Júlia Carneiro
julia.carneiro@jornaldebrasilia.com.br

Para alguns, um símbolo da fé. Para outros, uma verdadeira afronta. Há dez anos, uma imagem de Nossa Senhora Aparecida compõe a entrada principal de Águas Lindas (GO), na Região Metropolitana do DF, mas isso pode mudar. Um abaixo-assinado, organizado pelo líder religioso Edilson Andrade,  está sendo feito para pedir a retirada da estátua. O documento será entregue ao prefeito da cidade após uma passeata. A situação é polêmica e está movimentando o município goiano.

A igreja responsável pelo manifesto sugere que no local seja construída uma fonte de água. Já a imagem seria levada para o pátio da igreja católica. “Não queremos uma guerra, amamos nossos irmãos católicos. Mas, para nós, aquela imagem é uma afronta. A Bíblia diz que não podemos adorar outros deuses e imagens”, explica Andrade.

Além da troca da estátua, os evangélicos pedem a construção de uma praça, no final da avenida, com o símbolo da Bíblia. “Vamos aproveitar a 9ª Marcha para Jesus, neste sábado, para recolher mais assinaturas”, conclui o pastor, que espera reunir pelo menos 15 mil assinaturas   até o fim de semana.

Os moradores estão divididos sobre o assunto. Evangélico, o pedreiro Uredy Bispo, 50 anos,   passa pela estátua todos os dias e não se incomoda com a imagem. “Na verdade, para mim isso é só um símbolo cultural. Não significa nada para mim. Mas respeito, já que tenho uma religião oposta a essa imagem”, diz.

Mas há quem defenda que o Estado é laico e a presença dessa imagem indica que há uma preferência religiosa. “Sou completamente a favor de retirar mesmo. Não é todo mundo que gosta dessa imagem. Tinham que trocar por algo mais universal, que todos fiquem felizes”, relata a estudante Thaynara Barbosa.

Para alguns integrantes da comunidade católica,   não há necessidade de remover a imagem. Mas argumentam que  o símbolo vai além de qualquer religião, pois representaria a luta de uma nordestina que veio a Brasília em busca de uma vida melhor, como muitos.

“Não foi repassado um posicionamento oficial do município. Não existe um manifesto dos evangélicos enquanto organização. Existem alguns grupos fundamentalistas que começaram o movimento. Acredito que não deveria ser prioridade essa discussão, diante de tantos problemas que temos nessa cidade”, argumenta o frei Gilberto, da Paróquia São Maximiliano.

Versão Oficial 

A prefeitura  divulgou nota sobre o assunto: “Informamos que o Estado é laico, e que este é um governo que respeita a fé de todos os indivíduos. Até o presente momento, nenhum documento foi entregue na prefeitura que demonstre o interesse para a retirada da imagem, ou a existência de um movimento com esse ideal.  A imagem existe  há muito tempo, é a padroeira de Águas Lindas e   já faz parte da história  do município”.

 Conselho condena ação

Se a proposta for acatada, os católicos sinalizam uma  manifestação na Prefeitura e na Câmara municipais, também com abaixo-assinado. “Todas as grandes cidades têm padroeiros, a nossa foi definida pela Câmara Municipal. Desde 1998 temos  a imagem   no mesmo lugar,  colocada pela comunidade. Águas Lindas cresceu com esse grande símbolo. Retirá-la seria um grande  desrespeito”, diz o frei Gilberto.

O Conselho de Pastores da Igreja Evangélica de Águas Lindas destaca que não tem ligação com o manifesto, informando que se trata de uma iniciativa   individual e que não representa a totalidade da comunidade. “Esse pastor fala que nos representa, mas isso não é verdade.  Eu acho que não temos que nos envolver”, afirma o presidente do conselho, pastor Valdiviro.

Ele reforça que retirar essa estátua não seria somente uma demonstração de intolerância religiosa contra os católicos, mas também  contra o governo e a própria comunidade: “Se tivessem colocando essa estátua só agora, eu seria contra. Mas para retirar algo que já está aí há tanto tempo,  eu sou contra”.