PADRES E VÍTIMAS FAZEM JOGO DE ESCONDE-ESCONDE COM GRAVAÇÕES

Responsável pela apuração de supostos crimes de pedofilia e abuso sexual entre padres e ex-coroinhas de Arapiraca (AL), o promotor José Alves de Oliveira Neto afirma que o caso deu início a um “jogo de esconde-esconde” entre defesa e vítimas que dificulta a atuação das autoridades envolvidas nas investigações.

Segundo ele, a defesa dos párocos apresentou apenas recentemente à Promotoria e à polícia um áudio que supostamente mostrariam os acusadores tentando extorquir os religiosos. “Há uma representação por crime de extorsão em que a defesa trazia o áudio que até então não tinha sido apresentado. E eu disse: ‘por que não me apresentaram antes?’. E o advogado disse que era uma estratégia da defesa. Quer dizer, é um desespero, um jogo de esconde-esconde que a gente fica sem saber o que adotar”.

O advogado Daniel Fernandes, que fez a queixa-crime, diz ter o material em mãos que confirma que os párocos foram extorquidos. Os rapazes negam e dizem que a ligação interceptada foi editada.

O promotor disse ter tido conhecimento das acusações de pedofilia em 4 de outubro do ano passado. Desde então, ele pediu que o Grupo Estadual de Combate ao Crime Organizado tomasse depoimentos dos envolvidos e solicitou a abertura de inquéritos policiais para apurar tanto a suspeita de pedofilia como de extorsão.

“Uma delegada está tentando ouvir várias pessoas e investigando possíveis novos envolvimentos”, disse.

Segundo Oliveira Neto, a ida da CPI da Pedofilia do Senado para Arapiraca para tomar depoimento dos suspeitos e possíveis vítimas, na última semana, “deu um impulso na coleta de novas provas”. “Até então ninguém sabia ninguém viu. Mas um dos padres [Edílson Duarte] pediu delação premiada e começou a dizer coisas importantes”, analisa.

O promotor concorda que os meninos que se dizem vítimas dos religiosos são tratados com hostilidade na cidade, mas diz que não pode solicitar segurança policial à Justiça porque este pedido foi feito por eles à própria CPI. “O comandante do batalhão diz que não pode dar segurança aos meninos. Eles ficam andando pra tudo quanto é canto e não tem efetivo pra isso. Agora, esse assunto não passou pelo juiz e, se o batalhão não pode dar a segurança, deve prestar essas informações ao Senado, porque a decisão partiu do Senado”, diz.

Segundo ele, o monsenhor Luiz Marques Barbosa, flagrado no vídeo praticando sexo com um garoto de 20 anos, “tem prestígio imenso” na cidade, o que explicaria a hostilidade contra os acusadores. “Eles filmaram e ainda tem muita gente que diz até hoje que as imagens foram montadas. Até o padre confessou e o povo diz que não é. Agora, os fatos são graves, mas as pessoas confundem com fanatismo religioso. Um padre até disse que estava sendo crucificado como Jesus Cristo. Pra mim isso é falar o Santo Nome em vão, não é?”

O promotor disse ainda que os outros acusados, o monsenhor Raimundo Gomes e o padre Edílson Duarte, “tinham o mesmo comportamento” que o pároco flagrado no vídeo. “A meta era a mesma, o abuso sexual. Não tem vídeo, mas tem testemunhas”.

De acordo com o promotor, até mesmo as famílias das supostas vítimas ajudaram, indiretamente, a acobertar os abusos. “Os meninos dizem que contavam aos pais que estavam sendo abusados e os pais diziam que estavam mentindo. Quando se afastavam dos padres, os padres diziam na igreja que estavam indo pro caminho do Mal. Você vê até que ponto estavam se locupletando. O cara querer se afastar e a família mandava voltar porque padre estava acima de qualquer suspeita”.

Fonte: iG

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