MAIS
    HomeUtilidade PúblicaCrime abominável

    Crime abominável

    Junji Abe

    Calcula-se uma mulher estuprada por minuto no Brasil. O corpo é um templo e
    sua violação desfere golpe mortal contra qualquer mente sã. Ainda que
    sobreviva ao ataque, a vítima carrega sequelas até a morte. O que dizer,
    então, dos casos em que o algoz vive dentro de casa e os abusos se repetem?

    Faltam-me palavras para expressar o inominável horror que tenho de
    estuprador. Não me interessa se é menor de idade, se sofreu abuso na
    infância, se praticou o crime sob efeito de drogas, se sofre de distúrbio
    mental, se é flagelado do desemprego, se está revoltado com a vida,
    estuprador é estuprador. Ponto.

    Tão grave quanto a impunidade é a cultura do estupro. Sinto que voltamos à
    Idade Média quando leio comentários de que a vítima sofreu violência sexual
    por causa das roupas que usava. Ou porque frequentava locais de baixa
    reputação. Ou ainda porque era extrovertida demais. Façam à sociedade o
    favor de calar!  A mulher usa o que quer, frequenta o lugar que deseja e se
    expressa da forma que julga melhor. É direito dela. Não é inspiração e muito
    menos motivo para vagabundo nenhum estuprá-la. O crime abominável do estupro
    não tem justificativa.

    O ranço de machismo impera até nos organismos de segurança pública e é um
    dos fatores para subnotificações desse crime. A mulher que sofreu abuso fica
    com medo de denunciar e ser tarjada de culpada.

    Não há fórmulas de efeito imediato para conter os crimes de estupro. Porém,
    há medidas que precisam ser implantadas agora para resultados futuros. É
    vital combater todas as drogas. Defendo o fim da proibição do emprego para
    menores de 16 anos. O ideal seria a escola de tempo integral. Mas, como essa
    realidade está distante, é viável que o jovem estude num período e trabalhe
    no outro para não ficar na oficina do capeta.

    A segurança pública requer maior qualificação dos profissionais. Também é
    imprescindível ampliar penas para estuprador, sem aliviar menor de idade.
    Ainda que cumpra detenção em instituições específicas, estuprou, responde
    como gente grande. No ensino, é fundamental incluir no currículo temas que
    forcem a assimilação do respeito à mulher. É preciso motivar as campanhas
    populares permanentes contra crimes sexuais, evitando que fiquem limitadas
    ao período pós-divulgação de barbáries, como os casos de estupro coletivo.

    Ao mesmo tempo, é indispensável a educação no lar. Os pais têm de assumir
    sua responsabilidade na missão de aniquilar a cultura do estupro. Não podem
    criar o conceito equivocado de que algumas mulheres merecem apreço e outras
    agressão ou desprezo. Outro ponto importante é enraizar o entendimento de
    que se a pessoa disse não, significa não. Cultivemos adultos melhores!

    Junji Abe é líder rural, foi deputado federal pelo PSD-SP
    (fev/2011-jan/2015) e prefeito de Mogi das Cruzes (2001-2008)

    Crédito da foto: Divulgação/Arquivo

    LEAVE A REPLY

    Please enter your comment!
    Please enter your name here

    Deve ler

    spot_img