Deu em O Globo
‘O cara’ carregou, e também atrapalhou Dilma
O presidente entrou na sala improvisada nos fundos do palanque, em Belo Horizonte. Naquela tarde de agosto, vestia uma típica jaqueta boliviana. E estava inquieto:
— Vocês acreditam que o Aécio (Neves) teve a coragem de me mandar um recado pedindo para não vir?
O tom irritadiço de Lula surpreendeu os políticos do PMDB e do PT que o recepcionavam.
— Como é? — quis saber Hélio Costa (PMDB), candidato ao governo mineiro.
— Ele mandou o Sérgio Andrade (empresário mineiro, acionista dos grupos Oi e Andrade Gutierrez) telefonar para o Gilberto (Carvalho, chefe de Gabinete de Lula). O Gilberto contou que o Sérgio ligou, falando em nome do Aécio, com pedido para eu não vir a Minas. Quem o Aécio pensa que é? Em quem ele acha que manda? Eu sou presidente da República, vou aonde quiser e agora vou para o enfrentamento.
Lula assumira o papel do político em transe com a adrenalina da vingança. E assim continuou.
Nas últimas dez semanas empenhou-se num acerto de contas com a oposição. Embriagado com o próprio protagonismo, radicalizou na reta final e acabou por ofuscar sua candidata, Dilma Rousseff, com ofensivas como a promessa de “extirpar” o DEM do mapa político-partidário, o confronto aberto com a imprensa (“nós somos a opinião pública”, anunciou) e o elogio ao “antigo radicalismo” petista, que ele próprio revogara na
a campanha de 2002.
Resultado: os pouco mais de 46% obtidos por Dilma ontem nas urnas ficaram muito abaixo das projeções do governo e do partido, que já haviam reservado a Esplanada dos Ministérios, em Brasília, para a “festa da vitória” no primeiro turno.
Lula construiu, conduziu e viabilizou a candidatura de Dilma, mas acabou atrapalhando-a na reta final. Na votação, delineou-se o limite da sua influência.
Ele perdeu nos campos de batalha onde deu ordens aos aliados para que não deixassem sobreviventes entre os oposicionistas.
Em Minas fez um desafio aberto a Aécio Neves e viu seu candidato (Hélio Costa, do PMDB) ser derrotado com quase 30 pontos de diferença por Antonio Anastasia (PSDB).
Em Santa Catarina, onde pregou a “extirpação” do DEM, a sua candidata Ideli Salvati (PT) foi derrotada com 31 pontos de diferença por Raimundo Colombo (DEM).
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