PM diz ter levado dinheiro em carro blindado para escritório de Yunes

SÃO PAULO, SP, 21.06.2013: EVENTO-SP - O vice-presidente Michel Temer na festa de 50 anos de casados do advogado José Yunes com Célia Yunes. (Foto: Zanone Fraissat/Folhapress)

Em depoimento à PF, militar contou ter estado em prédio do advogado, amigo de Temer, pelo menos duas vezes, “com absoluta certeza”

ZANONE FRAISSAT/FOLHAPRESS
Ana Helena Paixão

O policial militar Abel de Queiroz, de 48 anos, afirmou em depoimento à Polícia Federal (PF) que já esteve com um carro blindado no endereço do escritório do advogado José Yunes, no Jardim Europa (SP), para a entrega de dinheiro em espécie. Yunes é amigo íntimo do presidente Michel Temer e foi assessor especial do emedebista no Palácio do Planalto. Os detalhes do depoimento do PM foram divulgados pelo jornal Folha de São Paulo.

Segundo a reportagem, a oitiva, mantida em sigilo, aconteceu em 28 de março. O PM teria sido ouvido como testemunha no inquérito que apura o pagamento de R$ 10 milhões, pela Odebrechet, a campanhas do MDB. Supostamente, a propina teria sido acertada com o próprio Temer, no Palácio do Jaburu, em 2014. À época, o político era vice-presidente da República. O político nega.

José Yunes virou alvo nas investigações da Lava-Jato envolvendo o presidente da República em razão de uma suposta propina ao presidente, no valor de R$ 1 milhão, negociada via seu escritório no Jardim Paulista. O jornal teve acesso à transcrição do depoimento e informa que, durante a oitiva, Abel de Queiroz afirmou, “com absoluta certeza”, ter ido ao menos duas vezes ao endereço comercial, entre 2013 e 2015, a fim de entregar valores em espécie. Ele esteve no local acompanhado pelos investigadores da Lava Jato.

Ainda conforme a Folha, Abel trabalhou como motorista para a Transnacional, transportadora de valores contratada por empresas alvo da Lava Jato, entre elas a Odebrecht. Segundo o PM revelou aos federais, cada uma das remessas por ele acompanhadas tinha R$ 300 mil como quantia limite, e a entrega era feita mediante senha definida previamente. No entanto, disse, em 2014, ano de eleições, o teto teria aumentado, conforme contaram outros funcionários da empresa à PF.Queiroz explicou ter dirigido o veículo blindado na Transnacional e que, em cada uma das ocasiões, outros agentes, identificados por ele como Oliveira e Alves, levaram os valores para dentro do imóvel. Disse ainda não ter contato com os envolvidos nos pagamentos e não lembrar as pessoas indicadas para receber o dinheiro, se o próprio Yunes ou sua secretária, Shirley.

O depoimento corrobora acusação apresentada em 21 de março pelo Ministério Público Federal (MPF) contra Yunes e outros aliados de Temer, segundo a qual o advogado atuou mais de uma vez como arrecadador de recursos ilícitos para o presidente – aponta a Folha de São Paulo. A denúncia contra os acusados já foi aceita pela Justiça Federal em Brasília, resultando na abertura de ação penal contra o advogado e outro amigo de Temer, o coronel João Batista Lima Filho, por organização criminosa.

“Mula involuntária”
“Yunes admite ter se envolvido em uma única operação, na qual teria atuado como ‘mula involuntária’ do ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, ao receber um pacote cuja origem, o destino e o conteúdo, segundo sua versão, desconhecia na época”, detalha a reportagem.

O texto ressalta que o operador Lúcio Bolonha Funaro, delator da Lava Jato, hoje em prisão domiciliar, disse em seus depoimentos ter buscado R$ 1 milhão no escritório de Yunes em setembro de 2014, a pedido do ex-ministro Geddel Vieira Lima, mandando entregar a quantia a ele, em seguida, em Salvador (BA). Segundo Funaro, Yunes sabia se tratar de dinheiro. Além disso, planilhas do setor de operações estruturadas, o departamento de propinas da Odebrecht, teriam registrado a remessa desse valor ao escritório de Yunes em 4 de setembro daquele ano.

Outro lado
À reportagem da Folha, o advogado de Yunes, José Luís de Oliveira Lima, afirmou em nota que seu cliente, “com mais de 50 anos de advocacia, jamais se prestou a desempenhar o papel de intermediário”. “Quanto às afirmações de Lúcio Funaro, o seu histórico demonstra que sua fala não merece qualquer credibilidade”, acrescentou.

Segundo o advogado de Temer, Brian Alves Prado, a defesa do presidente não teve acesso ao depoimento e, por isso, não poderá se pronunciar sobre o assunto.

Em fevereiro do ano passado, Temer admitiu em nota ter pedido “auxílio formal e oficial” à Odebrecht na campanha de 2014, mas ressaltou não ter autorizado ou solicitado que “nada fosse fosse feito sem amparo nas regras da Lei Eleitoral”.

A Folha não localizou representantes da Transnacional.

Fonte: Metrópoles

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