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    Um jogo de dados viciados

    Dados viciados. Foto: reprodução

    Por Miguel Lucena*

    Política é negócio – disse e repetiu o meu interlocutor. Então, por não ter vocação para o comércio, estarei fadado ao fracasso – concluí.

    A hora de mudar os costumes políticos é agora, depois da sucessão de prisões realizadas no âmbito da Operação Lava jato e dos escândalos que deixam horrorizada a sociedade brasileira.

    Uma parte da sociedade, no entanto, insiste na velha política do toma-lá-dá-cá, trocando o voto por favores e buscando arrancar um naco do butim.

    Dói em mim saber que, para essas pessoas que só enxergam oportunidades, todos os pretendentes a um mandato eletivo vivem com as burras cheias de dinheiro e têm obrigação de dar tudo o que lhes é solicitado.

    Os que exigem, quase com uma faca no pescoço do político, são os mesmos que torcem a cara e protestam contra a safadeza dos corruptos.

    Vigora um misto de esquizofrenia, desfaçatez e fingimento. Só fica no jogo quem tem algo para dar, mas esse algo tem de sair de algum canto. Quem pede não quer saber a origem do benefício e ainda eleva à condição de candidato competitivo os que saem distribuindo dinheiro de porta em porta.

    A política virou um jogo de dados viciados. Se não trocarmos os bozós, a banca ganhará todas as partidas. Na cadeia alimentar em que a política se transformou, um sai arrancando do outro – o eleitor, do candidato; o parlamentar, do governante e este da população em geral. É um ciclo vicioso que jogará o Brasil no mais profundo abismo, se não for alterado pela força do cidadão consciente, aquele que não se rende nem se vende.

    *Miguel Lucena é Delegado de Polícia Civil do DF, jornalista e escritor. Colunista semanal do Agenda Capital

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