16ª edição do FITS abordou temas ligados à infraestrutura e reuniu dezenas de especialistas na sede da Fecomércio, no Rio de Janeiro
O desenvolvimento sustentável do Brasil, com foco em saneamento, energia, gás e turismo foi um dos temas do segundo dia do Fórum Global de Inovação e Tecnologia em Sustentabilidade – FITS Infraestrutura 2025, realizado nesta terça-feira (25), na sede da Fecomércio RJ, no Flamengo.
A programação teve início às 10h com o painel “Panorama do Saneamento”, que teve a participação de Alexandre Bianchini (AEGEA), Carlos Roberto de Oliveira (ARES PCJ), Luís Paulo Silva do Nascimento (CERHI) e Luiz Firmino (FGV CERI). Os convidados apresentaram os desafios estruturais do setor e avanços recentes em gestão, qualidade e expansão dos serviços. Os debatedores reforçaram que o saneamento é a base do desenvolvimento sustentável e elemento estratégico para a saúde pública, a segurança hídrica e o crescimento econômico.
Alexandre Bianchini, vice-presidente da AEGEA Saneamento, reforçou a urgência dos avanços em saneamento. “Houve um problema no Brasil que foi a estagnação da questão do saneamento. A população cresceu mais rapidamente do que a prestação de serviço. Com isso, considerando que 70% das doenças do ser humano são de origem hídrica, estamos falando que os números do Brasil hoje seriam equiparados aos da Idade Média. Recentemente li uma manchete em um jornal de grande circulação considerando um escândalo que 30 milhões de brasileiros não acessam a internet. Gente, 30 milhões de brasileiros não têm acesso à água tratada, 90 milhões de brasileiros não têm acesso ao ciclo completo que tange água e esgoto. Qual foi a grande mudança que aconteceu nos últimos anos? Um marco legal do saneamento, que finalmente estipulou uma data de prazo para que esse problema seja solucionado, que é 2033. Apesar dele, a gente também já está atrasado em relação a isso. Mas as perspectivas de futuro, na minha opinião, são positivas”, afirmou o empresário.
O painel “Desafios da Regulação do Saneamento” aprofundou discussões sobre marcos regulatórios, governança e padronização de normas em diferentes regiões do país. Adalto Althaus (AGEPAR), Carmen Petraglia (ABEA) e Samuel Alves Barbi Costa (ARSAE MG) destacaram que a estabilidade regulatória será decisiva para atrair investimentos e garantir previsibilidade para operadores e consumidores. Eles sinalizaram também para desafios como a captação e acompanhamento de investimentos, projeções de população
Chefe da Coordenadoria de Saneamento Básico da Agência Reguladora do Paraná (Agepar), Adalto Althaus trouxe para o debate o papel das agências reguladoras. O especialista afirmou que os desafios para universalizar o saneamento também são desafios de regulação, pois as agências precisam acompanhar e certificar os investimentos, verificando até que ponto são prudentes. Além disso, é fundamental considerar o horizonte de crescimento demográfico e outros fatores relevantes, como o aumento da população do país para o qual o investimento será projetado. A empresa não deve construir uma estação de tratamento pensando apenas na população atual; é necessário planejar para o futuro, caso contrário, reinvestimentos ou ampliações dessas estações podem se tornar muito caros, por exemplo”, explica Adalto.
Na parte da tarde, a programação foi retomada com o painel “A Transição Energética no Brasil”, que reuniu Felipe Tenório (Light), Heloisa Borges (EPE), Renata Isfer (ABIOGÁS), Rodolfo Cardoso (UFF) e Wagner Victer (Petrobras). O grupo avaliou as oportunidades de inovação no mercado de energia, a expansão das fontes renováveis, os desafios regulatórios e o papel das políticas públicas na aceleração da descarbonização da economia brasileira.
Renata Isfer, presidente da Abiogás, iniciou sua participação destacando os resultados positivos da COP30, realizada em Belém. “Muita gente está acompanhando uma COP pela primeira vez, por ser no Brasil, por isso não conhece todo o processo que envolve o debate. Não é fácil obter um acordo com o envolvimento de representantes de todos aqueles países. Podemos não ter conseguido fechar o mapa do caminho, que era o tema deste ano, mas conseguimos sem dúvida muitos avanços”, lembrou.
