O policial detalha que as transferências são feitas para contas de pessoas físicas em diversas regiões do país, como Fortaleza e Florianópolis. A polícia apura ainda se os criminosos abriram as contas em nome de laranjas ou mediante fraude. “Estamos trabalhando para identificar, restituir os bens das vítimas e evitar que novas pessoas caiam nesse tipo de golpe”, destaca.
O primeiro caso registrado aconteceu em abril deste ano. Um mecânico de 40 anos realizou o cadastro no site de uma empresa de leilões. A página informava que a firma tinha sede em Barueri (SP). Morador de Samambaia, o homem conta que arrematou um Fiat Siena 1.0 com um único lance de R$ 6,9 mil. A transferência bancária teve o valor de R$ 7 mil, com as taxas de comissão da suposta leiloeira e mais frete.
Um autônomo de 50 anos, morador do Jardim Botânico, gastou R$ 121 mil na aquisição de um caminhão e quatro motos. A empresa, localizada em São Paulo, cobrou um adicional de 5% referente à taxa do suposto leiloeiro. A transferência ocorreu para a conta de uma pessoa física. O brasiliense, no entanto, não recebeu os automóveis.
A vítima, desde então, não conseguiu localizar o responsável pela venda, que também não atende às ligações. A ocorrência foi registrada na Corf em julho deste ano.
Casos seguidos
Em agosto, uma empresária do Lago Sul se tornou vítima. A mulher de 51 anos viu o anúncio de um New Beetle na internet e decidiu fazer um lance. Após preencher um breve cadastro na página, ela ofereceu R$ 11 mil. A proposta venceu a suposta concorrência.
A empresa paulista prometeu entregar o veículo em até quatro dias após a transferência bancária. Assim que receberam a quantia, os vendedores desapareceram. No mesmo mês, um produtor cultural, que também reside no Lago Sul, ficou com prejuízo de R$ 12,6 mil ao arrematar um Kia Soul.
Em seguida, foi a vez de um advogado de Vicente Pires cair no golpe dos criminosos. Ele desembolsou R$ 18,5 mil na expectativa de receber um Chevrolet Captiva. Acabou no prejuízo.
Após as sucessivas tentativas de recuperar o dinheiro, ele conta que acabou bloqueado no WhatsApp e não conseguiu mais contato com os autores. Outro advogado, da Asa Sul, também lamenta o prejuízo de R$ 38,4 mil na compra de um Toyota Corolla.
Em outubro, um vigilante de 35 anos, morador de Ceilândia acreditou que estava comprando um caminhão por R$ 27 mil, mas até hoje não recebeu o veículo. Um técnico em informática de 48 anos pagou R$ 27 mil em um Honda Civic que seria entregue em dois dias.
A última ocorrência foi comunicada à Corf em 15 de outubro. Na denúncia, uma fisioterapeuta da Asa Norte afirma que arrematou um Fiat Siena por R$ 18 mil. O prazo de entrega de sete dias dado pela empresa passou. Assim, ela se juntou ao grupo de vítimas.
Desconfie
De acordo com o delegado Miguel Lucena, é importante tomar precauções ao participar de leilões on-line. Ele explica que os sites usados pelos estelionatários são feitos por pessoas profissionais que têm conhecimento na área.
“É crucial pesquisar referências sobre a empresa, ver a procedência, reclamações. Evitar fazer depósitos em contas de pessoas físicas, principalmente quando a firma é de um estado e a conta para transferência é de outro. E também desconfiar de ofertas com preços muito reduzidos”, alerta.
O servidor público federal Ciro de Freitas Nunes, 54 anos, começou a participar das compras pela internet em 2011. Entre os itens recentemente adquiridos, estão um caminhão, um carro e um Jeep — este último comprado de forma presencial. Ele conta que o negócio pode ser rentável. Destaca que existe margem de lucro, mas dentro da razoabilidade.
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Delegado Miguel Lucena investiga a quadrilhaKléber Lima/JBr
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Entre os itens recentemente adquiridos, estão um caminhão, um carro e um Jeep, este último comprado em leilão presencialAndre Borges/Esp. Metrópoles
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Ciro Nunes faz compras compras em leilões virtuaisAndre Borges/Esp. Metrópoles
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Delegado Miguel Lucena investiga a quadrilhaKléber Lima/JBr
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Entre os itens recentemente adquiridos, estão um caminhão, um carro e um Jeep, este último comprado em leilão presencialAndre Borges/Esp. Metrópoles
“Pesquiso as referências, vou pessoalmente conhecer a sede da empresa e, quando não posso, peço para alguém ir e ver se ela realmente existe. Também procuro saber se está regularizada, consulto a junta comercial. É importante saber se é uma empresa sólida no mercado”, conta.
Há oito anos investindo em bens adquiridos em leilão, o servidor alerta que sites sérios e reconhecidos oferecem descontos de até 30% menores do que da tabela Fipe. “Se estiver muito barato, desconfie”, avisa.
“É muito importante saber a procedência do veículo, pedir mais fotos e vídeos, se possível. Ler com atenção o edital e ficar atento a valores e taxas cobradas”, aconselha. Além de carros, Ciro Nunes compra joias, acessórios e itens para a casa por meio de arremates pela web.
Repressão
Em junho, policiais da Delegacia de Repressão aos Crimes Cibernéticos (DRCC) prenderam um trio de estelionatários do Distrito Federal acusado de aplicar o golpe. O flagrante ocorreu em uma agência do Banco do Brasil no Águas Claras Shopping, quando tentavam sacar uma quantia de R$ 193 mil. Durante a prisão, foram apreendidos R$ 3,9 mil e três aparelhos celulares.
De acordo com os investigadores, Daylane da Silva Moreira de Queiroz, 27 anos, Antônio Moura Marques Filho, 23, e José David Ximenes Santos, 29, mantinham um site onde faziam falsos leilões de carros. No endereço virtual, ofereciam veículos por preços reduzidos.
De acordo com o delegado Giancarlos Zuliani, responsável pelo caso, a polícia conseguiu identificar três vítimas — de Minas Gerais, Paraná e São Paulo. Uma delas depositou R$ 102 mil na conta dos estelionatários.
A apuração também aponta que outros participantes do golpe estão espalhados pelo país. “É uma organização criminosa interestadual”, ressalta Zuliani. O trio responderá por receptação, organização criminosa e estelionato, e pode ser punido com mais de 9 anos de reclusão.