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Profissão de risco

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Miguel Lucena*

Uma personalidade que nunca deu um prego sustentou o argumento de que o policial é um trabalhador como qualquer outro e deve se sujeitar às mesmas regras previdenciárias, sem que se leve em conta nenhuma peculiaridade da profissão. Ela parte do pressuposto de que os riscos são do conhecimento de quem ingressa em determinada carreira.

Dessa forma, a enfermeira sabe que pode se contaminar, operário que manipula benzeno sabe que pode contrair leucopenia, os plantonistas noturnos ficarão com problema de insônia, as professoras se desgastarão mais que o normal para educar os filhos alheios e assim por diante, sem nenhuma compensação pela exposição aos riscos profissionais.

Em geral, entendo que as regras devem valer para todos, mas dizer que enfrentar criminosos é o mesmo que fazer contas ou escrever contos beira as raias da maldade. Do mesmo modo, achar que um policial velho, de cabelos brancos, dará conta do serviço em sua plenitude é ignorar a especificidade da profissão.

“Ah, quem faz concurso para a Polícia sabe que pode trocar tiros com bandidos, que a atividade é tensa, perigosa e insalubre, e se não quiser procure outra coisa para fazer”, sugere.

Talquei, amigos, mas depois não reclamem quando, sem nenhum atrativo a mais que o salário, começarem a faltar pessoas interessadas em ingressar nas polícias, o nível baixar sensivelmente, como nos tempos em que policial era sinônimo de pedinte.
Fizeram o mesmo com o Nordeste, chamando os nordestinos de pobres e atrasados, mas os mesmos que discriminam são os primeiros a arregalar os olhos quando alguém propõe separar a região do Brasil, justamente porque não terá os grãos e o petróleo que ajudam o país a ser uma das maiores potências mundiais.

Vão abandonando os policiais à própria sorte e verão o que acontecerá em um país totalmente dominado por facínoras, cada vez mais jovens e fortes.

*Miguel Lucena é delegado de Polícia Civil do DF, jornalista e escritor.

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