No fim de semana, base pró-governo ganha espaço e intensifica ações digitais em defesa de Weintraube em oposição ao STF
Por Sala de Democracia Digital | FGV DAPP
Grupo de apoio a Bolsonaro inflama atuação e chega a 20% das interações no debate público no sábado e no domingo, maior presença desde protestos antidemocracia de 20 de abril
Oposição ao governo volta a se dividir em dois grupos que, somados, atingem 65% das interações em rejeição ao presidente e debatem Trump, ministros da Educação e do Meio Ambiente
Enquanto núcleo bolsonarista mantém isolamento e dependência de influenciadores específicos, perfil da iniciativa Sleeping Giants ganha espaço na oposição
No fim de semana posterior à divulgação do vídeo de reunião ministerial do governo Bolsonaro, a base de apoio ao presidente no Twitter manteve percurso de intensificada ação digital e contínuo isolamento, recuperando espaço no debate público: no domingo (24) e no sábado (23), chegou a 20% das interações sobre o contexto político e associado à pandemia de Covid-19, segundo o índice de monitoramento do ambiente digital da Diretoria de Análise de Políticas Públicas da Fundação Getulio Vargas. Desde 20 de abril, quando a base bolsonarista organizou forte atividade em apoio a protestos com pautas antidemocráticas, o grupo azul (pró-governo) não reunia acima de 20% das interações gerais do debate. Desta vez, contudo, com maior direcionamento em duas frentes: a defesa do ministro da Educação Abraham Weintraub e o ataque ao ministro do STF Celso de Mello e à Suprema Corte enquanto instituição.
Já a base de oposição, que sempre se unifica após eventos específicos da conjuntura política, como as saídas dos ex-ministros Sergio Moro e Luiz Henrique Mandetta, voltou a se dividir em dois grupos: um amarelo (25%), de articulação entre diferentes grupos políticos, da direita à esquerda; e um rosa (40%), que manifesta contínua oposição a Bolsonaro, mas tem debate voltado principalmente a questões de saúde pública e os efeitos da quarentena. Isso faz com que a base direta de rejeição ao bolsonarismo se mantenha a partir de 65% das interações totais do debate, que, na soma de sábado e domingo, acumulou 7,3 milhões de postagens no Twitter.
Assim como, no grupo azul, o impacto direto do vídeo liberado pelo ministro Celso de Mello modificou o contorno temático da discussão, nas bases de oposição o mesmo ocorreu, com forte movimento de rejeição a Weintraub (mas também, e com aumento de impacto, ao ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles) e intenso engajamento por influenciadores digitais (o youtuber Felipe Neto, que em geral mobilizava o grupo rosa, cada vez mais atua como interlocutor do grupo de alinhamento político claro) do impacto internacional da atuação de Bolsonaro frente à pandemia. A informação de que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, proibiu voos do Brasil para o país foi o principal organizador da discussão das bases críticas a Bolsonaro na noite de domingo.
Outro novo foco de engajamento pelo grupo amarelo é o perfil brasileiro da iniciativa Sleeping Giants, que identifica empresas que aparecem em anúncios de sites com histórico de divulgação de notícias falsas. A conta da iniciativa no Twitter esteve entre os principais influenciadores do grupo amarelo no domingo, a partir da atuação de perfis de políticos e veículos da imprensa repercutindo as publicações do perfil, que é objeto de contra-ataque por parte da base bolsonarista em campanhas para o boicote das empresas que retirarem os anúncios dos sites denunciados, de apoio manifesto a Bolsonaro.
Conforme observado na última sexta-feira (22), o grupo pró-governo federal segue muito dependente da contínua atividade digital de algumas dezenas de perfis muito populares e com forte engajamento interno; ou seja, retuitando-se de forma constante, sem pontes com outros perfis novos ou com distintos grupos do debate. Esse grupo é majoritariamente composto por influenciadores alinhados a Olavo de Carvalho, parlamentares, integrantes do governo federal e perfis da família Bolsonaro.
|