Wagner Victer, gerente executivo de programas estruturantes da Petrobras, reforçou o impacto das emissões sobre o clima. Mas, fundamentalmente, quanto é que o Brasil emite em relação ao mundo? Nós emitimos 1% do total. Quem emite mais do que a gente? Índia, China, Estados Unidos e Rússia. Esses países vão reduzir suas emissões? Não vão. Fico extremamente preocupado quando as pessoas não conseguem entender a realidade. Qual a principal fonte, inclusive, de vários subsídios? São os recursos gerados pela indústria fóssil e do petróleo, sendo um petróleo produzido com carbono associado muito inferior ao de petróleos que, se nós não produzirmos, serão ocupados por outros mercados. Então, temos que sair um pouco desse imobilismo e entender que não dá para falar de transição energética se não aplicarmos, primeiro, a questão da economicidade, ou seja, a transição energética industrial. A verdade é que o Brasil poderá voltar a ser importador de petróleo em menos de 10 anos. Importante lembrar que o petróleo importado não gerará pagamentos de royalties, que financiam o segmento de ciência e tecnologia, que trabalha a favor da transição energética, e que não gerará riqueza”, destacou o especialista.
Segundo Felipe Tenório, superintendente de regulação na Light, “o segmento de distribuição de energia elétrica é o maior serviço universalizado do Brasil. A distribuição chega a 99,8% das residências e, ainda assim, estamos distantes do que acontece, por exemplo, na Europa, devido à densidade populacional que temos. No Rio de Janeiro, uma das maiores cidades brasileiras, a Light conta com 1 bilhão e 700 mil consumidores, mas precisamos lembrar que muitos moradores não têm condições de pagar uma fatura de energia; é o que chamamos de pobreza energética. Temos estudado muito esse tema e estimulado a discussão de políticas públicas. Atualmente, cerca de 18% da fatura residencial é destinada à cobertura de encargos setoriais. O consumidor, muitas vezes, paga por algo que não está gerando benefícios para si próprio”, destaca.
No painel “Cenário e Perspectivas da Regulação do Gás no Brasil”, Cristina Sayão (TAG), Fernando Montera (IBP), Guilherme Souza (FIRJAN), Rogerio Manso (ATGÁS), Symone Araújo (ANP) e Vladimir Paschoal (AGENERSA) analisaram o avanço do mercado de gás natural, a importância da harmonização regulatória entre estados, o impacto das novas tecnologias e o potencial do gás na transição energética nacional.
Guilherme Souza, representante da FIRJAN, resumiu as preocupações do setor produtivo fluminense em relação ao gás natural, que incluem a prática de preços e a migração para o mercado livre. “O preço do gás natural no Rio de Janeiro tem suas peculiaridades, envolvendo distribuição, oferta, demanda e processamento. Temos acompanhado o preço do gás importado com atenção, e esse será um dos debates que estará na publicação ‘Perspectivas do Gás’, que lançaremos em janeiro. O segundo ponto é a migração para o mercado livre, uma preocupação que vários consumidores e carregadores de gás natural no Rio de Janeiro levam até nosso Núcleo do Gás, do Conselho de Petróleo e Gás da FIRJAN. Seja com grandes indústrias petroquímicas ou até do setor do látex, existe uma preocupação com a migração. Existe também uma grande demanda por descarbonização, por gás natural biometano. Estamos acompanhando os debates que começaram em São Paulo e avaliando como trazer o tema para o Rio de Janeiro, para conversarmos com ofertantes e com a própria agência reguladora”, adianta Souza.
Encerrando a programação, foi apresentado o painel “Turismo Sustentável”, que ampliou o debate para além da infraestrutura tradicional, destacando a relevância do setor turístico na pauta de sustentabilidade, inovação e desenvolvimento regional.
Balanço do FITS Infraestrutura 2025
A 16ª edição do FITS consolidou-se como um espaço de diálogo estratégico sobre infraestrutura e sustentabilidade, reunindo 26 especialistas ao longo dos dias 24 e 25 de novembro. No primeiro dia, o Fórum discutiu mobilidade urbana, integração tarifária e novos modelos de concessão no setor de transportes. No segundo, aprofundou temas centrais como saneamento, transição energética, regulação do gás e turismo sustentável.
Com debates multidisciplinares e participação ativa de autoridades, gestores públicos, pesquisadores, entidades reguladoras e representantes do setor privado, o FITS reforçou seu papel como articulador de soluções sustentáveis para o desenvolvimento do país. A edição reafirmou o compromisso do evento com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e com a promoção de iniciativas que integrem inovação, tecnologia e responsabilidade socioambiental.
O FITS Infraestrutura contou com patrocínio da Light, Águas do Rio, Naturgy, MetrôRio e RJ Postos. O evento, no entanto, ainda não fechou o ano de 2025 para o fórum, que irá realizar o FITS Mineração no dia 10 de dezembro na sede da Sebrae Rio, no Centro do Rio de Janeiro. Mais informações na página do evento.

