Opositores apresentam queixa contra Ibaneis Rocha (MDB) por suposto abuso de poder econômico e irregularidades em inscrição no partido. Documento, encaminhado à Procuradoria Regional Eleitoral, não tem data para ser analisado
Por Jéssica Eufrásio – Correio Braziliense –
Após a circulação de um vídeo no qual o candidato a governador Ibaneis Rocha (MDB) promete reconstruir casas derrubadas pela Agência de Fiscalização do Distrito Federal (Agefis) com o próprio dinheiro, o Ministério Público Eleitoral (MPE) analisará denúncia apresentada por sete candidatos contra o emedebista. O documento, entregue no órgão na terça-feira, foi encaminhado ontem à Procuradoria Regional Eleitoral (PRE-DF). Ainda não há prazo para apreciação do processo.
Assinada pelos candidatos ao Palácio do Buriti Alberto Fraga (DEM), Alexandre Guerra (Novo), Eliana Pedrosa (Pros), Fátima de Sousa (PSol), Júlio Miragaya (PT), Paulo Chagas (PRP) e Rogério Rosso (PSD), a denúncia pede esclarecimentos por parte do órgão e da Corregedoria Eleitoral e elenca acusações relacionadas a abuso de poder econômico na campanha e a irregularidades no processo de inscrição na sigla. O texto sugere que o candidato teria negociado contrapartidas financeiras com o candidato à Câmara dos Deputados e presidente regional licenciado do MDB/DF, Tadeu Filippelli, para entrar no partido.
Mesmo sem ter subscrito o documento, o candidato à reeleição ao GDF, Rodrigo Rollemberg (PSB), também criticou a postura de Ibaneis. Em entrevista ao programa CB.Poder, da TV Brasília, ontem, o socialista considerou a promessa de reconstrução das casas derrubadas pela Agefis no Assentamento 26 de Setembro como um “crime eleitoral de altíssima gravidade”. O candidato não acredita que o processo será julgado a tempo das eleições.
Na quarta-feira, em debate promovido pelo Correio em parceria com a emissora, Ibaneis foi confrontado pelos adversários e negou as acusações. Ele declarou que a proposta de reconstrução não se tratou de crime. “Abrirei processo administrativo e aquelas (casas) que foram, comprovadamente, derrubadas de forma ilegal serão reconstruídas com indenização; serão feitas pelo Estado. Como não quero sobrecarregá-lo, fiz uma proposta genérica. (…) Vou utilizar do que é meu para reconstruir as casas e usar o que receber das parcelas dos precatórios”, declarou.
A assessoria de Ibaneis reforçou o posicionamento do concorrente ao Buriti: “A campanha não foi intimada. Temos a certeza de que a nossa campanha tem cumprido rigorosamente a legislação eleitoral. Esse tipo de medida decorre do desespero de candidato que tem sido rejeitado por conta da sua vida pregressa e que não tem propostas viáveis para gerir o Distrito Federal”, informou em texto. O Correio ligou ontem quatro vezes para Filippelli, mas não obteve retorno até o fechamento desta edição.
Debate repercute nas ruasEnfrentamentos durante o evento realizado pelo Correio refletem nos discursos dos candidatos durante o último dia de comícios e reuniões públicas: os ataques e denúncias foram lembrados em caminhadas e conversas com populares
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Faltam menos de 50 horas para o brasiliense ir às urnas e definir o destino político do país. Ontem, os candidatos tiveram a última oportunidade de realizar comícios e reuniões públicas. No Distrito Federal, as trocas de farpas e acusações emitidas no debate entre candidatos ao Palácio do Buriti realizado pelo Correio Braziliense e TV Brasília, na quarta-feira, repercutiram nas ruas e mostraram que o clima da campanha eleitoral continuará quente até o último minuto.
Líder nas pesquisas de intenção de voto, Ibaneis Rocha (MDB) foi o mais atacado durante as 2h20 de debate e continuou a receber críticas dos oponentes nos compromissos de ontem. Em caminhada pelo Sol Nascente, Alberto Fraga (DEM) afirmou que o advogado tentou comprar votos. Um vídeo de Ibaneis viralizou nas redes sociais: o candidato promete reconstruir, com “o próprio dinheiro”, residências da Colônia Agrícola 26 de Setembro que foram derrubadas em operações da Agência de Fiscalização do DF (Agefis).
“Está mais do que caracterizada a compra de votos. É um absurdo. Ele tem tanto domínio no Judiciário que fala de maneira irônica que o dinheiro é dele e ele faz o que quiser”, acusou Fraga. O democrata aproveitou para atacar os institutos de pesquisa. “No debate do Correio, todo mundo ficou indignado. Isso acaba desmotivando as pessoas. Espero que o povo não se deixe influenciar pelas pesquisas que são compradas”.
