ESTUPRADA, DROGADA, VICIADA, PROSTITUÍDA, LADRA, PRESIDIÁRIA E ABANDONADA

Escrito por Saber Melhor Ligado 

 

O título é pesado porque é o resumo, real, da vida de uma moça – não diremos o nome em respeito à privacidade e intimidade – que foi escravizada pelas drogas, em especial pelo crack. A personagem do trágico enredo é real, nasceu em 1989, em Brasília . Hoje conta 24 anos. Foi presa por furto. Diante dos dados do processo foi instaurado o exame para saber se as drogas haviam acabado com sua integridade mental. O resultado do laudo, diremos apenas ao final. No laudo psicológico consta o histórico da vida desta moça, que, hoje, está presa pelo crime de roubo. Contamos a história para exemplificar o que as drogas fazem com a vida dos que as usam. Não deixe de ler e compartilhar.

 

Nossa personagem nasceu em Brasília, de parto normal. Apresentou desenvolvimento psicomotor normal. Teve as viroses que as crianças costumam ter. Filha mais velha de um total de quatro filhos. Seus pais se separaram quando ela tinha por volta de 10 (dez) anos de idade. Três anos depois, quando ela tinha 13 anos, sua mãe constituiu uma nova família. O contato com o pai biológico se tornou esporádico. Há alguns anos que ela não mantém qualquer espécie de contato com o pai. A infância foi marcada por vários episódios de alcoolismo e uso de drogas ilegais por parte dos familiares paternos e maternos. Em suma, cresceu em um lar desajustado.

Estudou até a quinta série, em uma escola pública no Distrito Federal. Abandonou a escola aos 12 anos, porque engravidou. Veja bem, engravidou aos 12 anos.  Segundo a nossa legislação, manter relações sexuais com menor de 14 anos configura o chamado estupro presumido. Por causa da gravidez foi morar com o pai da criança (ou estuprador, se preferir), com quem viveu até os 19 anos. Teve mais um filho. A profissão do sujeito: ladrão. Roubava para consumir merla. A introduziu, desde o início do “relacionamento”, ao mundo das drogas. O “companheiro” foi assassinado em 2006, devido a dívida com traficantes.

Um anos depois do falecimento do companheiro, quando ela já era viciada em merla, acabou se envolvendo com outro homem, também ladrão, também viciado em merla. Antes que alguém diga que ela também não é flor que se cheire, deve-se lembrar que ela foi introduzida no mundo das drogas aos 12 anos, que, ainda criança, engravidou de um adulto, em uma relação sexual que a nossa legislação qualifica de estupro presumido.

Do segundo companheiro também engravidou, sendo que o filho, hoje, conta com 05 anos. O relacionamento já acabou e a criança ficou com o pai. Não deu notícias dos dois primeiros filhos. Estuprada, drogada, viciada e prostituída e longe dos filhos.

Foi consumida pelas drogas. Aos 12 anos, já usava droga e já era mãe. O uso de drogas se tornou crônico. De drogada, logo passou a viciada. No início, chegou a trabalhar como doméstica, como babá e fez bicos como manicure. Todo o dinheiro ia para aquisição de drogas.

Viciada, começou a se prostituir. O sexo era a única forma de conseguir dinheiro para sustentar o vício. No início, quando ainda era novidade no “mercado” a prostituição conseguia sustedrogai vício na merla que era consumida por ela e pelo primeiro companheiro.

Quando nossa personagem deixou de ser novidade, não mais despertava o interesse dos que se valiam de prostitutas, a solução foi começar a praticar pequenos delitos contra o patrimônio. Pequenos furtos para sustentar o vício. Tornou-se ladra.

Quando tinha por volta de 20 anos, nossa personagem já havia sido estuprada, drogada, se tornado viciada, se prostituído e tornou-se ladra. São os efeitos da droga e de uma infância roubada.

Esteve presa por três vezes por causa dos pequenos furtos. Na primeira vez, ficou presa por 04 meses, na segunda vez, mais três meses de cárcere.

Ela diz que durante as três gravidezes não conseguiu deixar de usar merla. Mas o que é ruim pode se tornar pior e foi o que aconteceu aos 17 anos, quando um de seus irmãos a ofereceu uma pedra de crack, provavelmente, oferecendo uma sensação melhor, uma “liberdade” maior do que a proporcionada pela merla. O vício foi instantâneo. Foi arrebatada na primeira tragada. A vida virou um inferno pior do que já era. Ela relata que inclusive dialogava com o “capeta”, que ficava rindo dela e a mandando machucar as pessoas.

