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‘Não renunciarei’, diz Michel Temer em pronunciamento

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Brazilian President Michel Temer gestures during the opening of the 3rd National Meeting of the Brazilian Institute of GeographyStatistics in Brasilia on May 8, 2017. Temer completes this week the first year of his term, following the impeachment of President Dilma Rousseff,faces several protests against his retirementlabour reforms. / AFP / EVARISTO SA

Gravação mostra que político deu aval para a compra do silêncio do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha

O presidente Michel Temer fez um pronunciamento na tarde desta quinta-feira (18/5) no qual anunciou que não pretende renunciar ao cargo de chefe de executivo do Brasil. A desistência de Temer foi muito cogitada desde a divulgação de parte da delação do empresário Joesley Batista, um dos donos do grupo JBS. “Não renunciarei. Sei o que fiz. Exijo apuração de todos os fatos”, afirmou o presidente.
“O meu governo viveu esta semana seu melhor e seu pior momento”, disse Temer, referindo-se a boas notícias recentes na área econômica, como a queda dos índices de desemprego. “Ontem, contudo, a revelação de conversa gravada clandestinamente trouxe de volta o fantasma da crise política”, criticou, antes de acrescentar:
“Não solicitei que isso (compra do silêncio de Eduardo Cunha) acontecesse e só tive conhecimento desse fato com as revelações. Não comprei o silêncio de ninguém porque não temo nenhuma delação. Não tenho nada a esconder”, afirmou. “No Supremo, demonstrarei minha inocência”, disse.
Com base nessas informações de Joesley Batista, o ministro Edson Fachin, responsável pela operação Lava-Jato no Supremo Tribunal Federal (STF), autorizou, no começo desta tarde, a abertura de inquérito contra Temer por obstrução da Justiça. No mesmo despacho, o ministro pediu a quebra de sigilo das delações.
O presidente começou o dia anunciando uma extensa agenda de compromissos “para mostrar normalidade”. No meio da manhã, toda a agenda foi cancelada e ele se reuniu no Palácio do Planalto com os ministros Eliseu Padilha (Casa Civil) e Moreira Franco (Secretaria-Geral da Presidência), com quem discutiu se faria um pronunciamento e qual seria o teor de sua manifestação. O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, também esteve com Temer.

Perda de apoio

Saiba mais

  • Veja como foi o pronunciamento de Michel Temer
  • Deputados do PSDB protocolam pedido de impeachment contra Temer
  • Fachin autoriza abertura de inquérito contra Temer por obstrução da Justiça
  • Oposição também representará contra Temer na PGR por crime comum

Mais cedo, a oposição afirmou que entrará com representação contra Temer na Procuradoria-Geral da República.

Diversas manifestações mostraram a perda de apoio do presidente tanto da classe política quanto de agentes do mercado. O primeiro partido a anunciar que deixaria o governo foi o PTN, que tem 13 deputados e o comando da Fundação Nacional da Saúde (Funasa). Em seguida, dois ministros do PSDB declararam a intenção de deixar as pastas: Aloysio Nunes (Relações Exteriores) e Bruno Araújo (Cidades).
O PSDB, cujo presidente, o senador Aécio Neves (MG), também foi envolvido diretamente na delação .
Deputados do PSDB protocolaram pedido de impeachment de Temer pouco depois das 15h. A ação foi articulada por João Gualberto (BA) com ao menos outros seis parlamentares. O partido ainda não rompeu oficialmente com o governo. Este já é o quarto pedido desde quarta-feira. Os partidos de oposição, como PSOL, PDT, PCdoB, PT, Rede e PSB devem submeter outro pedido à Câmara ainda hoje.
Além de Brasília, São Paulo também acordou em turbilhão com as notícias da delação envolvendo o presidente Temer. Nesta manhã, as negociações da Bolsa de Valores de São Paulo (BM&FBovespa) foram interrompidas pela primeira vez desde 2008, quando estourou a última crise financeira global. O circuit breaker, mecanismo que suspende o pregão quando a bolsa cai mais de 10%, foi acionado após 21 minutos de abertura e as negociações foram interrompidas por 30 minutos. O dólar futuro já é cotado acima de R$ 3,40.

Aécio

A denúncia do empresário da JBS agravou a crise política. Logo no início da manhã, a Polícia Federal deflagrou uma operação que mirava o senador Aécio Neves. O parlamentar também foi citado na delação pedindo propina de R$ 2 milhões. Ele foi afastado do cargo por decisão do Supremo Tribunal Federal (STF). Ele continua tendo acesso ao Congresso Nacional, contudo é proibido de exercer as funções como parlamentar.
A irmã do senador, Andrea Neves, foi presa, assim como o procurador  Ângelo Goulart, do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Outros alvos da ação da Polícia Federal são o senador Zezé Perrella (PMDB-MG), o deputado Rocha Loures (PMDB-PR) e Altair Alves, que ficou conhecido como braço direito do ex-deputado Eduardo Cunha.
Um primo do presidente do PSDB também foi preso preventivamente pela PF nesta manhã. Frederico Pacheco de Medeiros, conhecido como Fred, teria sido filmado recebendo R$ 2 milhões a mando de Joesley Batista.

Veja, na íntegra, o pronunciamento de Temer

“Desde logo ressalto que só falo agora os fatos que se deram ontem, porque eu tentei conhecer, primeiramente, o conteúdo de gravações que me cita. As solicitei oficialmente ao Supremos Tribunal Federal, o acesso a esses documentos. Até o presente momento, não os consegui. Quero deixar muito claro dizendo que meu governo viveu nesta semana seu melhor e seu pior momento. Os indicadores de queda da inflação, os números de crescimento na economia e os dados da geração de emprego deram otimismo para dias melhores. As reformas avançavam no Congresso Nacional. Ontem, contudo, a revelação de conversa gravada clandestinamente trouxe de volta o fantasma de crise politica de proporção não dimensionada. Todo esforço de retirar o pais de sua maior recessão pode se tornar inútil. Não podemos jogar no lixo da história tanto trabalho em prol do país. Ouvi realmente o relato de um empresário que, por ter relações com ex-deputado, auxiliava a familia do ex-parlamentar. Não solicitei que isso acontecesse e só tive conhecimento nessa conversa do empresário. Ressalto que em nenhum momento autorizei que pagasse a quem quer que seja para ficar calado. Não comprei o silêncio de ninguém, porque não tenho nenhuma relação. Não preciso de cargo público nem de foro especial:  nada tenho a esconder. Sempre honrei meu nome e nunca autorizei que utilizassem meu nome indevidamente e, por isso, quero registrar enfaticamente que a investigação pedida pelo STF será territória e surgirão todas as explicações. No Supremo, mostrarei que não tenho envolvimento com nenhum desses fatos. Não renunciarei e sei a correção dos meus atos. Exijo investigação plena e muito rápida, e esclarecimentos ao povo brasileiro. Essa situação de dúvida não pode persistir por muito tempo. Tanto esforço e dificuldade superadas que meu único compromisso é com o Brasil e é só este compromisso que me guiará”.

 

* Estagiária sob supervisão de Anderson Costolli 

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