Um dos fatos mais relevantes e inimagináveis até duas semanas atrás demonstra uma brutal mudança na natureza da relação do PT com uma parcela da população à qual a legenda deve sua consolidação: os jovens. Quem poderia imaginar que justamente esta fatia do eleitorado proibiria o PT de agregar-se a protestos de rua, com suas bandeiras até ontem erguidas por militantes jovens.
Os petistas não foram apenas vetados. Foram expulsos e hostilizados por manifestantes, majoritariamente de classe média, que também rejeitaram PSOL e PSTU partidos muito menores e de menos peso político.
Se a rejeição a partidos incomoda as legendas de esquerda, antes reduto de jovens e estudantes, para os petistas a aversão tem uma simbologia especial. O PT, um partido forjado nos movimentos sindicais grevistas, capitaneou até antes do governo Lula as principais mobilizações de rua do País. As passeatas eram crivadas de bandeiras vermelhas petistas, da CUT, do MST num amálgama previsível, que conduzia hordas de jovens às ruas, em apoio às reivindicações da hora.
Depois de dez anos de gestão petista em Brasília, do desgaste típico de governar, das concessões políticas, dos escândalos, acertos e erros, aos 33 anos o PT agora é visto como um partido como qualquer outro, “farinha do mesmo saco” – diria o discurso simplista que colaborou para a iconoclastia reinante.
O partido, no entanto, não foi substituído por ninguém. Não há no horizonte nem sinal de liderança ou organização que resgate entre os jovens o que o PT um dia representou: a perspectiva de contestação, de mudança, de renovação. “Bem que eu gostaria de estar lá, na rua, no meio do povo. Mas não fui convidado e talvez nem fosse bem recebido” – diz, melancólico, Vicentinho, no seu terno e gravata bem postos, decorados com o broche de deputado. Também para ele o tempo passou. E os jovens estão mais sós do que nunca.