O uso de drogas, segundo os relatos da nossa personagem, passou a ser durante todo o dia, e durante toda noite também. Diz, a nossa personagem, que em uma noite, usava crack com outra pessoa, quando o capeta a contou que a companheira de vício iria machucá-la. Imaginando que iria ser agredida, feriu a companheira com uma faca. Foram parar na delegacia, mas ninguém deu importância, foram liberadas.

Ao conversar com as peritas que a examinavam, ao falar do crack, começou a chorar, dizendo que essa droga acabou com sua vida. O único sentido de sua vida é usar o maldito crack. Diz que chegou a pedir ajuda para largar a droga, mas ninguém a ajudou e cada vez ela se chafurdou mais na droga. Pediu ajuda em hospitais públicos, à mãe e à avó materna, mas ninguém a ajudou.

Vale lembrar, nossa personagem já foi estuprada aos 12 anos; drogada, desde cedo; Logo se tornou viciada; para sustentar o vício vendeu o próprio corpo se submetendo aos caprichos de gente deplorável, suja, doente e agressiva; quando o seu corpo deixou de ter valor, se tornou ladra. Foi presa.

Nos últimos três anos passou a dormir na rua e a comer lixo. Passou a roubar mais vezes. Já foi ameaçada e agredida por traficantes. Em uma das agressões foi levada a um hospital público, recebeu alguns curativos e foi mandada embora.

Quando precisava da droga – e precisava toda hora – e não tinha como comprar, ela saia com a intenção de roubar qualquer objeto que tivesse algum valor para trocá-lo pelo crack, pois se não conseguisse usar a droga ficava desesperada. Tentou se matar, ingerindo chumbinho.

Cometeu um roubo, em concurso de pessoas, e foi presa. Tornou-se presidiária. Foi condenada ao pagamento de 05 anos e 04 meses de reclusão. Já cometeu diversos crimes, tudo para sustentar o vício. Em um deles, furtou o aparelho de telefone de uma policial, dentro da delegacia. Para uns, audácia, afinal, é preciso muita coragem para furtar uma policial dentro de uma delegacia de polícia. Conhecendo um pouco melhor a curva de vida da nossa personagem, vê-se que não é audácia, mas, sim, fruto do desespero de quem se tornou escrava das drogas. No processo do furto do celular foi pedido o exame de insanidade mental.

Nossa personagem, que está presa por outro crime, foi levada ao Instituto de Medicina Legal, algemada e escoltada por policiais civis. A perita anotou que ela estava “muito abatida, pálida e com olheiras”. Anotou ainda que ela fazia “uso de trajes com limpeza duvidosa”. A jovem, que nasceu de parto normal e que teve desenvolvimento regular até os 12 anos, foi transformada em um bicho.

Consta do laudo que: “trata-se de pericianda que apresenta transtorno mental e comportamental devido ao uso de múltiplas drogas, CID 10- F19, sendo o crack a sua droga de eleição. Ela apresentou ao longo do tempo, pois aos doze anos de idade ela já usava merla, as diversas síndromes e transtornos relacionados a esse uso, principalmente a síndrome de dependência, pois o consumo delas, passou a ser sua única prioridade de vida, permanecendo sob o efeito delas o dia todo. (…). Sua atividade ilícita tinha como objetivo conseguir os meios para adquirir essa droga. As condições sócios econômicas em que sempre viveu também contribuíram para o uso dessas drogas e determinar o grau de dependência que ela apresenta”.

A conclusão do laudo foi a de que a nossa personagem apresenta “grau máximo de comprometimento de sua capacidade de autodeterminação”. Em outras palavras, ela sabe que sua vida seguiu um curso errado, mas não tem força, sozinha, para emergir do vício.

Voltamos a chamar a atenção para o título do texto: “Estuprada, drogada, viciada, prostituída, ladra, presidiária e abandonada”, mais especificamente para o abandonada. Nossa personagem, antes, depois e durante as suas diversas fases de vida sempre foi abandonada, pela família, pela sociedade e pelo Estado. Pior, continua abandonada, presa sem tratamento, usando trajes com higiene duvidosa.

Honestamente, quem é o culpado por deixar que tantas vidas sigam um curso tão triste? Quem são os irresponsáveis que não adotam políticas públicas que realmente visem combater a destruição de jovens vidas pelas drogas? O crack avança nas cidades de médio e pequeno porte, já tomou conta das grandes cidades e ninguém faz nada! Até quando?

Compartilhemos a triste história de vida da nossa personagem real, quem sabe ajudemos alguém a não cair na esparrela das drogas.

 

 

Fonte: Saber Melhor

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