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    Eleições e as voltas da política no Distrito Federal

     Ricardo Penna

    A política no Distrito Federal sempre foi uma disputa política maniqueísta. Os partidos e os candidatos eram divididos em dois mundos antagônicos e irredutíveis: Deus ou bem absoluto e o mal absoluto ou o diabo. De um lado estava o PT e de outro um líder carismático, populista e governador, do DF, por quatro vezes, Joaquim Domingos Roriz.

    As campanhas eleitorais foram transformadas em guerras santas com seus territórios claramente definidos. Na lado petista, armados com suas bandeiras vermelhas, convencidos estarem do lado do bem, estavam o eleitores do Plano Piloto, Lago Sul, Lago Norte, Cruzeiro e Guará. Do outro, carregando os pavilhões azuis, com a certeza que defendiam “o pai dos pobres”, estavam os eleitores do Gama, Santa Maria, Brazlândia, Planaltina, Paranoá, Samamaia e São Sebastião. As regiões administrativas de renda média, Taguatinga e Ceilândia, dividiam os seus votos entre o grupo azul e o vermelho.

    Era o início da democracia representativa no Distrito Federal e os guerreiros eram vitoriosos quando fincavam o pé em suas regiões ou pertenciam às bem remuneradas corporações do serviço público. Nas eleições de 1991 Roriz não perdeu em nenhum zona eleitoral. Obteve maioria absoluta em todas exceto Plano, Guará e Cruzeiro onde obteve 38%, 45% e 40% respectivamente. O Deputado Distrital Carlos Alberto teve 52% de seus votos no Plano e o Pe. Jonas 89% em Sobradinho. Salviano Guimarães teve 37% em Planaltina e Pirieneus 70% em Brazlândia. O candidato a governador pelo PT Saraiva e Saraiva teve, teve melhor desempenho no Cruzeiro com 25%, Guará 24% e Plano Piloto com 21% dos votos válidos.

    O gráfico mostra, com nitidez cartesiana, a divisão entre os dois grupos.  A correlação é perfeita. Quanto maior a renda maior o percentual de votos dos candidatos petistas, quanto menor a renda maior o percentual de votos rorizistas. Cristovam, no segundo turno das eleições de 1998, obteve apenas 22% dos votos em Samambaia e 28% no Paranoá. Inversamente, teve 69% dos votos dos eleitores do Plano Piloto e 65% do Cruzeiro. Roriz, por sua vez, caminha na direção oposta. Teve 77% em Samambaia e 72% no Paranoá.  No Plano e no Cruzeiro os azuis terminaram a eleição com a metade dos votos  dos vermelhos.

    Hoje, 15 anos após a derrota de Cristovam Buarque para Joaquim Roriz e 12 anos de administração petista no governo federal, as afinidades eleitorais do grupo de maior renda e escolaridade terminaram. Dilma tem a melhor avaliação e potencial de votos nas regiões mais pobres e cidades menores e, em 2010, Marina Silva, ganhou as eleições no Distrito Federal. Na próximas eleições o desgaste permanecerá. Basta lembrar que, na última pesquisa do IBOPE, a pior avaliação da Presidente Dilma foi em Brasília.

    A reeleição de Agnelo Queiroz deverá registrar uma distribuição territorial do voto inversa aos anos noventa. As maiores dificuldades dos candidatos petistas estarão concentradas nas regiões de renda elevada como Plano Piloto, Cruzeiro, Guará e Sudoeste. Nas áreas de menor renda e escolaridade como Ceilândia, Santa Maria e Samambaia a situação do PT será melhor. A inversão da situação observada em 1998 é apenas relativa. O PT perdeu bastante vigor nas regiões de renda elevada e certamente sofrerá uma intensa competição nas cidades satélites com a popularidade de Arruda e Roriz. Simplificando: o partido democrático e popular perde muito nas áreas centrais e não ganha tanto nas periféricas.

    O mundo gira e dá voltas. O governador Cristovam perdeu sua corrida à reeleição. Para uns Roriz ganhou porque Maria de Lourdes Abadia emprestou seu apoio ao PMDB. Para outros, Cristovam pareceu arrogante nos debates. Ainda existem aqueles que atribuem a derrota aos alunos e professores da UnB que deixaram de votar porque entraram em férias. Muitos apostam que Roriz ganhou porque prometeu 28% de aumento aos servidores públicos. Enfim, têm histórias para todos os gostos e preferências, mas talvez, o fator mais importante foi que o presidente da república era Fernando Henrique Cardoso que apoiava o candidato do PMDB.

    A reeleição de Agnelo Queiroz está longe de ser uma barbada. Ao contrário, a aprovação de apenas 9% mostra que as dificuldades são enormes. A seu favor existe um fator de grande importância que Cristovam Buarque não contou, o apoio da presidente Dilma Roussef e a importância estratégica do governo de Brasília para a administração federal.

     

     

    Fonte: Estação da Notícia

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