O presidente, pela primeira vez, se solidarizou com as vítimas da doença. Ele voltou a adotar tom conciliador
Desta vez, ele citou o médico cardiologista Roberto Kalil, do hospital Sírio-Libanês, que admitiu ter usado o medicamento como parte do seu tratamento bem-sucedido contra a doença.
“Passei a divulgar nos últimos 40 dias a possibilidade do tratamento da doença na fase inicial [com uso de cloroquina]. Conversei com o [Roberto] Kalil, que assumiu que não só usou a cloroquina como a ministrou para dezenas de pacientes”, disse. “Ele ministrou o medicamento para não se arrepender no futuro”, prosseguiu.
A fala destoa do que foi pregado pelo seu ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, que admitiu o uso em pacientes que enfrentam quadro mais grave da doença, como internações na UTI.
Na sequência, Bolsonaro se solidarizou com as vítimas do coronavírus pela primeira vez.
“Vivemos momento ímpar em nossa história. Ser presidente da República é olhar um todo e não apenas as partes, não restam dúvidas de que nosso objetivo principal sempre foi salvar vidas”, disse. “Gostaria de me solidarizar com famílias que perderam seus entes queridos”, disse.
O presidente manteve o tom ameno adotado no último pronunciamento, quando deixou para trás alcunhas como “gripezinha” e “resfriadinho” e tratou a pandemia como “o maior desafio do nosso tempo”.
Governadores e prefeitos
Diferentemente das críticas que vem fazendo, Bolsonaro afirmou que “respeita a autonomia dos governadores e prefeitos”, mas jogou no colo deles a responsabilidade por medidas de isolamento – que ele é contra. Segundo ele, as medidas adotadas nos estados “de forma restritivas ou não” são de responsabilidade dos gestores locais. Ele ressaltou, contudo, que o governo federal não foi consultado sobre “sua amplitude ou duração”.
Dessa forma, o chefe do Executivo voltou a defender o isolamento vertical ao dizer que “cada país tem suas particularidades” e que as consequências do tratamento ao coronavírus “não podem ser mais danosas” à população que a própria doença.
“Os mais humildes não podem deixar de se locomover para buscar seu pão de cada dia”, disse. E completou: “O desemprego também leva à pobreza, à fome, à miséria e, enfim, à própria morte”, destacou.
Auxílio Emergencial
Bolsonaro frisou, no discurso, as medidas que o governo federal divulgou nos últimos dias para tentar reduzir os impactos econômicos no país e o desemprego. O presidente lembrou que o auxílio emergencial de R$ 600 a trabalhadores informais e microempreendedores começará a ser pago na quinta-feira (09/04).
“Disponibilizamos R$ 60 bilhões via Caixa Econômica Federal para capital de giro destinados a micro, pequenas e médias empresas e à construção civil. Os beneficiários do Bolsa Família, que são quase 60 milhões de pessoas, também receberão um abono complementar do Auxílio Emergencial”, destacou.
O presidente autorizou também, para junho, um saque de até R$ 1.045 aos brasileiros que têm conta vinculada ao FGTS.
“Tenho certeza de que a grande maioria dos brasileiros quer voltar a trabalhar. Esta sempre foi minha orientação a todos os ministros, observadas as normas do Ministério da Saúde. Quando deixar a Presidência, pretendo passar ao meu sucessor um Brasil muito melhor do que aquele que encontrei em janeiro do ano passado”, finalizou.
Vítimas
O pronunciamento foi feito no dia em que o país bateu um novo recorde de número de mortos – 133 – em decorrência da Covid-19, o que levou o total de vítimas a 800, com 15.927 casos confirmados e taxa de letalidade de 5%.
Bolsonaro passou as últimas semanas em constante tensão com seu ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, a quem ameaçou de demissão, pressionou para passar a defender o chamado isolamento vertical (proteção específica aos grupos de risco, como idosos e pessoas com doenças crônicas) e trombou sobre o uso abrangente da hidroxicloroquina em pacientes da Covid-19 – mesmo ainda sem estudos científicos devidamente validados sobre a eficácia da droga.