuma por anos e adquire câncer no pulmão. O câncer é um castigo divino ou consequência do hábito de fumar? A resposta parece lógica.

    Importante, ainda, lembrar o Evangelho de São João, capítulo 9, quando ao avistarem um cego de nascença, o cego de Siloé, os discípulos perguntaram: “Mestre, quem pecou: este homem ou seus pais, para que ele nascesse cego? ” A resposta de Cristo foi a seguinte:

    “Nem ele nem seus pais pecaram, mas isto aconteceu para que a obra de Deus se manifestasse na vida dele.

    A síndrome de Down e nem qualquer outra condição é um castigo divino. Cego quem enxerga em um filho um castigo. Preconceituoso e cruel quem faz uma afirmativa tão inoportuna, de que um filho com síndrome de Down é um castigo. Um filho é uma oportunidade para se aprender a amar. Um filho com síndrome de Down é uma oportunidade em dobro, tanto que muitos pais, que vivem a experiência de ter um filho com síndrome de Down, alcunham a síndrome como sendo a síndrome do amor.

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