Ação foi liberada pelo GDF há duas semanas; carros não têm identificação.
Casa Militar diz ver risco à secretária por ela ser civil e cuidar de presídios.
O governo do Distrito Federal disponibilizou carros oficiais descaracterizados da Secretaria de Segurança Pública e membros da corporação para fazer o transporte da secretária da pasta, Márcia de Alencar, e de familiares dela. Há cerca de 15 dias, PMs designados pela corporação dirigem os carros que levam e buscam os filhos de Márcia para o colégio.
O custo da medida não foi informado. O chefe da Casa Militar, coronel Cláudio Ribas, afirmou que o uso da escolta foi autorizado após um estudo solicitado pela própria secretária, que também é responsável pelo sistema penitenciário do DF desde fevereiro.
“A secretária fez uma consulta para que a gente avaliasse a situação dela e dos filhos, principalmente. O decreto fala em ‘autoridades designadas’, não diz que isso vale só para governador e vice. Depois de ela ter assumido o presídio, a gente entendeu que ela corria risco e não teria essa tranquilidade para trabalhar”, afirmou Ribas.
Presente nesta quarta a uma homenagem a policiais militares promovidos, Márcia não quis comentar o caso, revelado pelo site “Metrópoles”, e disse apenas que o questionamento da medida se devia a “questões de gênero”. O chefe da Casa Militar afirmou que o fato de ela ser a primeira secretária mulher a assumir a pasta pesou a favor da decisão.
“Ela não é policial, civil ou militar. Não tem essa capacidade de reação que nós temos. A gente percebeu a necessidade, sim, porque os filhos poderiam correr risco de alguma represália por iniciativas que ela tome, seja em relação ao sistema prisional ou ao nosso dia a dia”, diz.
O governador Rodrigo Rollemberg reforçou a mesma tese em conversa com jornalistas, minutos depois. “É absolutamente razoável que uma secretária de Segurança Pública mulher, civil, que dirige o sistema prisional tenha algum tipo de segurança para seus familiares, especialmente os menores de idade”, declarou.
O coronel Ribas afirma que, até esta quarta, nenhuma ameaça tinha sido identificada de fato. A medida, segundo ele, é preventiva. “A gente não pode esperar que um fato ocorra, mas ocorre em todos os lugares do mundo. É normal que as autoridades, dependendo do posto, se houver uma postura mais incisiva em relação à criminalidade, recebam esse tipo de ameaça”, diz.
Com o parecer favorável da Casa Militar, ficou a cargo da própria Secretaria de Segurança Pública montar o esquema de escoltas. Atualmente, o próprio PM responsável pela segurança também dirige o veículo descaracterizado, e precisa estar atento ao trânsito e a possíveis retaliações ao mesmo tempo. Ribas diz que a decisão é recente e, por isso, o esquema ainda pode ser avaliado.
Além de Márcia, apenas Rollemberg e o vice-governador, Renato Santana, têm escolta militar permanente. A presidente da Agefis, Bruna Pinheiro, chegou a sofrer ameaças verbais no ano passado por causa de ações de desocupação de áreas públicas, mas, segundo a Casa Militar, o órgão não fez consulta semelhante.
O G1 questionou o Palácio do Buriti e a pasta de Segurança sobre o custo da medida e sobre o impacto causado pela retirada desses carros e militares do policiamento ostensivo, mas não recebeu retorno até a publicação desta reportagem. O GDF também não informou se os carros estão sujeitos ao racionamento de combustível determinado no início do mês para os veículos administrativos da PM, e não disse se atividades culturais e de lazer da família também são acompanhadas pela escolta.