Eliana Pedrosa (Pros) voltou a dizer que não respondeu a nenhum processo |
Eliana Pedrosa (Pros) protagonizou, junto a Ibaneis, o principal confronto do debate. Após a ex-distrital acusar o oponente de compra de voto, o emedebista devolveu dizendo que Eliana “caminha com o que há de mais podre” no DF. Durante compromisso na área central de Taguatinga, a candidata do Pros relembrou o acontecimento, chamou o oponente de arrogante e o acusou de “mentir para diminuir os outros”. “Ele fugiu da pergunta e partiu para a agressão. Tenho convicção e provas para dizer que não respondi a nenhum processo, coisa que ele não teve coragem de dizer. A arma de quem não tem argumento é a grosseria”, atacou.
No bloco seguinte ao confronto, Rogério Rosso (PSD) manifestou repúdio à atitude de Ibaneis e afirmou que “isso não é modo de tratar uma mulher”. Ontem, voltou a criticar o posicionamento do advogado durante compromisso em Planaltina, afirmando que houve excesso, falta de respeito e verdade. “Preferiram partir para a agressão. Vejo com preocupação o comportamento de candidato que tenta comprar eleição com truculência”, disse Rosso.
O candidato Ibaneis Rocha (MDB) foi acusado de compra de votos durante o debate |
O candidato à reeleição, Rodrigo Rollemberg (PSB), fez comício na Ceilândia às 18h e, mais cedo, no CB Poder, também criticou atitudes do emedebista. Rollemberg disse que o oponente não é novo na política, como prega em campanha. “Patrocinado pelo Tadeu Filippelli, ele é a nova máscara da velha política”, garantiu. O socialista citou ainda as condições financeiras de Ibaneis, que declarou mais de R$ 300 milhões em bens à Justiça Eleitoral. “Jamais vou poder concorrer financeiramente. Ele compra cabo eleitoral, deputado e apoio. Esses são crimes eleitorais que estão sendo apurados pela Justiça”, apontou Rollemberg.
Confiança
Ibaneis classifica os ataques como “desesperados”. “Todos eles entraram na zona de desespero e se uniram para derrubar o candidato que o povo escolheu”, atacou. O advogado passou o dia na Ceilândia, caminhou pelo Sol Nascente e pela Feira Central e fez uma carreata pelo centro da cidade. Confiante no resultado das últimas pesquisas, ele alfinetou oponentes: “Acho que eles deviam ter debatido mais propostas, mas eles não têm. Até porque, vêm de um passado onde jogam a luta suja. Eu estou nas ruas com meu povo e tenho certeza de que vou ser correspondido domingo nas urnas”.
Alberto Fraga (DEM) fez campanha no Sol Nascente e voltou a atacar Ibaneis Rocha. |
O mestre em Ciência Política e professor de Direito Eleitoral da Universidade Católica e do UniCeub Alessandro Costa afirma que são normais os ataques ao líder das intenções de voto. “Ainda há um desconhecimento popular sobre o candidato Ibaneis e os oponentes querem colar nessa imagem uma tese de que possa retirar votos dele. Isso é comum, ainda mais tendo em vista a disputa de quatro nomes pela vaga restante no segundo turno”, aponta.
Ontem foi o último dia para exibição de propaganda eleitoral gratuita no rádio e na TV. Alessandro Costa lembra que, com o período de campanha e de propaganda diminuída de 90 para 45 dias, os debates passaram a ganhar importância ainda maior. “Tivemos os confrontos diretos potencializados, e os candidatos sabem e se preparam para isso. Eles vão munidos de pesquisas de intenção de voto externas e internas. O primeiro colocado vai preparado para se manter na mesma posição, enquanto os concorrentes buscam confrontos para diminuir a ascensão de um nome”.
Militantes
A candidata do Psol ao Palácio do Buriti, Fátima Sousa, passou o dia em ato no câmpus Darcy Ribeiro da Universidade de Brasília (UnB), na qual atua como professora. Pelos corredores, recebeu cumprimentos de alunos elogiando o desempenho no debate do Correio Braziliense. Fátima também atacou Ibaneis e afirmou que o advogado compra pessoas e partidos. “Isso demonstra uma fragilidade da democracia. É um desserviço à boa prática política”, lamentou. A candidata ressaltou que seus cabos eleitorais são formados por alunos e militantes do PSol, que “se apresentam voluntariamente para apoiar nossas propostas”.
O candidato do PT, Júlio Miragaya, participou de corpo a corpo no Recanto das Emas, onde recebeu retorno positivo dos eleitores sobre o desempenho no debate do Correio. Ao fim da tarde, fez carreata pela Ceilândia e comício na Praça da Bíblia. Miragaya negou clima de cordialidade com Alberto Fraga durante o debate, afirmando que isso não ocorre porque o candidato apoia Jair Bolsonaro (PSL) para à presidencia. “Pela primeira vez, para nossa surpresa, ontem no debate eu ouvi o Fraga dizer que vai investir em políticas públicas. Porque o discurso dele sempre foi o de que bandido bom é bandido morto. E essa mudança é muito boa pra ele”, disse Miragaya
Alexandre Guerra (Novo) panfletou pela Rodoviária do Plano Piloto durante a tarde e o general Paulo Chagas (PRP) caminhou pelo comércio do Taguacenter, em Taguatinga. Guillen (PSTU) não teve agenda pública.